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Estado de Minas

Evolução do transporte coletivo em BH mostra uma sucessão de gargalos


postado em 09/11/2013 06:00 / atualizado em 09/11/2013 07:04

(foto: Arquivo EM- 1902)
(foto: Arquivo EM- 1902)

Não é de hoje que os problemas viários e de transporte público em Belo Horizonte são “do tamanho de um bonde”, como a população costumava se referir, nas primeiras décadas do século passado, às grandes questões que fugiam ao controle. Quem estava nas ruas da capital, na última quinta-feira, com chuva, engarrafamento monstro e obras, sabe bem disso e ainda vai ter muita história para contar. Mas desde 1902, quando foi inaugurada a primeira linha do velho veículo sobre trilhos na capital, até hoje, perto da inauguração do transporte rápido por ônibus, o BRT, foram muitos – e continuam sendo – os transtornos, esperas, apertos e sacolejos vividos pelos passageiros.

Na busca de soluções para a mobilidade urbana, houve, segundo historiadores, mais duas intervenções radicais, além da chegada dos bondes, que mexeram com a vida da cidade e, principalmente, os nervos dos moradores: o metrô, concebido no fim da década de 1970 e em movimento desde 1986, e o novo sistema de ônibus articulados, com previsão para começar a rodar em fevereiro. “As obras são necessárias, porém BH cresceu desordenadamente e ficou décadas sem elas. Os investimentos sempre ficaram aquém das demandas”, diz a pesquisadora da Fundação João Pinheiro Maria do Carmo Andrade Gomes, coordenadora do livro Omnibus: uma história dos transportes coletivos em BH. “Realmente, os impactos agora são muito maiores, devido à densidade urbana, à população de mais de 2 milhões de habitantes, aos prédios, carros e equipamentos públicos”, afirma.

Para entender a trajetória do transporte coletivo e as intervenções urbanas para atendê-lo, só mesmo voltando no tempo a bordo de estudos e pesquisas. Já previstos pela comissão construtora chefiada pelo engenheiro Aarão Reis (1853–1936), os serviços que prepararam BH para receber os bondes não despertaram tanta comoção quanto hoje, embora influenciassem no dia a dia da população. “A cidade era pequena, não tinha calçamento, as ruas e avenidas eram de terra”, conta historiadora Maria do Carmo Gomes, explicando que o sistema, ao contrário de outras cidades, era do tipo radial, ou seja, ia e voltava ao mesmo ponto, sem cruzamento das linhas.

A visão romantizada sobre os bondes passa longe da realidade daqueles tempos, pois segundo especialistas o sistema sempre foi precário, não servia à população como deveria, tudo bem diferente dos ônibus que entraram em massa no início dos anos 1960 e chegavam a qualquer lugar. “Os bondes movidos a eletricidade circulavam, na maioria, dentro dos limites da Avenida do Contorno, com exceções para os bairros Lagoinha, Cidade Ozanam, Cachoeirinha, Pampulha, Serra e Santo Antônio. O sistema demandava investimentos no setor elétrico e a gestão se alternava entre o poder público e concessionárias. Entre 1930 e 1940, ficou a cargo do Companhia de Força e Luz de Minas Gerais”, conta a pesquisadora.


(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)


CRESCIMENTO E CAOS

 

BH crescia rapidamente e pedia, cada vez mais, um transporte público eficiente para atender a população. Na década de 1940, a situação começou a se complicar. Em 1947, a capital ganhou autonomia administrativa, com o primeiro prefeito eleito – Otacílio Negrão de Lima, de 1935 a 1938 (primeira administração), que voltaria ao cargo de 1947 a 1951 (segunda gestão). “Naquela época o transporte estava defasado, muita gente vinha do interior e os carros e caminhões tomavam as vias públicas”, afirma o historiador Yuri Mello Mesquita, diretor do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), vinculado à Fundação Municipal de Cultura/Prefeitura de BH.

