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Estado de Minas VÍDEOS FLAGRAM CRIMES

Comerciantes às margens de BRs desistem do lucro noturno para escapar dos assaltos

Postos de combustíveis e pontos comerciais fecham as portas mesmo após investimentos em seguranças. Apesar de rondas da PM, ladrões driblam vigilância


postado em 10/10/2014 06:00 / atualizado em 10/10/2014 12:39

Segurança ilusória: viatura da Polícia Militar parada em posto de Sabará dava alívio a funcionários, mas, pouco depois que policiais partiram, ladrões agiram novamente(foto: Marcos Vieira/EM/D.A.Press)
Segurança ilusória: viatura da Polícia Militar parada em posto de Sabará dava alívio a funcionários, mas, pouco depois que policiais partiram, ladrões agiram novamente (foto: Marcos Vieira/EM/D.A.Press)

Ataques de ladrões ao longo das estradas mineiras têm levado comerciantes a abrir mão do lucro noturno, mesmo após investir em equipamentos de segurança. Depois de muito prejuízo e de uma série de assaltos que causam pânico entre funcionários, muitos deles decidiram baixar as portas após o entardecer. Quem resiste reclama da sensação de medo e cobra medidas efetivas na prevenção e investigação dos crimes e na prisão dos bandidos. Enquanto uma solução definitiva não vem, trabalhadores são rendidos e obrigados a entregar todo o dinheiro do caixa, sob a ameaça de armas de fogo. No posto de combustíveis Ravena, às margens da BR-381, em Sabará, por exemplo, já foram nove roubos somente este ano. “A média é de um por mês. O efeito psicológico negativo que fica é muito ruim, sem falar no prejuízo”, afirma o dono do posto, de 54 anos.

A possibilidade de interromper o funcionamento à noite – atualmente o posto fica aberto 24 horas por dia –, significaria perda de mais de um terço do faturamento, nos cálculos do gerente do estabelecimento. Mas, depois da onda de assaltos à mão armada, dois inclusive no mesmo dia, ele não consegue mais convencer funcionários a continuar trabalhando no período da noite e madrugada. O gestor conta que, dos nove roubos deste ano, quatro foram praticados pela mesma dupla, já identificada e conhecida da Polícia Militar. No entanto, os suspeitos circulam livremente na área de Ravena.

Mas o problema está longe de ser localizado. Prova disso é que em Cachoeira do Campo, Distrito de Ouro Preto, na Região Central, pelo menos sete estabelecimentos às margens da BR-356 (Rodovia dos Inconfidentes) foram alvo de criminosos. Agora, alguns fecham as portas às 17h. Na BR-040, saída para o Rio de Janeiro, donos de lanchonetes e restaurantes que encerram o atendimento entre as 22h e 23h, em Nova Lima, só o fazem devido ao esquema de rondas da Polícia Militar. Mesmo assim, somente neste ano foram 14 roubos em estabelecimentos do Bairro Jardim Canadá, segundo a própria PM.

Um dos funcionários do Posto Ravena, em Sabará, já pensa em se mudar do bairro em que trabalha há 21 anos, pois teme que, além dos constantes assaltos ao estabelecimento, ele e sua família sofram retaliações de criminosos. “Os policiais militares sabem quem são, pois já viram nas imagens, mas, apesar do registro de boletins de ocorrência, as investigações não conseguem alcançar a dupla”, lamentou. Segundo ele, no período noturno o movimento de caminhoneiros e carros particulares gera 35% do faturamento total. Mesmo assim, foi tomada a decisão de suspender a venda de gasolina nesse horário, pois a maior parte dos valores em dinheiro vem desse tipo de cliente.

Veja flagrantes de assaltos a um estabelecimento




Na noite do dia 3, uma sexta-feira, a equipe de reportagem do Estado de Minas circulou pela BR-381 e esteve no Posto Ravena. Por ficar mais distante da área habitada ao longo do trecho, o estabelecimento parece ser alvo fácil. Por isso o  caixa central funciona em local cercado de grades e com vidro blindado. Há câmeras espalhadas por todo o posto, ponto de parada de caminhoneiros. Mas nem isso intimida os ladrões. Mesmo com a presença de uma viatura da Polícia Militar no local, com giroflex ligado, eles agiram com violência, momentos depois que os policiais deixaram o estabelecimento.

