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Estado de Minas

Conservatório da UFMG é templo da música em BH


postado em 21/04/2012 07:16

Tombado pelo patrimônio estadual, edifício de dois andares é referência arquitetônica na capital e abriga sala de concertos com cadeiras originais(foto: Renato Weil/EM/D.A Press)
Tombado pelo patrimônio estadual, edifício de dois andares é referência arquitetônica na capital e abriga sala de concertos com cadeiras originais (foto: Renato Weil/EM/D.A Press)

De manhã bem cedo, os primeiros raios de sol batem de frente e realçam a fachada no estilo neoclássico. À noite, é a vez de a iluminação artificial dar mais beleza ao tom ocre com a moldura das janelas em branco. E, durante todo o tempo, as portas se abrem para a cultura, num convite permanente aos belo-horizontinos e visitantes para assistir a espetáculos de repertórios erudito e popular. Assim é a “vida” do Conservatório UFMG, cujo prédio, inaugurado em 5 de setembro de 1926, foi o primeiro espaço da capital dedicado exclusivamente à música clássica, onde artistas de renome nacional e internacional mostram o seu talento.

A história dessa “joia de BH”, conforme definição do arquiteto Gaston Oporto, que comandou a obra de restauração empreendida pela Universidade Federal de Minas Gerais, via Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), no fim da década de 1990, começa com o Conservatório Mineiro de Música – quem passa na Avenida Afonso Pena, nº 1.534, pode ver, no topo do imóvel, o nome original mantido desde a abertura. “Junto com o Palácio da Justiça e o Automóvel Clube, ele forma um dos conjuntos arquitetônicos mais bonitos da cidade. O conservatório está bem preservado em meio a uma situação predatória na Região Central”, afirma Gaston.

Inaugurado pelo então presidente de Minas, Fernando de Mello Viana (1878–1954), o conservatório passou a ser federal em 1950, tornando-se instituição de ensino superior. Há quase 60 anos, conta o diretor Carlos Alberto Marques Reis, foi integrado ao patrimônio da universidade e recebeu a Escola de Música, que funcionou ali até 1996, quando se transferiu para o câmpus da instituição na Pampulha. Vazio, teve, na sequência, uma serventia da maior importância para os mineiros: nas comemorações do centenário de BH, em 1997, cedido à prefeitura, virou quartel-general da comissão organizadora dos festejos. “É um dos centros de cultura mais importantes do país, abrigando projetos de qualidade, além de ser referência arquitetônica na cidade”, diz a professora de piano e música de câmara Celina Szrvinsk, também diretora artística da série Concertos Didáticos, em cartaz no local desde 1991.

Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) desde 1988, o edifício de dois pavimentos foi projetado e erguido pela Companhia Construtora Nacional, embora não se saiba o nome do arquiteto responsável. De acordo com informações do Iepha, a construção tem mais de 1 mil metros quadrados de área e foi erguida a partir de uma planta em formato de V, tendo como principal destaque a fachada de simetria sóbria e proporções harmônicas. Um aspecto interessante, segundo os técnicos do Iepha, é que o prédio nunca perdeu, ou teve alterada, sua destinação inicial: a música e o canto.

Um passeio pelo Conservatório UFMG mostra que há muito para se conhecer e aprender nesse ambiente que transpira arte. Um dos destaques é a Sala de Concertos, no segundo andar, ainda com algumas cadeiras usadas pelas plateias pioneiras. Cobrindo o fundo do palco, uma gigantesca tela sobre Tiradentes, feita em 1926 pelo artista fluminense Antônio Parreiras (1860–1936), que deixou sua marca no teto do Palácio da Liberdade. Ao lado da pintura do mártir da Inconfidência, há um trecho dos “1º e 4º actos do drama lyrico Tiradentes, de Augusto de Lima”, conforme a grafia original. “Tu és Felippe o apóstolo do povo (…)/Eu juro de quebrar, de animo ousado/de Tyrannia todas as cadeias”. Nas laterais e no fundo da sala, se alinham 13 telas assinadas pelo filho de Antônio Parreiras, Dakir Parreiras (1893–1967).

