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Estado de Minas DO VERDE DA ESPERANÇA AO AMARELO DO ALERTA

Período chuvoso recupera vegetação destruída por queimadas na Grande BH e no interior

Especialistas alertam: restauração total consome muito tempo e às vezes danos são irreversíveis. Estatísticas evidenciam urgência da preservação


postado em 02/11/2015 07:00 / atualizado em 02/11/2015 07:30

Vegetação renasce nas serras do Curral e do Rola-Moça (dir.), que cercam BH e estão entre as mais afetadas pelo fogo: resgate de todo o ecossistema, incluindo a fauna, é lenta(foto: Jair Amaral e Euler Júnior / EM / D.A Press)
Vegetação renasce nas serras do Curral e do Rola-Moça (dir.), que cercam BH e estão entre as mais afetadas pelo fogo: resgate de todo o ecossistema, incluindo a fauna, é lenta (foto: Jair Amaral e Euler Júnior / EM / D.A Press)

Nas áreas de conservação ambiental mineiras que arderam em chamas nos últimos dias da estação seca, as primeiras chuvas do período trouxeram esperança tingida de verde e a expectativa de que a fauna, assim como a flora, possam renascer em meio às cinzas. Mas a recuperação aparentemente rápida representada pelos novos brotos está longe de retratar uma realidade ambiental. A revitalização de um ecossistema destruído pelo fogo pode demorar anos, de acordo com especialistas, e nem assim representar volta ao estado original. Um alerta para a necessidade de conservação em um estado que, de janeiro a outubro, registrou 8.849 focos de fogo. Nas unidades de conservação e entorno, foram debelados 755 incêndios.


O ano começou com os focos de calor batendo as médias registradas nos últimos cinco anos (veja quadro). A partir de fevereiro os registros recuaram, permanecendo abaixo da média – embora próximos dela – até setembro. No mês passado, porém, o número de focos disparou, ficando praticamente 40% acima da média. O único alento trazido pela distribuição das queimadas neste ano é que grande parte delas ocorreu em unidades de conservação ambiental, que, por serem protegidas, apresentam perspectiva melhor de revitalização natural. Ainda assim, o prejuízo em uma situação dessas é incalculável, alertam especialistas como a professora  Cláudia Guimarães Costa, do curso de ciências biológicas do Centro Universitário Newton Paiva. “Essa recuperação pode levar muitos anos, principalmente quando ocorre em região de mata nativa”, diz.


Ela explica que o cerrado é um bioma afetado naturalmente por incêndios, justamente por ser um ambiente mais seco. “Porém, eventos que se davam com frequência menor têm ocorrido em intervalos cada vez mais curtos, o que dificulta a recuperação natural.” Plantas que lançam sementes no solo, como as sempre-vivas, são as espécies que se recuperam mais rapidamente. Outras só voltam a brotar em um estágio secundário, depois que o solo também tem recompostos os níveis de nutrientes.


O professor João Renato Stehmann, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), reforça o alerta, destacando as alterações no ambiente, como o empobrecimento da diversidade natural. “A recuperação nunca é igual e a tendência é de perda de espécies. Algumas paisagens nunca voltam ao local queimado”, afirma. Entre os pontos mais afetados pelas chamas ele cita as serras do Curral, em Belo Horizonte, e da Moeda, na região metropolitana. “As plantas brotam com folhas novas, retomando a cor da paisagem, o que nos dá a impressão de recuperação, mas não vemos biologicamente o que ocorreu de verdade.”


De acordo com Stehmann, algumas populações de plantas, como as canelas-de-ema, endêmicas do Rola-Moça, têm sido drasticamente reduzidas e, em alguns locais, já nem existem. “Pode demorar anos e nunca se reconstituir da mesma forma. Em alguns casos, é preciso intervenção com reintrodução da espécie, uma forma de enriquecimento do solo, mas o custo é alto e nem sempre há sucesso, porque as plantas têm especificidades”, diz.


EMERGÊNCIA
O mês de outubro teve o maior número de focos de incêndio no estado (3.680), de acordo com boletim da Força-Tarefa Previncêndio, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Ao longo de todo o ano, até o dia 30 do mês passado, foram registrados 8.849 focos. As unidades de conservação foram atingidas por 755 incêndios, 506 dentro dessas áreas e o restante no entorno.


No mês passado, o governador Fernando Pimentel publicou decreto de emergência e anunciou a liberação de R$ 8 milhões para combater focos no estado. O objetivo era apressar a compra de maquinário e insumos, o aluguel de aviões e outras ações emergenciais, como locação de caminhões-pipa, aquisição de equipamentos de proteção individual (EPIs) para os funcionários das unidades de conservação e outros instrumentos de combate às chamas. Com a chegada das primeiras chuvas, houve nos últimos dias queda no número de ocorrências de incêndio em todo o estado.


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