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Estado de Minas

Repúdio e denúncia contra violência sexual crescem na internet

Jornalista cria movimento "#Eu não mereço ser estuprada" na internet e ganha milhares de adeptos, que usam canal para relatar abusos e expor indignação com resultado de pesquisa


postado em 01/04/2014 06:00 / atualizado em 01/04/2014 07:33

Nana Queiroz iniciou protesto no Facebook e tem quase 41 mil seguidores(foto: Facebook/Reprodução da Internet)
Nana Queiroz iniciou protesto no Facebook e tem quase 41 mil seguidores (foto: Facebook/Reprodução da Internet)
Caladas desde a infância e a adolescência, mulheres vítimas de estupro, que sentiam vergonha de expor o próprio caso diante da cultura machista brasileira, encontraram um canal aberto para tirar o nó da garganta. O movimento “#Eu não mereço ser estuprada”, criado pela jornalista de Brasília Nana Queiroz e outras 13 participantes, no último sábado, registrava ontem 40,4 mil adesões na internet. São relatos corajosos de mulheres com pouca ou nenhuma roupa, anônimas ou famosas, magras ou cheinhas, exibindo no próprio corpo os dizeres da campanha e suas derivações, que já recebeu o apoio de artistas, como o da cantora baiana Daniela Mercury e da funkeira Valeska Popozuda.

“Eu sou minha”, “Tire o seu machismo do meu corpo”, “Meu corpo, minhas regras”, “Eu e minha filha não merecemos ser estupradas” são alguns dos “gritos” publicados pelas apoiadoras do movimento e até por alguns homens, que saíram em defesa das vítimas.

“Os crimes não acontecem no beco escuro ou no ponto de ônibus, mas sim no quarto ao lado, com a participação do próprio pai, do primo, de um amigo da família”, denuncia Nana Queiroz, que ouviu o depoimento de uma mulher abusada durante a vida inteira pelo próprio pai. Pela primeira vez, ela criou coragem para se abrir sobre o abuso.

A ação acontece após o resultado de uma pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que apontou que a maioria dos brasileiros acha que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Segundo o Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips), 65,1% das pessoas – incluindo homens e mulheres – concordaram com essa informação. Já 58,5% concordam com a afirmação “se mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”.

“Não tem a ver com a roupa, mas sim com a mentalidade das pessoas. A culpa é do estuprador e de uma sociedade doente que pensa ser normal culpar as vítimas”, defende Nana Queiroz. Ela lembra que, em um dos posts publicados na página, o uso de rímel em excesso foi acusado de ser provocar o aumento dos casos de estupro em mulheres de países islâmicos.

Paralelamente, a jornalista passou também a sofrer ameaças, em menor número, com a publicação de mensagens agressivas em defesa do crime de estupro. Um deles deixou a jornalista particularmente chocada: num perfil, que já foi apagado, um homem disse que já tinha cometido o crime e faria de novo. Ela decidiu dar queixa na Delegacia da Mulher. A Polícia Federal já está investigando o caso.

Laura Richardson relatou os abusos que sofreu dos 4 aos 9 anos (foto: Facebook/Reprodução da Internet)
Laura Richardson relatou os abusos que sofreu dos 4 aos 9 anos (foto: Facebook/Reprodução da Internet)
Três abusos

“Fui abusada dos     quatro aos nove anos e/ou conheço pessoas que foram”. Com este título e a própria foto, a psicóloga mineira Laura Louise Richardson, de 35 anos, publicou há um ano o corajoso relato dos abusos sofridos na infância por meio de uma rede social na internet. “Por mais que a criança seja vista e olhada, em algum momento ela fica exposta. Da primeira vez, minha avó precisou sair de casa e me deixou sozinha, aos 4 anos, com um pedreiro. Na outra, minha mãe me mandou comprar algo na mercearia e eu sofri abuso do próprio dono. Na outra, me deixaram dormir na casa de uma amiguinha com quem eu brincava e o pai era doente. Durante muito tempo não falei nada, por achar que eu devia ter feito algo para provocar isso. Hoje, consigo ter dó dos abusadores, que devem passar por um sofrimento horroroso e repetem algo que também sofreram na infância”, diz.

A repercussão foi tão expressiva que ela tentou fundar um grupo de apoio às vítimas de estupro em Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde mora atualmente. Dos mais de 20 relatos, porém, apenas três mulheres compareceram pessoalmente. “No sigilo do consultório, 80% dos casos que atendo revelam ter sido expostos à violência sexual. É uma pandemia silenciosa”, compara.


Proteção

ONDE PROCURAR AJUDA
 
Divisão da Mulher, do Idoso e da Pessoa com Deficiência

Rua Aimorés , 3.005, Barro Preto, Belo Horizonte

Telefone: (31) 3291-2931
 
Núcleo de Atendimento às Vítimas de Crimes Violentos (NAVCV)

Belo Horizonte

Av. Amazonas, 558 – 4° andar, Centro

Telefone: (31) 3270-3294

Horário de funcionamento: das 8h às 18h

Email: navcvbh@gmail.com

Montes Claros

Rua Tiradentes, nº 422 – Centro

(38) 3229-8515

Horário de funcionamento: das 8h às 18h

Email: navcvmoc@yahoo.com.br

Ribeirão das Neves

Rua José Bonifácio Nogueira, n° 130 – Bairro São Pedro

Telefone: (31) 3627-2570

Horário de funcionamento: das 8h às 18h

Email: navcv.rn@gmail.com

Governador Valadares

 Em processo de reabertura. Até o momento, não possui sede

Telefone: (31) 3270-3294

 E-mail: navcvbh@gmail.com

Fonte: Polícia Civil/MG

Apoio de Dilma

A presidente Dilma Rousseff demonstrou solidariedade à jornalista Nana Queiroz. A organizadora do protesto "#Eu não mereço ser estuprada”  foi hostilizada e ameaçada por pessoas na internet. "Por ter se manifestado nas redes contra a cultura de violência contra a mulher, a jornalista foi ameaçada de estupro (...) Nana Queiroz merece toda a minha solidariedade...", afirmou a presidente por meio de sua conta no Twitter. "O governo e a lei estão do lado de Nana Queiroz e das mulheres ameaçadas ou vítimas de violência", finalizou.


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