Parece gato, mas não é. Belo Horizonte está envolta em um emaranhado de fios e o problema só aumenta e está longe de um ponto final. A rede aérea tem 6.873 quilômetros (2.547 de alta-tensão e 4.326 de baixa tensão (entre os postes e as casas). Além disso, operadores de TV a cabo e de telefonia pagam taxas pelo uso dos postes e a fiação se alastra sem controle. De 1971 para cá, a Cemig aterrou apenas 366 quilômetros da sua rede elétrica na capital (5%), principalmente na Região Central, pegando um pouco das proximidades da rodoviária, área hospitalar, Praça Tiradentes, Praça da Liberdade, parte do Santo Agostinho e a Savassi. Se for nesse ritmo, a concesssionária de energia vai demorar 750 anos para deixar a cidade totalmente livre da poluição visual e mais segura para pedestres e consumidores. Este ano, cinco pessoas morreram em acidentes na rede elétrica.
A última rede subterrânea foi feita em 1998, segundo o engenheiro da Cemig Erivaldo Costa Couto. E não há previsão de novos investimentos, “nem a curto nem a médio prazo”, ressalta. A Cemig diz investir na substituição, modernização e automação das redes subterrâneas na capital e no interior e que estuda a possibilidade de conversão de redes aéreas convencionais para as subterrâneas, mas sem previsão de tempo. Um relatório deve ser concluído nos próximos dois anos para subsidiar o planejamento dessa expansão. “Há tecnologias sendo estudadas”, informou o engenheiro.
Para o presidente da ONG urbanística e ambientalista Instituto Cidades, André Tenuta, o problema é muito mais financeiro do que tecnológico. A Cemig tem hoje 450 mil quilômetros de rede de distribuição em Minas (360 mil rurais e 90 mil urbanos). No estado, são 700 quilômetros de cabos aterrados, o que corresponde a 0,8% das redes urbanas. Os recursos necessários à conversão das redes aéreas urbanas convencionais para as subterrâneas são estimados entre R$ 40 bilhões e R$ 60 bilhões.
Erivaldo Costa aponta outra dificuldade para instalação da rede elétrica subterrânea. “Interferências em redes da Copasa, de água pluvial, de esgoto e cabos que já passam no subsolo. Tem muita gente usando o subsolo e não há uma proposta de ordenamento no Brasil. A gente está trabalhando num projeto nesse sentido, mas não existe normalização sobre essa questão”, reclama o engenheiro. A prioridade para instalação da subterrânea, segundo ele, são as áreas mais adensadas, como o Centro de BH e a Savassi. “Na região hospitalar, é para garantir maior segurança e melhor atendimento aos hospitais”, disse Erivaldo.
A profundidade padrão de instalação dos cabos isolados da rede subterrânea é de 20 centímetros nas calçadas e 70 centímetros nas vias de trânsito. No caso de linhas de alta- tensão, essta profundidade é de cerca de 160 centímetros.
A Praça Sete, no Centro, foi a primeira região da cidade a ter sua fiação elétrica aterrada, em 1971. Na década de 1980, o sistema foi expandido para outras regiões do Centro. Na mesma época, cidades históricas de Minas começaram a substituir a rede aérea pela subterrânea, como Ouro Preto, Diamantina, Mariana, Tiradentes e Serro, mas são pequenos trechos e o trabalho não foi adiante. Em Ouro Preto, só a Praça Tiradentes ficou livre da poluição visual.
Na década de 1980, Juiz de Fora, Uberlândia, Uberaba, Itajubá e Montes Claros tiveram parte da fiação aterrada. Na década de 1990, foram construídas redes subterrâneas em Varginha, Nova Lima e Santa Luzia. Em Santa Luzia, apenas a Rua Direita foi contemplada.
A rede subterrânea é mais segura e confiável, avalia Erivaldo. “Está livre de colisões de veículos em postes, de objetos jogados na rede e das tempestades, dos galhos e árvores que caem sobre a rede aérea. Grande parte dos problemas que a gente enfrenta com a rede área é devida às intempéries, deixando consumidores sem energia”, informa o engenheiro Erivaldo.
O CUSTO DAS PODAS
Andando pela Savassi, André Tenura observa que as árvores crescem sem o obstáculo dos fios. “As interferências com a fiação custam caro. As árvores têm que ser podadas para evitar danos à rede elétrica, acidentes e interrupções de energia”, avalia o presidente do Instituto Cidades.
Para evitar esse tipo de problema, a Cemig gasta, em média, cerca de R$ 25 milhões em podas em todo o estado. Cada uma custa R$ 48. Atualmente, BH tem cerca de 350 mil árvores em áreas públicas, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, e cada regional é responsável pela poda. Até 18 de março deste ano, a Regional Centro-Sul podou 941 árvores e o valor de cada serviço fica entre R$ 4,99 e R$ 177, 11, dependendo do tamanho. Apenas o BH Resolve recebeu 5.565 pedidos da população, de 1º de janeiro a 11 de março.
“A estética da cidade melhora sem a fiação aérea. A rede subterrânea está longe de ser um item supérfluo. É determinante para a qualidade de vida”, dize Tenuta. “Se você pega um lugar que é feio, certamente ele atrai coisa ruim. Lugar bonito atrai coisa bonita. A nossa proposta é melhorar a estética de BH para atrair outro padrão de relações e de possibilidades para a comunidade”, reforça Tenuta.
Na Europa, segundo ele, em três anos, a partir de 2000, a Alemanha passou de 4,3% de sua rede aterrada para 75%. No mesmo período, o Reino Unido pulou de 1,4% para 81%. São Paulo tem hoje 7% da fiação subterrânea.