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Estado de Minas

Agonia de casal por resposta sobre morte do filho no Peru já chega a 10 meses

Milton Bittencourt e dona Zélia convivem com a dor da perda do filho, o engenheiro Mário Augusto, e enfrentam problemas de saúde


postado em 06/05/2012 07:30 / atualizado em 06/05/2012 09:31

Milton Bittencourt e dona Zélia convivem com a dor da perda do filho, o engenheiro Mário Augusto, e enfrentam problemas de saúde(foto: Rodrigo Clemente/Esp. EM/D.A Press)
Milton Bittencourt e dona Zélia convivem com a dor da perda do filho, o engenheiro Mário Augusto, e enfrentam problemas de saúde (foto: Rodrigo Clemente/Esp. EM/D.A Press)
 

De um lado apoiada na bengala e do outro no braço do marido, o escritor e funcionário público federal aposentado Milton Bittencourt, de 90 anos, a dona de casa Zélia Bittencourt, 85, prepara o espírito para enfrentar o primeiro Dia das Mães sem a presença do filho Mário Augusto. No auge da sua carreira de engenheiro, aos 57 anos, o premiado especialista na construção de usinas hidrelétricas, que atuou nos projetos de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, no Brasil, foi encontrado morto há 10 meses em circunstâncias misteriosas com o colega, o geólogo paulista Mário Guedes, 61, durante expedição ao Norte do Peru para avaliar a conveniência de uma barragem, contrária aos interesses das comunidades indígenas locais.

Desde que ocorreu o suposto assassinato de Mário, em 25 de julho passado, dona Zélia não consegue descansar um dia sem tentar imaginar o que pode ter acontecido com o filho. Serena, vestida de preto, a bela senhora já não chora mais. Passou a exigir respostas. Quase um ano depois do crime, não se sabe sequer a causa das mortes (os laudos no Peru e no Brasil foram inconclusivos), o inquérito da Fiscalía de Cumba prossegue em andamento e ninguém até hoje foi preso. “Desde o início, percebi que havia sido uma armadilha montada para eles. Não é preciso ser policial nem detetive para perceber isso. Basta ter 85 anos e juntar as peças”, afirma.

Apelo

Mais do que suportar a dor da perda de um filho, dona Zélia não quer mais conviver com interrogações que a cada dia se tornam maiores. Neste intervalo de tempo, as duas famílias já apelaram a autoridades da embaixada do Brasil no Peru, a senadores da República, contrataram peritos e advogados no país estrangeiro e estiveram pessoalmente no local do crime para cobrar a apuração do caso. Mas o processo não avançou. “Neste momento, estou escrevendo uma carta para a nossa presidente, que, como mãe, estará recebendo as mais merecidas homenagens”, desabafa.

Lúcida, dona Zélia expõe o que está martelando em sua mente desde que soube da morte do filho. “Não entendo como nossa presidente pode aguentar isso. Será que ela ficou sabendo que, enquanto era recebida com honras de Estado na posse do presidente do Peru (Ollanta Humala), dois de seus concidadãos estavam sendo cruelmente assassinados, e de forma misteriosa, naquele país? Para mim, isso é um ultraje ao Brasil, uma ofensa ao nosso povo”, desabafa a idosa, amparada por Milton. Ele enverga o paletó de veludo recebido de presente do filhopouco antes de ele ir embora.

Festa cancelada

Antes de ser vítima da possível emboscada, Mário Augusto estava ocupado com os preparativos da festa de 90 anos do pai. Teria pedido para ser dispensado da missão ao Peru. Diante da negativa, a estreia do casaco de veludo pelo pai acabou ocorrendo durante a missa comemorativa do aniversário, que se transformou em uma solenidade de sétimo dia pela morte de Mário Augusto. “O Brasil tinha um contrato onde iria construir usinas no Peru e comprar a energia produzida naquele país. Os índios estavam furiosos porque não queriam que a terra fosse alagada. Antes mesmo de assassinarem nosso filho já corria esse boato”, acusa o aposentado, que evita falar mais sobre o caso, por recomendações médicas. Desde a morte de Mário, seu Milton esteve internado três vezes por complicações de fundo emocional.


“Tenho de me sustentar em pé para dar assistência ao meu marido, que se desesperou ao receber a notícia. Já passei por muitas cirurgias e momentos de dor física, mas a dor da alma é lancinante. Se não fosse pela fé e pelas orações dos amigos não suportaria”, revela dona Zélia. Ela diz que gostava de conversar com filho e sabia entender o perfeccionismo no trabalho. Devota da Legião de Maria, a mãe costumava dizer ao filho: “Calma, filho, Maria passa na frente!”. E o engenheiro, maroto, sempre emendava: “E o Mariozinho vem atrás, não é mamãe?”.


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