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Estado de Minas

Médicos e pacientes da saúde pública sofrem com falta de pessoal e insumos

A mesma crise que castiga pacientes submete profissionais a rotina industrial de consultas. Apesar de sobrecarregado, sistema público vive paradoxo: número de atendimentos caiu


postado em 21/06/2015 06:00 / atualizado em 21/06/2015 11:25

Passar pelo portão de unidades não é garantia de atendimento de qualidade: faltam médicos e os que existem reclamam da estrutura(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS )
Passar pelo portão de unidades não é garantia de atendimento de qualidade: faltam médicos e os que existem reclamam da estrutura (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS )
O termômetro marcava 39,5 graus enquanto o pequeno Bruno Souza, de 4 anos, esperava na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Bairro 1º de Maio, na Região Norte de Belo Horizonte. Foram cinco horas ardendo em febre no colo do pai, o padeiro Cesar de Souza, de 35, até ser medicado. Nesse meio tempo, foi o próprio pai quem teve de dar dois banhos, para baixar a temperatura e evitar convulsão. Dentro de um dos consultórios da unidade, a médica, sobrecarregada, reclama que a equipe faz o que pode e não dá conta de todos os que chegam. Há 20 anos na função, ela conhece bem a rotina: “Temos de nos desdobrar, porque as equipes estão sempre desfalcadas. Faltam medicamentos e constantemente os aparelhos para exames estão quebrados”, conta ela, que prefere não se identificar. O caso do menino Bruno é cruel, mas está longe de ser o mais grave: “Há pouco tempo, uma criança deu entrada com meningite e não havia a medicação indicada. Ela esperou entre oito e 10 horas para ser transferida. Morreu. Fica a pergunta se essa morte não poderia ter sido evitada”, diz a mesma profissional.


Na unidade – e em várias outras do Sistema Único de Saúde (SUS) estado afora –, doutor e paciente são os dois lados da mesma rotina de escassez que gera sofrimento, revolta e impotência. Às vezes, estão separados apenas por um biombo: enquanto doentes mofam na fila, dentro dos consultórios profissionais de saúde enfrentam uma sequência de atendimentos quase industrial.

Segundo o presidente da Associação Médica de Minas Gerais, Lincoln Lopes Ferreira, profissionais da capital relatam chegar a atender 10 pessoas por hora, enquanto o ideal seriam, no máximo, cinco. “O profissional está quase robotizado e isso gera um risco enorme de erro, além da total perda dos significados éticos da profissão”, afirma.


Curiosamente, o quadro de penúria, com doentes esperando muito, equipes trabalhando demais e unidades superlotadas, se reflete em um paradoxo: a queda do número de atendimentos. Nas oito UPAs de Belo Horizonte, o total anual de atendidos passou de 614,9 mil para 570,1 mil, redução de 7,29% em cinco anos (entre 2010 e 2014). O movimento é ainda mais acelerado nos 13 hospitais públicos que atendem casos de urgência e emergência no estado, gerenciados pela Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig). Em 2010, 496,6 mil pessoas foram socorridas nessas unidades, enquanto os registros de 2014 fecharam em 328,7 mil, 33,82% a menos. Especialistas afirmam que os números são um atestado de que a saúde pública está no vermelho.

 


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