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Estado de Minas TESTEMUNHAS DE TRAGÉDIAS

Carcaças de veículos acidentados revelam violência que domina estradas

Veículos acidentados e abandonados nos postos da PRF em Minas revelam histórias de imprudência, morte e tristeza nas rodovias. Leilão em março deve esvaziar pátios


postado em 05/01/2014 06:00 / atualizado em 05/01/2014 07:26

Caminhão onde viajava a família de Anilton foi atingido por bobinas de aço. Três pessoas morreram(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press )
Caminhão onde viajava a família de Anilton foi atingido por bobinas de aço. Três pessoas morreram (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press )

Os pedaços de ferro retorcidos, latarias amassadas, estofados destruídos e cacos de vidro espalhados contam o que aconteceu com aqueles veículos cercados em um pátio. Acidentes violentos, que muitas vezes encontram sinônimo na palavra tragédia, deixaram carros, caminhões, motos e ônibus inutilizados e, em consequência dos desastres, abandonados. Os exemplos são vistos por todos os motoristas que passam na BR-381 em frente ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Betim, na Grande BH, onde há mais de 100 veículos nessa situação, a maioria sucata. O cenário de cemitério rodoviário se repete na unidade de fiscalização da PRF em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, às margens da BR-365, onde também há concentração de veículos acidentados. Juntos, os dois postos respondem por 80% dos 300 veículos que a PRF espera mandar a leilão em todo o estado em março, na primeira iniciativa desse tipo em Minas Gerais. Além dos carros, caminhões, ônibus e motocicletas acidentados, os pátios abrigam veículos apreendidos e não retirados pelos donos.


Em Betim, as sucatas e aqueles em melhor estado se espremem em um espaço entre as unidades da PRF e de atendimento da Autopista Fernão Dias, concessionária responsável pela BR-381 entre Belo Horizonte e São Paulo. Ali, a maioria dos veículos tem uma história trágica, como a do caminhão Mercedes-Benz de 1978, totalmente destruído. Na cabine só poderiam estar três pessoas, mas cinco ocupavam o espaço em 9 de dezembro, quando o motorista Anilton Alves Pereira, de 43 anos, foi surpreendido por uma carreta bitrem carregada com bobinas de aço conduzida por um homem alcoolizado.

Os dois veículos seguiam na Fernão Dias no sentido São Paulo, altura do km 496, quando a carreta, descontrolada na pista, começou a despejar as bobinas que destruíram a cabine do caminhão de Anilton, que perdeu a mulher e os dois filhos. O terceiro filho, hoje com 11 anos, saiu ileso e o pai precisou colocar pinos e placas no corpo, se aposentando por invalidez. O motorista da bitrem foi submetido ao teste do bafômetro e o resultado acusou 1,13 miligrama de álcool por litro de sangue, índice quase quatro vezes acima do limite para crime de trânsito. Um ano depois, trabalhando como pedreiro, Anilton tenta retomar a vida em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri. “Perdi minha família naquele acidente e nunca mais tive vontade de retirar o caminhão. Vim para uma cidade menor, para recomeçar”, desabafa. 

PRESO EM FLAGRANTE Outro caso emblemático é o do Ford Ka que era conduzido por Welberth Silva dos Santos no carnaval do ano passado. No carro estavam sete pessoas e no km 485 da Fernão Dias, em Betim, ocorreu o acidente. Welberth bateu em uma placa de sinalização e na canaleta da pista, causando a morte de sua mãe, de um filho e de uma sobrinha. Ele passou pelo teste do bafômetro e foi  preso em flagrante por crime de trânsito, pois o teor de álcool superou 0,34 mg/l. O veículo ficou completamente retorcido e o esqueleto está abandonado no pátio da PRF. O último licenciamento quitado é de 2010.

No Ka dirigido por Welberth também foram três vítimas. Ele foi preso por estar embriagado(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press )
No Ka dirigido por Welberth também foram três vítimas. Ele foi preso por estar embriagado (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press )
No caso de um Astra abandonado bem ao lado do Ford Ka, só é possível identificar o modelo do carro ao olhar a traseira do veículo. A parte da frente foi transformada em pedaços de ferro e plástico desarranjados, o que dificulta até a identificação do modelo. Três jovens, com idades entre 22 e 25 anos, estavam a bordo do Astra em 22 de junho, quando o veículo bateu em uma árvore no km 492 da Fernão Dias, em Betim. Os três ocupantes morreram e o velocímetro, travado em 150km/h, comprova o excesso de velocidade no momento do acidente. Como já havia sido preenchido o documento de venda, mas o carro não tinha sido devidamente transferido para o novo dono, o imbróglio o mantém retido. O antigo proprietário tentou retirá-lo, mas não conseguiu pelo fato de já ter assinado a venda.

Segundo o inspetor Adilson Souza, um dos agentes da PRF que trabalha no posto de Betim, somado ao fator emocional, o gasto que os proprietários teriam para reaver os veículos contribui para que eles sejam abandonados. “Muitos desses veículos não têm seguro e têm muitos débitos em multas ou licenciamento atrasado”, explica o agente. Ele também chama a atenção para o fato de que a maioria dos veículos tem baixo valor comercial, e que fica menos dispendioso deixá-los no pátio da PRF do que retirá-los e recuperá-los. “Ainda há casos de veículos de outros estados acidentados em Minas Gerais, o que encarece muito o valor do reboque”, acrescenta Souza.

O inspetor Adilson afirma ainda que o fato de muitos veículos estarem abandonados em Betim pode ser explicado pela quantidade de acidentes no trecho de responsabilidade do posto da BR-381. Dos 10 segmentos de 10 quilômetros considerados pela PRF os mais perigosos do país, dois estão em Betim. Um deles é o segundo no ranking nacional e fica entre os kms 500 e 490, onde está a unidade de fiscalização da PRF. Entre janeiro e outubro de 2013, foram 1.182 acidentes no trecho, com 379 feridos e 24 mortos. Entre os kms 490 e 480, quinto trecho mais perigoso do país, foram 1.255 acidentes, com 337 feridos e 15 mortos.

Alcoolismo e multas

Os veículos destruídos por acidentes não são os únicos exemplos de carros, ônibus, caminhões e motos abandonados ou retidos nos postos da Polícia Rodoviária Federal em Minas. Por causa do recente endurecimento da Lei Seca, há casos de quem não voltou para buscar seu automóvel por medo de sofrer as punições por dirigir alcoolizado, segundo afirmam os agentes da corporação. Outra causa de abandono dos veículos são os entraves judiciais, normalmente descobertos depois que o motorista é pego em alguma abordagem ou se envolve em acidente. Há situações de sequestros de bens definidos pela Justiça do Trabalho, além de outras pendências administrativas. Casos de crimes, como furto e roubo, são encaminhados aos pátios credenciados. No posto da PRF na BR-381 em Oliveira, na Região Centro-Oeste do estado, há dois ônibus flagrados pela PRF transportando passageiros irregularmente havia mais de 10 anos e que até hoje não foram retirados.


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