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Estado de Minas MUITO ALÉM DO I LOVE YOU

Aulas de idiomas para prostitutas vão ensinar muito além do "I love you"


postado em 12/03/2013 06:00 / atualizado em 12/03/2013 07:57

"Fiquei empolgada com o curso. Os estrangeiros pagam mais e são mais carinhosos" - Laura Maria do Espírito Santo, aluna, vice-presidente da Aspromig (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)


 

“Eu só sabia falar I love you”, diz Cidinha, nome profissional de uma das alunas do curso básico de inglês da Associação das Prostituas de Minas Gerais (Aspromig). A primeira aula ocorreu na manhã de ontem em uma sala da instituição, na Rua Guaicurus, ao lado do Hotel Brilhante, um dos pontos mais frequentados por clientes no Centro de Belo Horizonte. As lições serão dadas todos os dias e incluem mais três idiomas (espanhol, francês e italiano). Um dos objetivos é fazer com que as moças entendam os desejos de turistas estrangeiros, especialmente durante a Copa do Mundo de 2014.

As aulas duram uma hora e meia e, na próxima semana, passam a ser dadas em duas salas cedidas pelo Shopping Uai, também no Centro. Cerca de 300 pessoas já se inscreveram, a maioria garotas, mas também há travestis e rapazes. Na sala da Aspromig, há quadro-negro, mesas e cadeiras de plásticos, garrafas com água e café.

Em seu caderno, Cidinha anotou as frases ensinadas pelo professor, úteis no momento de abordar um possível cliente. Entre elas, who are you? (quem é você?), what is your name? (qual seu nome?) e excuse me (com licença). “Uóti is u neime”, arrisca a mulher, que tem 54 anos e é prostituta desde os 27. “Achei tão difícil, principalmente a pronúncia. Os estrangeiros pagam melhor. Temos de aproveitar a vinda deles, na Copa”, diz.

Cidinha já se deitou com homens de outros países. “Tive clientes da África, da Itália. Eles falam embolado, não entendo nada, mas acaba dando certo”, afirma ela, que também trabalha como diarista. As dificuldades em compreender o que o outro diz não a impedem de prestar o serviço, mas ela acredita que os clientes ficariam mais satisfeitos se pudessem conversar. “Quero saber explicar o programa, informar o preço, bater papo com eles. Dentro do quarto, não é só sexo. A gente vira psicóloga”, diz.

Turmas

Os cursos, a serem oferecidos até o Mundial, duram oito meses, após os quais novas turmas são formadas e tudo se reinicia. Na ficha de inscrição, o aluno precisa dar seu nome completo e o apelido profissional. O nível de escolaridade dos matriculados varia bastante, de alguns com ensino fundamental incompleto até quem alcançou o ensino superior, como uma moça formada em direito e outra que cursa psicologia. As idades também são muito diversas, de moças de 20 anos a senhoras de quase 60 anos. As matrículas, gratuitas, continuam abertas. Cada turma tem uma aula semanal e pode contar com até 25 alunos.

Na sala de Cidinha, cuja lição começou às 8h30, também estava a vice-presidente da Aspromig, Laura Maria do Espírito Santo, de 54 anos, prostituta desde os 20 e tantos. “Gud morni. Gud bai”, esforça-se, afetando a voz, como se saber inglês fosse coisa de gente chique. “Fiquei empolgada com o curso. Os estrangeiros pagam mais e são mais carinhosos. Já recebi clientes italianos, franceses, americanos, de Cabo Verde, da Argentina. Atraio gringo. De repente, eu me arranjo com algum”, conta. Brincalhona, ela lembra que teve “lições” de inglês com um antigo cliente. “O Étienne era belga. Um homem lindo. Conheci em um hotel onde eu trabalhava. Ficava falando inglês no meu ouvido nas horas boas da vida”, diz, às gargalhadas. Laura acredita que saber língua estrangeira agrada, sobretudo, aos clientes que gostam de prosear. “Tem gente que paga pra ficar horas com você.”

Voluntários

Até agora, 12 professores se dispuseram a ministrar as aulas, todos voluntários. “Vamos começar com os pronomes, os verbos ‘ser’ e ‘estar’. A partir desse básico, vou ensinar frases mais úteis a elas em sua profissão. Por exemplo, ‘de qual tipo de carinho você gosta’”, explica o publicitário Osmar Rezende, que ensinará francês. “A intenção é que as aulas estimulem essas pessoas a se capacitarem cada vez mais, a se prepararem para o dia em que o corpo parar de brilhar”, explica ele, também presidente da Libertos, organização não governamental que defende os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.

 


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