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Estado de Minas

Precocidade infantil deixa pais e especialistas em alerta

É cada vez maior o número de crianças que deixam a infância de lado para iniciar precocemente a vida adulta. Problema é grave e já preocupa pais e especialistas


postado em 17/03/2013 06:00 / atualizado em 17/03/2013 07:46


Ser criança é coisa do passado para as novas gerações de brasileirinhos. Elas estão cada vez mais expostas aos apelos do consumismo exacerbado, à erotização precoce e às agendas extracurriculares apertadas, que não deixam espaço para brincadeiras sem compromisso. E são laçadas cada vez mais cedo. Para as meninas, a cobrança é ainda maior. Espécie de miniadultas, elas se vestem como as mães e, tão novas, têm hora marcada no salão de beleza para fazer as unhas, alisamento no cabelo e mechas californianas nas pontas. Para quem tem mais de 4 anos, a indústria começa a oferecer sutiã para aumentar os seios, maquiagem e sandálias de salto.

Preocupados com essa realidade, pelo menos 100 casais passaram a manhã de ontem na Paróquia Nossa Senhora Rainha, no Bairro Belvedere, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, discutindo maneiras de lidar com o fenômeno da chamada adultização infantil. O workshop foi promovido pelo movimento Resgatando a Infância, fundado há um ano e meio por especialistas de diversas áreas, que já conta com a adesão de cerca de 300 pessoas no Facebook. “Por mais que a gente alerte nos consultórios, os pais não conseguem enxergar a gravidade da situação dos seus filhos, que estão tendo sua infância encurtada e a adolescência esticada. Elas estão embarcando na onda. Se a filha da fulana faz, a minha também pode”, diz a coordenadora do movimento, Cristina Silveira, psicopedagoga e psicanalista infantil.

Antes da hora, meninos e meninas são chamados a participar do mundo dos adultos, seja assistindo à televisão até tarde, navegando descontrolados pela internet ou saindo à noite para restaurantes com os pais, que não têm mais tempo livre com as crianças. “A sensação que eu tenho é que estão colocando a criança para pilotar um avião, mas ela ainda não sabe dirigir nem um velotrol. Etapas estão sendo queimadas”, compara a pediatra Filomena Camilo do Vale. Ela lembra que, antigamente, criança era proibida de participar de conversa de gente grande. “Hoje, elas são chamadas a dar palpite na separação dos pais, no noticiário do dia e até nas consultas com a pediatra. Elas estão vivendo e participando de problemas que muitas vezes não dão conta de opinar”, alerta.

 Na semana passada, a pediatra atendeu o caso de uma pequena paciente que, aos 10 anos, parecia profundamente entristecida. Apertou os pais contra a parede, que buscaram apurar a causa da mudança de humor. Por intermédio da rede de relacionamentos virtuais Facebook, a garota tinha acessado um site de pornografia. “Ela ficou tão chocada com o que viu que ficou triste, não sentia mais vontade de viver nem conversar. Era demais para alguém que não tinha glândulas mamárias”, explica Filomena. Ela se reuniu com a criança para explicar a diferença entre a pornografia e o sexo feito com amor. “A marca da infância é a alegria. Criança não combina com depressão. As crianças estão adoecendo”, alerta a pediatra. Apesar de estar autorizado para a faixa acima de 13 anos, o Facebook tem cadastradas mais de 7,5 milhões de crianças usando o endereço de e-mail emprestado até dos próprios pais.

As cenas se repetem cotidianamente nas portas dos colégios particulares da capital mineira. No aguardo dos pais, babás ou motoristas, os alunos travam uma guerra de celulares para avisar que a aula acabou e já podem ir buscá-los. As meninas retocam o batom e postam fotos das colegas na internet. “Queria que o quadro negro fosse um espelho bem grande”, brinca M., de 10 anos, que usa a câmera do telefone para checar se o cabelo está arrumado. Ela conta que a amiga J. leva no bolso do uniforme duas cores de batom, rímel e espelho. “Em todo intervalo da aula ela retoca a maquiagem. Acho uma bobagem. No lugar do espelho, levo meu telefone”, explica.

A mãe da menina, a empresária A., é dona de loja de roupas infantojuvenis em shoppings de luxo na capital. Para a empresária, o comportamento é geral: “Quem não sofre com isso está mentindo. Tenho mães que compram R$ 5 mil em roupas para as filhas e deixam elas usarem saias minúsculas de paetês. Nem é tanto a roupa que incomoda na minha filha, é o fato de ela achar que é dona do próprio nariz e querer ir ao cinema sozinha com a turma da escola. Não dá”, desabafa. Segundo a psicopedagoga Cristina Silveira, as meninas se vestem como mocinhas, mas ainda não têm maturidade para enfrentar o assédio que vão passar a receber. “As escolas viraram um shopping para oferecer produtos extraclasse. Não basta ofertar o ensino ou a parte cognitiva. É preciso ajudar as famílias a nutrir com valores e criar uma moldura social para proteger as crianças. A família tem de ser forte e não ceder”, ensina.

Números

47%
das crianças com idade entre 9 e 16 anos, no Brasil, entram na internet todos os dias, segundo a pesquisa TIC Kids On-line 2012

59%

das crianças de 5 a 9 anos já utilizaram um celular e 24% dos pequenos já têm um aparelho próprio aos 9 anos, segundo pesquisa TIC Crianças 2010

5h
é o tempo médio que a criança brasileira fica na frente da televisão por dia, segundo dados de pesquisa do Ibope em 2011. Elas assistem a cerca de 40 mil propagandas em um ano


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