O transporte em duas rodas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) quadruplicou em 10 anos. Segundo o relatório elaborado pelo Observatório das Metrópoles, a frota na Grande BH passou de 89.394 em 2001 para mais de 368 mil no ano passado, crescimento de 312,5%. Só na capital, o aumento das motos atingiu 246%. O detalhe é que os números nos municípios do entorno quase atingem o da capital, em números absolutos: em 2011, nas outras 33 cidades que compõem a Grande BH, as motocicletas somaram 177.242, ou 14,2 mil a menos que na capital, que contava com 191.486 motos no ano passado.
Para o autor da pesquisada, Juciano Martins Rodrigues, doutor em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma das explicações é a estratégia adotada pela população que reside na região metropolitana e trabalha na capital. “Esse aumento pode indicar uma alternativa de transporte para quem precisa se locomover diariamente da periferia para o núcleo. Sabemos que também houve aumento, em 10 anos, do número de pessoas que gasta mais de uma hora para chegar ao trabalho e essa é uma estratégia para enfrentar o trânsito congestionado”, diz ele.
Todas as regiões pesquisadas registraram aumento no número de motocicletas, inclusive acima da média nacional. De acordo com o estudo do Observatório das Metrópoles, com base nos dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), havia em todo o país 18.319.502 motocicletas em dezembro de 2011, 23,3% das quais nas 12 metrópoles avaliadas no estudo. O percentual de crescimento foi de 289,4%, o que corresponde a um acréscimo de 3,1 milhões de motos em 10 anos.
Baixo custo
Entre as razões para a explosão da frota de motos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre de Andrade Puty Filho destaca a relação custo-benefício do meio de transporte. “A motocicleta é um veículo de custo mais baixo e com mais agilidade, se comparada com um carro. Com a moto, o condutor também tem menos gasto com manutenção e combustível”, diz.
Segundo o engenheiro, as vantagens do veículo de duas rodas são perfeitas se analisadas as características da população da Grande BH. “A população das cidades metropolitanas tem renda mais baixa do que quem vive na capital. E como residem mais distantes e muitas vezes trabalham em BH, os moradores acabam optando pela facilidade do transporte com a moto”, explica. O especialista alerta, no entanto, para o perigo dos acidentes. “Na motocicleta, o piloto está mais exposto e suscetível às consequências de uma colisão ou uma queda”, afirma.
Raio-x do problema
Cinco razões
– Incentivo fiscal representado pela redução do IPI
– Oferta de crédito e facilidades de compra
– Redução do desemprego e entrada de mais cidadãos no mercado consumidor
– Desejo do brasileiro de ter um automóvel, símbolo de status e poder
– Precariedade do transporte público
Cinco consequências
– Trânsito congestionado
– Maior número de acidentes
– Poluição atmosférica e sonora
– Desgaste do asfalto e do próprio veículo
– Estresse
Cinco soluções possíveis
– Investimento em transporte público, incentivo ao transporte sobre trilhos, implantação de ciclovias
– Carona solidária
– Interligação de vários sistemas de transporte
– Educação no trânsito
– Desenvolvimento urbano com centro regionalizados para minimizar as necessidades de deslocamento
Trânsito ainda mais lento
Caso o crescimento da frota de automóveis e motos se mantenha com índices próximos aos que a Região Metropolitana de Belo Horizonte vem registrando, especialistas avaliam que os engarrafamentos ocorrerão a qualquer hora do dia. Na avaliação do coordenador-geral do Núcleo de Transportes da Escola de Engenharia da UFMG e especialista em Transporte e Tráfego Urbano, Ronaldo Guimarães Gouvêa, vias que hoje já apresentam velocidade média baixa – em torno de 7km/h – vão ter esse número ainda mais reduzido e registrado também fora do horário de pico. A lentidão poderá ainda ser observada em outras vias de tráfego que hoje fluem bem. A saída apontada por Gouvêa está no investimento maciço em transporte público.