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Estado de Minas

Parte dos donativos de Mariana pode ir para vítimas da chuva no Sul

Voluntários sugerem que sobra de vestuário doado aos afetados por desastre ambiental seja repassada a desabrigados das chuvas. Ação depende de aval do MP


postado em 08/01/2016 06:00 / atualizado em 08/01/2016 07:35

Dois meses após a tragédia, donativos ainda se acumulam no Centro de Convenções de Mariana à disposição das vítimas(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Dois meses após a tragédia, donativos ainda se acumulam no Centro de Convenções de Mariana à disposição das vítimas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Mariana – Uma mão lava a outra – ainda mais em tempos de tragédias ambientais e temporada de chuvas. Levando ao pé da letra o dito popular e solidário, voluntários que atuam no recebimento de doações e distribuição às vítimas do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, vão sugerir ao prefeito Duarte Júnior que envie parte excedente, especialmente roupas, aos desabrigados dos fortes temporais ocorridos nos últimos meses no Rio Grande do Sul e outros estados do Sul do Brasil. A proposta será levada na próxima semana ao chefe do Executivo municipal, que, se aceitá-la, precisará obter o aval do Ministério Público de Minas Gerais e das famílias de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e outras localidades atingidas pela avalanche de lama vazada da estrutura da mineradora Samarco.

Além da doação de mais de R$ 1 milhão em dinheiro, feita em depósitos médios de R$ 50 e R$ 100, os brasileiros enviaram 180 toneladas (t) de alimentos, 300 mil litros de água, centenas de calçados e 200t de roupas de homens, mulheres e crianças. De acordo com informações da prefeitura local, as roupas ocuparam três espaços, estando agora o último pela metade. No total, as doações ficaram em quatro galpões – três para armazenagem dos donativos e um para distribuição no Centro de Convenções. No auge da crise provocada pela descarga de lama da barragem no Rio Doce, galões de água recebidos em Mariana ajudaram a socorrer moradores de Resplendor, Governador Valadares, Aimorés e Belo Oriente, na Região Leste do estado.

Passados mais de dois meses da maior tragédia socioambiental do Brasil, quem chega ao Centro de Convenções, na Avenida Getúlio Vargas, fica impressionado com a organização: vestidos, calças compridas, camisas e outras vestimentas penduradas em cabides; e sapatos, sandálias, tênis e chinelos separados por sexo e tamanho. Antes de ser penduradas e ficar à disposição dos ex-moradores das comunidades destruídas, as peças passaram por uma triagem, de forma a eliminar o que não estava bom. Em apoio, muitas igrejas levaram peças para que pudessem ser lavadas e costuradas, retornando ao estoque de doação.

GRATIDÃO No dia a dia, o movimento é constante no Centro de Convenções, havendo muitos sapatos nas chamadas big bags (sacolas grandes), com capacidade para armazenar uma tonelada. Na tarde de ontem, ex-moradores de Bento Rodrigues, atualmente residindo em imóveis alugados pela Samarco em Mariana, percorriam os corredores em busca do “par perfeito”. Foi o caso de Gracíola Cristina Fernandes Sena, de 43 anos, mãe de quatro filhos e avó quatro vezes, que procurava uma sandália número 36. Olhando os modelos, Gracíola disse que só tem a agradecer às pessoas que se sensibilizaram com a situação e enviaram donativos.

Com os olhos ainda machucados pela tragédia e o sentimento de que a vida precisa seguir, em especial pela família numerosa, Gracíola contou que sua casa ficava numa parte mais alta de Bento Rodrigues, mas, devido à terra arrasada na qual o subdistrito se tornou, foi obrigada a deixar o lugarejo para sempre. Na memória, está a lembrança da netinha Emanuelly Fernandes, de 5 anos, chamada carinhosamente de Manu. A menina, filha de Pâmela, grávida de seis meses, foi encontrada morta nas margens de um rio em Ponte de Gama, a 100 quilômetros de Bento Rodrigues, cinco dias depois da catástrofe.

Já Terezinha Maria dos Santos, de 62, mãe de quatro filhos e com dois netos, não foi tão feliz na busca. “Para mim é mais difícil, pois calço 40”, afirmou Terezinha, lembrando ser raro esse tamanho de pé feminino. Ao avistar um tamanco, comentou que tal calçado provoca dor nas pernas e um chinelo branco tinha aspecto muito masculino. “Não tem jeito de encontrar um par...”, afirmou.


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