(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Mineiros de Ouro revela coração comunitário na Grande BH

Com apoio de amigos, mulher acolhe crianças de até 14 anos em sítio durante o dia, em Ibirité, Grande BH, para tirá-las das ruas enquanto as mães estiverem trabalhando


postado em 13/07/2013 06:00 / atualizado em 13/07/2013 07:17

Rosemary Rodrigues se emociona no meio da garotada, que, além de carinho, tem alimentação e espaço para brincar(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Rosemary Rodrigues se emociona no meio da garotada, que, além de carinho, tem alimentação e espaço para brincar (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

 O garoto, não mais que 10 anos, se aproxima da cerca e grita: “Tia, posso pegar uma manga?”. Outro pede autorização para apanhar uma bola chutada para o terreno. A menina, aparentemente de 12, pede uma goiaba. A “tia” em questão é Rosemary Rodrigues dos Santos Melo. Ela era caseira de um pequeno sítio, no Bairro Ouro Negro, em Ibirité, Grande BH. As crianças, pedindo frutas ou licença para recuperar um brinquedo atirado na propriedade, tornaram-se suas amigas. Mas a incomodava a presença daquela meninada nas ruas, em situação de risco.

Rosemary procurou as mães das crianças para conversar. São mulheres, moradoras de uma comunidade carente, impedidas de procurar emprego por causa dos filhos. Precisavam tomar conta deles. Mas as crianças sempre achavam um jeito de escapar para as ruas quando viam as mães entregues os afazeres domésticos. A caseira teve, então, uma ideia. Procurou o dono do sítio e pediu autorização para usar o terreno e as instalações como local de acolhimento de menores, para que as mães pudessem sair para trabalhar.

O dono da área, dado ao pouco uso que fazia dela, não se opôs. Rosemary, mais uma vez, reuniu as mães e propôs cuidar da meninada. Em pouco tempo, a algazarra de mais de 60 crianças tomou conta do sítio, inclusive de bebês ainda no berço. Rosemary criou uma ONG, a Bem-Estar, fez um contrato de comodato com o dono do terreno e saiu em busca de apoio de lojas, padarias, sacolões, supermercados e indústrias. Precisava de doações.

Sem objetivo financeiro, assumiu o papel de dezenas de mães. As crianças chegam cedo, tomam o café da manhã, fazem o dever de casa e têm aula de reforço. Depois, são liberadas para brincar até a hora do banho. Roupa trocada, almoçam e esperam a passagem do ônibus escolar. As que estudam de manhã almoçam, descansam, fazem o dever de casa, assistem à aula de reforço, brincam, tomam banho e, no fim da tarde ou início da noite, esperam as mães, que as levam para casa.

“Não recebo mais bebês porque não tenho estrutura. Estamos hoje com 35 crianças e trabalhamos sem ajuda do poder público. As doações vêm de amigos. São cestas básicas, agasalhos, brinquedos, material de limpeza, sabonetes, dentifrícios e outros materiais de necessidade pessoal ou da casa. As igrejas evangélicas e a católica também nos apoiam”, diz Rosemary. De vez em quando, grupos artísticos independentes ou de instituições fazem apresentações para as crianças. Está programada para este mês uma festa de rodeio.

A comida é elogiada. Em um dos cardápios da semana foram servidos frango refogado, arroz, feijão e salada de beterraba, cenoura, tomate, repolho e pepino. De sobremesa, banana-prata. Paulo, de 13 anos, abre um sorriso farto para falar da refeição: “Muito boa. Gosto de tudo. Das aulas, gosto mais”. Rosemary recebe crianças de até 14 anos em uma área de cerca de 400 metros quadrados. O andar de baixo da casa, com cozinha, banheiro, varanda e biblioteca, assim como o quintal, com um laguinho cheio de peixes, é para uso das crianças.

Rosemary, de 39 anos, natural de Jequitinhonha, é mãe de três filhos, de 18, 10 e 8 anos. O sustento da família, que mora no andar superior da casa, vem do trabalho do marido, que, quando não está empregado como auxiliar administrativo, faz bicos como capoteiro. “É difícil levar adiante essa ideia. Quase fechei esta ONG que presido, mas pensei muito na comunidade, nas mães que precisam trabalhar e não têm com quem deixar os filhos. As que podem colaboram com R$ 60 por mês.”

Para tentar sobreviver e ampliar a oferta de vagas, ela vai, por meio de leis de incentivo, apresentar um projeto à Regap (Petrobras). “Com apoio formal, pretendo construir um galpão, dois banheiros e duas salas para receber até 200 crianças, inclusive bebês, se for preciso.” Márcia Rodrigues Patrocínio, de 39, professora de matemática e física da rede estadual, vice-presidente da ONG, é quem aplica aulas de reforço e coordena as atividades lúdicas e educativas para as crianças. “Sinto-me realizada. Aqui completo minha vida.” Na cozinha, Maria de Jesus Ferreira, de 61, atua como voluntária ao lado de Rosemary Ferreira Simões, de 42, única pessoa remunerada na ONG.

“Damos a essas crianças carinho materno e um sonho. Meninos que poderiam se perder por aí têm a oportunidade de se tornarem grandes brasileiros. Somos felizes em realizar esse trabalho”, diz Rosemary, que tem ensino médio e sonha com a graduação em psicologia.

Serviço: Acesse, compartilhe e dê sugestões de personagens: www.mineirosdeouro.com.br


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)