Alerta vermelho para os ônibus. As rodovias federais que cortam o estado já registraram muito mais mortes em acidentes com coletivos no primeiro trimestre deste ano do que em igual período em 2011 e 2010. Foram 41, nove e sete, respectivamente, um aumento de 471%. E o número de óbitos é ainda maior do que registrado nesses dois últimos anos inteiros. A média mensal de feridos também é superior. Já o número de acidentes no primeiro bimestre deste ano chega a 169, contra 157 em 2011 e 173 em 2010. A média de vítimas de ferimentos em 2012 pode ser ainda maior, já que a Polícia Rodoviária Federal ainda não tem o balanço fechado de março. Em janeiro e fevereiro, foram 203 pessoas feridas. E pelo menos outras 45 se feriram nas estradas mineiras em tragédias envolvendo ônibus, incluindo 15 que estavam na batida ocorrida ontem na BR-040. E ainda houve outro desastre ontem, no começo da noite, entre um ônibus e um carro, que deixou uma pessoa morta e uma ferida, no Km 700 da BR-262, em Araxá. Especialistas atribuem o aumento de vítimas ao crescimento da frota em circulação, que quase dobrou em 10 anos, além da imprudência habitual dos motoristas.
Desde janeiro, pelo menos 23 pessoas perderam a vida na 040, estatística que foge ao padrão de anos anteriores, já que neste período em 2011 e 2010 nenhuma morte foi registrada na rodovia. O total de óbitos deste trimestre também é maior do que todas as mortes de 2011, quando oito pessoas morreram, um aumento de 187%.
O acidente ocorreu às 7h20, no sentido BH-Rio, e como foi a poucos metros do posto da PRF, as vítimas tiveram atendimento imediato e a passagem aos motoristas foi garantida na faixa de rolamento da esquerda da rodovia. Ainda assim, uma fila de sete quilômetros se formou. A causa do acidente será investigada, já que as versões dos motoristas são divergentes. Mas informações da PRF denunciam infrações. Conforme os policiais, o tacógrafo recolhido no ônibus marcava 100 km/h na hora da batida, enquanto a velocidade permitida é de 90 km/h para esse tipo de veículo naquele trecho.
O motorista do Kadett, Nepomuceno Wellerson Estévão, de 35 anos, é inabilitado, segundo a PRF. Ele disse à polícia que aguardava no acostamento para acessar a 040 a fim de seguir para o trabalho, no Condomínio Alphaville, em Nova Lima. "Eu estava esperando e, de repente, o ônibus bateu em meu carro. Rodei na pista e não vi mais nada, só quando parei aqui (na entrada do posto de gasolina, cerca de 20 metros à frente)", contou. Ele teve escoriações na perna. O carro, no entanto, que ainda estava sendo pago e não tinha seguro, ficou destruído. Por não ter habilitação, Nepomuceno foi conduzido à delegacia de Nova Lima. Conforme a PRF, ele será multado em R$ 574 e terá o veículo apreendido.
Já o motorista do ônibus, Luiz Alves Teixeira, de 48 anos, alegou que foi surpreendido porque o Kadett entrou de repente na pista, mas a PRF afirma ter indícios que ele foi o causador da batida. "Todos os elementos levam a crer que o ônibus atingiu o Kadett no acostamento, fora da faixa de rolamento. O tacógrafo mostra também que o veículo trafegava a 100 km/h", afirmou o policial rodoviário Eduardo Xavier. Teixeira disse que trafegava a aproximadamente 80 km/h no momento da batida.
"Depois que o Kadett entrou na minha frente, perdi o controle da direção e não consegui mais parar o ônibus. Levei um choque na hora", contou, enquanto recebia atendimento numa unidade do Samu. O motorista, que tem 15 anos de profissão e está há três anos na Empresa Rio Negro/Transmoreira, fez o teste do bafômetro, que deu negativo. Testemunhas disseram que ele teria cochilado ao volante.
Feridos
As 15 pessoas feridas no ônibus foram socorridas pelo Samu e Corpo de Bombeiros e levadas para unidades de saúde de BH, onde fizeram exames. Dez foram liberadas até o fim da tarde. Uma foi o auxiliar de cozinha Diego Romanelly Domingues Silva, de 20 anos. "Estava cochilando na hora da batida. Assustei com a primeira pancada. Eu abaixei e pedi a Deus para que nada de ruim acontecesse. Depois da segunda batida, houve muitos gritos até o ônibus bater e capotar. Foi um grande susto".
Em nota, a empresa V&M Mineração informou que os empregados envolvidos no acidente estão recebendo a assistência necessária por meio do serviço social da empresa. Em relação aos outros envolvidos no acidente, a empresa disse estar acompanhando o atendimento junto à Rio Negro/Transmoreira. O diretor jurídico do grupo da empresa de transporte, no entanto, informou que a prioridade ontem era o socorro às vítimas e que aguardará o resultado da perícia para se manifestar.