“O problema do trânsito se tornou muito sério, pois os moradores não estavam acostumados com carros. As calçadas viviam cheias e as pessoas não sabiam atravessar as ruas corretamente, uns até seguiam lendo livros, conversando, enfim, longe de ter consciência dos riscos. Sem legislação específica e fiscalização, os resultados eram improviso e atropelamentos”, conta Yuri. Os bondes também viviam cheios e passageiros viajavam nos estribos. “De vez em quando, passava um caminhão e ‘colhia’ cinco pessoas de uma vez”, diz o historiador, citando manchetes de jornais da época sobre mortes no trânsito. Chamada de “cidade dos buracos” e sem obras planejadas, BH chegou a tal confusão que Negrão de Lima fez consulta popular, com postos nas ruas, pedindo aos moradores para sugerir alternativas para a mobilidade urbana.

As respostas começaram a surgir em 1953, com o sistema de transporte por trólebus (ônibus elétricos). Segundo Maria do Carmo Gomes, BH, na época, teve um “ensaio” de transporte intermodal, com os trólebus, o trem suburbano, os bondes e os ônibus movidos a diesel, até então um serviço complementar aos bondes. “Mas os carros foram tomando as ruas, dentro da política desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek ( de 1956 a 1961), e puseram fim a essa perspectiva”, afirma a especialisita.

NOVOS TEMPOS

Com apenas uma linha que liga a Estação Vilarinho, em Venda Nova, em BH, à Estação Eldorado, em Contagem, na Grande BH, o metrô é operado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e tem perspectivas eternas de ampliação. As obras foram iniciadas em 1981, sendo as primeiras intervenções a implosão da Galeria Mauá, cujo espaço hoje é ocupado pela Estação Lagoinha. A primeira viagem comercial foi realizada em 1º de agosto de 1986, no trecho entre as estações Eldorado e Lagoinha.


(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


O advogado Jacob Máximo, de 70 anos, morador do Bairro São Bento, na Região Centro-Sul de BH, presenciou parte dessa história. “Era adolescente quando estudei no Colégio Batista. Pegava diariamente o bonde que fazia a linha Cidade Ozanam, que saía da Rua Caetés e seguia pela Rua Jacuí. Era bem rápido. Nos fins de semana, íamos, eu e meus amigos, a festas na Pampulha, e na volta esperávamos o primeiro veículo em direção ao Centro”, recorda-se o advogado, que na quinta-feira passou quase cinco horas preso no trânsito para resolver questões particulares e ir ao fórum.

Máximo também circulou muito nos trólebus, pegou o metrô para ir ao Eldorado e agora espera pelo BRT, que terá pistas exclusivas em três corredores da capital (Região Central, avenidas Antônio Carlos/Pedro I/Vilarinho e Cristiano Machado). “Aguardo ansioso, pois o bom funcionamento do transporte coletivo é indispensável para a cidade.”


LINHA DO TEMPO


1902 – Em 7 de setembro é inaugurada a primeira linha de bonde elétrico em BH, com festa na Avenida Afonso Pena esquina com Rua da Bahia, no Centro. Trilhos começaram a ser implantados dois anos antes

1947 – No ano em que BH ganha autonomia administrativa, o sistema de transporte está precário. O prefeito Otacílio Negrão de Lima faz consulta popular em busca de alternativas

1953 – O sistema de transporte por trólebus (ônibus elétricos) é inaugurado pelo prefeito Américo Renné Giannetti. Os primeiros quatro veículos são de fabricação norte-americana

1960 – Ônibus a diesel fortalecem o transporte coletivo de BH. Ao longo da década, esse transporte se consolidaria como primeiro no atendimento da população, então na faixa de 1 milhão de habitantes

1963 – Desativadas as últimas linhas de bonde de Belo Horizonte, que circulavam nos bairros Cachoeirinha, Gameleira, Bom Jesus, Horto, Padre Eustáquio e Cidade Ozanam _

1986 – O metrô de Belo Horizonte, concebido no fim da década de 1970, entra em operação. A linha vai hoje do Vilarinho ao Eldorado

2010 – Começam obras do BRT, hoje conhecido como Move, sistema com pistas exclusivas e ônibus articulados


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