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Estado de Minas

Mãos que tecem a fé

Grupo de voluntários católicos confecciona tapete ligando as igrejas da Boa Viagem e São José para celebrar o Corpus Christi. Cerimônia relembra a Eucaristia na última ceia de Jesus


postado em 27/05/2016 00:12

Márcia Maria Cruz, Fernanda Ribeiro e Sandra Kiefer

 

Aos poucos, o cinza do asfalto da Avenida Afonso Pena, na Região Central de Belo Horizonte, ganhou ontem novo colorido. Foram 160 sacos de serragem, 300 quilos de sal e centenas de mãos voluntárias riscando de giz os símbolos litúrgicos, preenchendo-os de cores e também de significado, em comemoração a Corpus Christi. Mais do que um feriado santo, a celebração é uma referência à quinta-feira santa para a Igreja Católica, quando foi instituída a Eucaristia, durante a última ceia de Jesus Cristo com os apóstolos.

O tapete artesanal interligou as igrejas da Boa Viagem e São José, tecendo um percurso de mais de um quilômetro ao longo da Afonso Pena, uma das principais avenidas do Centro da capital. Para participar da confecção do tapete, as amigas Ana Karoline Sena, de 19 anos, e Sara Gonçalves, de 20, começaram o trabalho à meia-noite de anteontem, quando a BHTrans liberou uma faixa para os fiéis riscarem os desenhos, antes de ser enchidos com serragem e outros materiais reciclados.

“É a primeira vez que participo. Estou adorando. A igreja dá todas as condições para pormos em prática nossa criatividade”, diz Sara. As meninas vêm de famílias do Vale do Jequitinhonha, Setubinha e Rio Vermelho. “Em Rio Vermelho, era serragem em pó que usávamos no contorno e pintávamos com cal”, lembra Sara. Ana participa pelo segundo ano. “Durante a semana, a gente vem para pintar a serragem e o sal. Na noite de ontem (quarta-feira), riscamos. Hoje (ontem), às 6h, já estávamos de pé para fazer o tapete”, diz Ana.

Pároco da Boa Viagem, o padre Nelson Antônio Linhares diz que a proposta é resgatar a tradição dos tapetes tão forte do interior de Minas. “Colocamos tapete em nossa casa como forma de receber bem quem a gente ama. Colocamos o tapete na Afonso Pena para receber Jesus no Centro da cidade para que ele transforme o comércio, a prefeitura, o Parque Municipal. É uma forma de Deus estar presente”, comparou.

Os fiéis, inclusive as crianças, aprovaram a ideia. O pequeno João Antônio Cardoso Catapreta, de 6 anos, que estuda em colégio católico, segundo revelaram os pais Gerlândia e Cícero, achou bonito o tapete que contava a história de como nasceu Jesus. “Já vi também na cidade da minha avó (Montes Claros). Os dois são lindos”, elogiou o menino.

Depois de terminados os trabalhos,  centenas de fiéis acompanharam, a partir das 16h, a missa especial de Corpus Christi, celebrada pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. A cerimônia ocorreu em palco montado ao ar livre, no adro da Catedral da Boa Viagem. Durante a homilia, o religoso relembrou o compromisso dos cristãos com a lógica de partilha e da doação. “Se não a aprendemos (a lógica da partilha), provocamos os descompassos que pesam sobre os homens envolvidos em escândalos de corrupção que geram as crises econômicas, produzindo mais de 11 milhões de desempregados”, alertou.

A missa acabou se prolongando com o ritual da comunhão. Anteriormente programada para terminar às 17h30 a procissão iniciou-se já à noite, seguindo pela Avenida Afonso Pena até a Igreja de São José, na Praça Sete, restaurada em suas cores originais. Com velas acesas, os fiéis saíram em procissão pelo Centro, que teve o trânsito temporariamente interrompido nos dois sentidos, provocando engarrafamento. “Não perco as procissões, que são uma das mais lindas tradições da fé católica, pois acolhem a todos, voltados para Deus, de coração aberto e com bons propósitos”, definiu a assistente social Alcina Maria Borges, de 65, que também estuda artes visuais. Ela aproveitou a celebração para enviar fotos para outros estados e países dos motivos religiosos: “Além do mais, é lindo!”.

MONTES CLAROS Centenas de fiéis participaram de uma missa campal em frente à Matriz de Nossa Senhora e São José, em Montes Claros, na tarde de ontem A celebração foi presidida pelo arcebispo metropolitano de Montes Claros, dom José Alberto Moura, com participação de vários padres.

Por volta das 17h30, os fiéis saíram em procissão em direção à Catedral de Nossa Senhora Aparecida. Eles passaram pela Praça Doutor Chaves e pelas ruas Doutor Veloso e Dom Pedro II. As ruas foram decoradas com tapetes feitos de tinta, serragem e material reciclável.

As peças foram confeccionadas por grupos de jovens. Também foram realizadas procissões em outras paróquias da cidade. (Colaborou Luiz Ribeiro)


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