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Estado de Minas

Assassinos de casal trocam acusações sobre estupro de vítima

Restos mortais de Alexandre e Lívia foram encontrados a cerca de dois quilômetros do local do crime, sob o incrédulo olhar de familiares. Assassinos confessos trocam acusações


postado em 09/01/2014 06:00 / atualizado em 09/01/2014 14:10

Bombeiros e policiais resgataram cadáveres do rio (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
Bombeiros e policiais resgataram cadáveres do rio (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)


Serra do Cipó – O olhar permaneceu atento e as orações foram firmes. Muitas lágrimas derramadas. A angústia dos familiares parecia não ter fim. Somente depois de cinco dias de desespero e investigações e de 10 horas de buscas no Rio Santo Antônio, em Conceição do Mato Dentro, os corpos do assessor jurídico do Procon Assembleia Alexandre Werneck de Oliveira, de 46 anos, e da namorada, Lívia Viggiano Rocha Silveira, de 39, foram encontrados. Os dois estavam a cerca de dois quilômetros do local onde foram executados, às margens do rio e a aproximadamente sete quilômetros da cidade. Alexandre e Lívia foram vítimas de latrocínio (roubo seguido de morte) – na sexta-feira, quando saíram da pousada onde estavam hospedados, no Distrito Serra do Cipó, em Santana do Riacho, para passear no mirante da serra.

Os dois corpos estavam a aproximadamente 500 metros de distância um do outro. O de Alexandre na margem direita, preso entre galhos, mais perto do local da execução. Já o de Lívia foi encontrado abaixo, em meio a pedras, seminu – estava só de short e tinha os pés amarrados. “Ambos estavam em estado avançado de decomposição", informou o sargento Washigton Neri Rodrigues, do 3º Batalhão de Bombeiros Militares (BBM) de BH.

A localização dos corpos foi difícil. Pela manhã, depois de quatro horas percorrendo de barco e fazendo buscas submersas no leito do rio, o sargento descartou que eles estivessem nas proximidades e decidiu ampliar as buscas para áreas mais distantes. Chegou a fazer uma varredura terrestre do leito do rio, mas foi no início da tarde que os dois corpos foram vistos do alto, boiando, por policiais civis num helicóptero.

O primeiro corpo a ser retirado da água foi o Lívia, que foi levado de barco por bombeiros até a margem. Por causa do acesso difícil, o corpo de Alexandre foi removido do rio cerca de uma hora depois. Os dois foram levados para o Instituto Medico Legal (IML) de BH, onde seriam necropsiados e entregues aos familiares.


Foram levados para o IML também os dois acusados, que fizeram exame de corpo de delito. Marcos Magno Peixoto Faria, de 25 anos, e Helton Moreira de Castro, de 19, seriam levados ainda ontem para o Ceresp Gameleira. Os dois foram interrogados na madrugada de quarta-feira e deram detalhes do crime. Eles deverão ser apresentados hoje à imprensa.

Alexandre e Lívia ficariam hospedados de quinta a sábado na serra. O plano era comemorar o aniversário de Alexandre, no domingo, com a família na capital, mas eles foram surpreendidos no mirante da serra, de onde observavam o pôr do sol. Segundo a polícia, com um revólver, os dois renderam o casal, que estava fora do carro, e os levaram para o leito do Rio Santo Antônio, a sete quilômetros de Conceição do Mato Dentro, onde foram executados. No depoimento, os dois se contradisseram. Marcos assumiu ter matado Alexandre com três tiros e atribuiu a Helton o assassinato de Lívia com dois disparos. Mas o comparsa alegou que as duas execuções foram praticadas por Marcos. A polícia procura testemunhas para esclarecer detalhes. Uma delas seria uma pessoa que teria socorrido Helton após uma queda de moto no caminho entre o mirante e o local do crime.

Esse fato foi relatado pelo suspeito durante o interrogatório. Ele disse que seguiu o carro de Alexandre na moto, e Marcos foi dentro do veículo com o casal. A queda teria sido nesse trajeto. Helton contou ainda aos policiais que ao chegar às margens do rio encontrou Alexandre morto no banco de trás da caminhonete. Lívia estaria seminua no banco do passageiro e Marcos, vestido. Sobre a hipótese de ter havido abuso sexual, os dois suspeitos também têm versões opostas. Ambos se acusaram do estupro.