“Duas horas depois que vocês saíram daqui, a dupla de assaltantes chegou armada. Os dois frentistas do lado de fora não puderam fazer nada. Os ladrões foram em direção ao caixa e atiraram pelo menos quatro vezes pela abertura abaixo do vidro blindado. O funcionário teve que entregar o dinheiro, pouco mais de R$ 2 mil, e ainda teve o relógio roubado. Os dois homens invadiram também a lanchonete e saquearam o caixa”, contou um dos trabalhadores.

Momentos antes do ataque, a caixa da lanchonete, há um ano trabalhando no local, revelou que já havia enfrentado dois assaltos, mas que seu colega de turno tinha sido alvo de mais roubos à mão armada. “Policiamento aqui é um milagre”, afirmou ela, sentindo-se mais segura naquela noite, pois dois militares da 15ª Companhia Independente de Sabará estavam no local. “Dá medo de trabalhar neste horário, porque os ladrões chegam armados e ameaçando”, contou, momentos antes de viver mais uma madrugada de terror.

Na BR-356, a comerciante Mônica Rocha, que atua no ramo de floricultura, não teve que encarar bandidos armados. Nem por isso deixou de ter prejuízo com criminosos: “Em uma só madrugada de julho tivemos um caminhão, um trator, bomba de irrigação e outros equipamentos roubados da fazenda em que cultivamos plantas ornamentais. Aqui em Cachoeira do Campo os comerciantes estão fechando seus estabelecimentos assim que escurece. A polícia começou a fazer rondas depois dos ataques, mas ninguém foi preso”, disse ela. O major Cássio Soares, comandante da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), garante que duas viaturas fazem ronda 24 horas no trecho da BR-356 entre o Condomínio Alphaville e a cidade de Mariana, percurso de 246 quilômetros ida e volta.

Na BR-040, entre Belo Horizonte e Nova Lima, no trevo de acesso a Ouro Preto, dois restaurantes funcionam até as 22h, e uma lanchonete vai até as 23h, contando com rondas da PM no Jardim Canadá. Outros dois restaurantes e uma lanchonete no trecho fecham antes das 20h. Um deles fica no Posto Mutuca, onde o novo dono preferiu não manter o comércio de alimentos aberto 24 horas, como ocorria antes. Os frentistas do posto dizem que os assaltos não são raros, quase sempre praticados por homens armados e em motos.

 

Funcionário mostra uma das balas disparadas contra sala blindada do caixa: adeus a 35% das vendas (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press )
Funcionário mostra uma das balas disparadas contra sala blindada do caixa: adeus a 35% das vendas (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press )

Polícia diz precisar de maior efetivo

O isolamento do comércio às margens das rodovias e a facilidade de fuga que as estradas oferecem são fatores apontados por comandantes de companhias da Polícia Militar como facilitadores para os assaltos. A corporação, responsável pela segurança desses locais em território urbano – apesar de a jurisdição das estradas federais ser da Polícia Rodoviária Federal (PRF) –, reconhece a fragilidade em relação à segurança e dificuldades com o efetivo.

Na área de Ravena, em Sabará, por exemplo, o comandante da 15º Companhia Independente, tenente-coronel Agnaldo Lima de Barros, afirma que precisa de reforço de 40% no quadro de policiais, pois tem responsabilidade pela segurança em outros pontos da cidade. O policial reclama ainda do clima de impunidade, já que, em alguns casos, assaltantes são presos e dias depois estão de volta às ruas.

Em Nova Lima, a companhia que atende a uma população de 20 mil moradores da região também reivindica maior contigente. “Precisamos de mais de 40 policiais para atender de forma ideal”, afirma o subcomandante da 1ª Companhia Independente de Nova Lima, capitão Bruno Assunção Coelho.

A atuação da Polícia Rodoviária Federal nas margens das rodovias só ocorre em localidades rurais e áreas de interesse da União. O combate, a prevenção e o registro dos crimes ocorridos no interior dos estabelecimentos comerciais ficam à cargo da Polícia Militar. A investigação é de competência da Polícia Civil, que informou apurar todos os casos. Segundo a corporação, os assaltos ao Posto Ravena estão sendo investigados.


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