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Estado de Minas

Casos de queimaduras decorrentes de álcool líquido têm queda de 30% em Minas

Entre fevereiro e maio deste ano, número de internações caiu 15% no setor de queimados do Hospital João XXIII, da Rede Fhemig


postado em 09/06/2013 10:17

As estatísticas da Unidade de Tratamento de Queimados do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, que integra a Rede da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), revelam que entre os meses de fevereiro e maio deste ano houve uma redução de aproximadamente 30% no número de atendimentos a pacientes vítimas de queimaduras envolvendo a utilização de álcool líquido. No mesmo período, o número de internações caiu em torno de 15%.

Para o médico e coordenador do Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados do Hospital João XXIII, Carlos Eduardo Guimarães Leão, essa queda pode ser creditada à legislação que suspendeu, desde 25 de fevereiro deste ano, a fabricação, distribuição e venda do álcool líquido comercial com graduação acima de 54º Gay Lussac. O especialista explica que as evidências deste fato são inequívocas e corroboram a tese de que a proibição do comércio varejista de produtos inflamáveis, em especial do álcool líquido, “é uma forma eficaz de reduzir a morbidade e a mortalidade decorrentes de queimaduras”. Ainda segundo o coordenador, o álcool líquido é responsável pelas queimaduras mais extensas e pela maioria dos óbitos relacionados aos acidentes que envolvem a utilização do produto.

Carlos Leão salienta que a queimadura é um problema preponderantemente sociocultural –uma vez que, em nenhum outro país, o álcool é responsável por um número tão grande de acidentes. Prova disso é o uso de álcool em larga escala como produto de limpeza em um grande número de lares brasileiros devido à crença, equivocada, de que ele tem ação desinfetante. Daí, a dificuldade enfrentada pelos órgãos que promovem campanhas, diante da resistência da população em deixar de utilizar o produto em seu cotidiano.

O coordenador de Cirurgia Plástica do Hospital João XXIII ressalta que o decréscimo das ocorrências adquire importância ainda maior se for levado em conta que, estatisticamente, em todo o território nacional, a cada ano 10% dos adultos e 5% das crianças, em média, internados em hospitais, morrem devido a queimaduras graves que atingem mais de 25% do corpo, independentemente do grau das lesões. As queimaduras perdem a condição de principal causa externa de morte apenas para os acidentes de trânsito e para os homicídios.

As áreas mais atingidas por queimaduras causadas por álcool líquido são o tórax, os membros superiores e a cabeça. Em média, os pacientes permanecem internados por 23 dias. Em torno de um quarto, ou 15% das pessoas acometidas, morrem em razão das queimaduras.

Queda progressiva


A queda do número de atendimentos, diretamente ligados ao álcool líquido, foi verificada de forma progressiva a partir de fevereiro deste ano. Em termos absolutos observou-se que o percentual de participação do álcool como agente causador das queimaduras passou de 45,9% em fevereiro para 30,6% em março. Em abril, foi verificada uma taxa de 27,5%, culminando, em maio, com a taxa de 21,3% – e m franco decréscimo.

Apesar dos resultados animadores, Carlos Leão ressalta que a proibição do comércio varejista do álcool líquido, por si só, não resolve o problema no longo prazo. O médico defende a ideia de que apenas a inclusão na grade curricular das escolas de ensino fundamental de uma disciplina voltada à prevenção de acidentes, “colocaria fim a esta falta da cultura do perigo que caracteriza o brasileiro, independentemente de sua classe social e econômica”.

Outro aspecto relevante no contexto em que se dão os acidentes envolvendo queimaduras é que junho e julho representam os momentos mais críticos do ano no que diz respeito à ocorrência de acidentes envolvendo o uso de álcool. No período, há um aumento de 12% a 15% no número de vítimas habituais devido às características destes meses, durante os quais, tradicionalmente, são comemoradas as festas juninas. Por outro lado, o ambiente doméstico é o local onde ocorre mais da metade dos acidentes. A cozinha é o cenário de 80% dos casos.

Maioria dos acidentes envolve adultos


Dados do Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados do Hospital João XXIII mostram que a maioria dos pacientes da Unidade de Tratamento de Queimados é do sexo masculino (64%), com uma média de idade de 29 anos. Em geral, eles são vítimas de queimaduras de segundo grau profundo para terceiro grau.

No ranking dos principais agentes causadores de queimaduras, logo após o álcool líquido, vêm os líquidos superaquecidos, em particular a água e o óleo. Em seguida, a chama direta. Também merecem atenção os acidentes com fogos de artifício, causados pelo manuseio inadequado desses artefatos, em muitos casos, associado à embriaguez.

Primeiros socorros

Diante de uma pessoa queimada, deve-se, imediatamente, afastá-la do agente causador. Em seguida, caso a roupa esteja queimada, ela deve ser retirada. Após essas medidas iniciais, a pessoa deve ser colocada em água fria e corrente (ou colocar sobre ela uma toalha embebida em água fria) e encaminhá-la imediatamente ao hospital. Para que não haja o agravamento do quadro de saúde da vítima, é fundamental que, em hipótese alguma, seja utilizado outro produto que não seja a água pura e fria, pois se dificulta o trabalho do médico para identificar a área queimada, bem como a profundidade da lesão.

Cuidados simples, incorporados ao dia a dia das pessoas, são capazes de evitar queimaduras. Assim, as crianças não devem ficar sozinhas em casa. O botijão de gás deve, sempre, ser trocado em ambiente aberto. Nunca se deve usar produtos inflamáveis, em especial o álcool líquido, bem como produtos químicos em casa, além de ter máximo cuidado ao fazer a manutenção da instalação elétrica. Nesse último caso, o mais adequado é que sejam utilizados os serviços de um eletricista.

João XXIII

Fundado em 1973, o Hospital João XXIII é a maior unidade de saúde pública de Minas Gerais. Além de casos de queimaduras, o hospital é um centro de referência na assistência ao politrauma, intoxicações e situações clínicas ou cirúrgicas de risco de morte. A unidade atende pacientes de toda a região metropolitana de Belo Horizonte e de cidades do interior de Minas.

(Com Agência Minas)


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