FUGA E INCÊNDIO

Após o crime, na sexta-feira, Marcos e Helton tentaram fugir levando a Hilux. Mas como o veículo tinha sistema antifurto, não funcionou. Os dois teriam achado que o veículo estava com problemas na bateria, então foram embora levando R$ 174 e dois celulares. No sábado Marcos teria voltado de táxi ao local do crime para dar carga na bateria da Hilux. A intenção era vender o veículo por R$ 5 mil e dividir o dinheiro.

Como a tentativa de ligar o carro não deu certo, eles atearam fogo no veículo, na manhã de segunda-feira, com a ajuda de um menor. Para chegar aos bandidos, a polícia local contou com a ajuda de informantes que delataram um rapaz, dono de uma moto amarela, com o rosto queimado circulando pela cidade. Diante das características, Marcos, que tem uma motocicleta desta cor, foi detido. Na delegacia ele entregou o comparsa Helton e ambos contaram da participação do menor na destruição do carro.


Alexandre e Lívia: um colega querido e uma mãe dedicada

Esperança desfeita num golpe duro do destino. Mesmo com a confissão dos acusados, para os familiares do casal a história só chegou ao fim quando os corpos foram encontrados na tarde de ontem. “Mantivemos a esperança de encontrá-los vivos o tempo inteiro”, disse Daniel Viggiano, sobrinho de Lívia. Ele contou que ainda não sabe explicar o que lhe passou pela cabeça quando viu a tia e o namorado dela serem retirados do rio. Por enquanto, só restou forças para amparar a família: “Só pensava em ser forte para segurar minha tia e minha prima, para elas não desabarem”.

Com uma diferença de idade de pouco mais de seis anos, os advogados Alexandre Werneck de Oliveira, de 46, e Lívia Viggiano Rocha Silveira, de 39, tinham uma história de vida parecida. Ambos já foram casados uma vez e cada um tinha dois filhos da primeira união. Alexandre era servidor de carreira da Assembleia Legislativa de Minas havia mais de 25 anos. A instituição informou que ele começou a trabalhar em dezembro de 1988, e permaneceu até maio de 1993 na Polícia Legislativa.

Durante 10 anos, entre 1993 e 2003, o advogado ficou à disposição da Diretoria de Processo Legislativo, onde trabalhou em comissões da Assembleia. Entre setembro e outubro de 2003, integrou o gabinete do ex-deputado José Henrique. Alexandre também trabalhou na Diretoria de Administração e Pessoal, até março de 2006, quando foi transferido para o Procon, onde exercia o cargo de assessor jurídico.

Até o mês passado, Renato Dantés Macedo, de 48, que também é assessor jurídico do Procon, trabalhava na mesma sala de Alexandre. Ele contou que Alexandre era bem reservado e querida por todos. “A turma está estarrecida com barbaridade”.

Pai de dois adolescentes, de 17 e 15 anos, Alexandre nutria uma paixão pelo Atlético. Ele foi ao Marrocos acompanhar o Mundial de Clubes.

FILHOS

Lívia era a caçula de seis mulheres e dois homens, nascida em Itanhomi, no Vale do Rio Doce. Aos 21 anos, conheceu o futuro marido, com quem teve um relacionamento de 10 anos e um casal de filhos, hoje um rapaz de 16 e uma garota de 11. Os dois estão passando férias com o pai, o produtor musical e administrador Oldair da Silveira, de 35. “É uma pessoa que fará uma falta enorme. A gente não entende como alguém ode fazer isso com uma pessoa tão boa”, lamentou .

Oldair informou que os dois estudavam direito juntos. “Minha família tem escritório de advocacia e era uma forma de assumirmos a demanda”, explica. Mas o casamento chegou ao fim no meio do curso e apenas Lívia concluiu a graduação. O administrador foi o responsável por conversar com os filhos sobre a tragédia: “Ela sempre cuidou dos meninos perfeitamente. Ninguém consegue acreditar nisso tudo”.


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