SONS ETERNOS No palco, Carlos Alberto mostra um dos tesouros da casa, o piano Steinway & Sons, meia cauda, considerado por muitos artistas como a Ferrari desse tipo de instrumento. Impossível não sentir, mesmo com a sala vazia, os sons dos cellos, violinos, oboés e violas que em mais de oito décadas vem com a história do conservatório. “Aqui é um lugar vibrante, um ícone da nossa cultura”, comenta Gaston, lembrando que, ao contrário dos demais prédios públicos da Afonso Pena, a fachada do conservatório está distante oito metros do passeio, com jardins. “Para a época em que foi construído, o Conservatório Mineiro de Música seria como o Palácio das Artes”, compara Gaston. Ele explica que o prédio tem uma arquitetura eclética, numa transição do neoclássico para o modernismo. As paredes, por exemplo, têm largura de 50cm e são formadas apenas por tijolos, sem vigas, enquanto no teto há reforço com vigas de concreto, destaca Gaston.

Numa parede da Sala de Concertos, Carlos Alberto aponta uma prospecção executada na época do restauro e que, depois de retiradas camadas de tinta, exibe as pinturas parietais (feitas diretamente sobre o reboco). “Tudo indica que todas as paredes internas, cobertas de tinta creme, escondem pinturas parietais. Um dia, certamente, ela será retirada para termos de volta os desenhos originais”, afirma. O prédio se completa com miniauditório, quatro salas de aula, escritório da Fundação Rodrigo Mello Franco, praça coberta, copa, dois banheiros e pátio interno, recuperado durante o restauro, com a demolição de um edifício acrescentado ali nos anos 1950. Um anexo, inaugurado em dezembro de 2001, na Rua Guajajaras, nº 100, dispõe de restaurante e livraria da editora da universidade. Os espaços podem ser alugados para eventos culturais.

Programação cultural

Pelo Conservatório UFMG já passaram – e continuam passando – artistas eruditos nacionais e internacionais consagrados como Nelson Freire, Arthur Moreira Lima, Antonio Meneses, Arnaldo Cohen, Miguel Rosselini, Celina Szrvinsk, Irmãos Assad, Menahen Pressler, Sergey Kravchenko e outros. Até 2005, conta Carlos Alberto, a programação cultural era restrita a apenas esse tipo de concerto, mas de 2006 em diante, por determinação do então reitor Ronaldo Pena, as portas da casa foram abertas também à música popular. Atualmente, o espaço apresenta extensa programação cultural, com espetáculos quase todos os dias. Há várias séries fixas: Pizindin – Choro no palco, Para Todos (música popular brasileira instrumental), Sambaqui (samba), Do Erudito ao popular (erudita/popular), Prata da Casa (erudita), Quarta Cultural (erudita/popular), sempre às 12h30, Concerto de Outono e Concerto de Primavera (erudita/popular), Domingo na Feira (erudita/popular). Em dezembro, há o Concerto de Natal (erudita/popular), o mais antigo da casa. Veja a programação no site www.conservatorio@ufmg.br.


LINHA DO TEMPO

1926 –Em 5 de setembro, o prédio do Conservatório Mineiro de Música é inaugurado pelo então presidente do estado, Fernando de Mello Viana (1878-1954)

1950 – Em 4 de dezembro, o prédio passa a ser federal e se torna instituição de ensino superior

1962 – Em 30 de novembro, prédio é integrado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e se torna Escola de Música

1988 –Em 15 de março, é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha)

1996 – Deixa de ser escola de música, com a transferência da unidade para o câmpus da UFMG na Pampulha

1997 – Fica como sede da comissão organizadora do Centenário de Belo Horizonte

1998 – UFMG, via Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), começa a restauração do prédio

2000 – Prédio abre as portas como espaço cultural e recebe o nome de Conservatório UFMG


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