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Estado de Minas SEM LUZ NO FIM DO TÚNEL

Mineiros que vivem no escuro não têm perspectiva para chegada da energia

Luz é esperada por muitos há mais de 10 anos. Já nas ruas de BH, o que falta é sintonia na marcação do tempo


postado em 27/03/2012 06:00 / atualizado em 27/03/2012 07:22

Primeiro pedido de ligação feito por Zé da Mata foi há 12 anos, mas engenheiros não trouxeram energia(foto: Fotos: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Primeiro pedido de ligação feito por Zé da Mata foi há 12 anos, mas engenheiros não trouxeram energia (foto: Fotos: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Catas Altas – Este era para ser um ano de transformações na vida de Ailton Acácio da Paixão, morador de Catas Altas, na Região Central de Minas. Era. "O engenheiro veio aqui e disse que a luz ia chegar até dezembro de 2011", conta. Se a promessa fosse cumprida, garantiria a construção da tão sonhada casa de alvenaria para "encher com a família", hoje separada pela falta de energia. É o que falta também para as famílias de Benedito Arantes, conhecido por seu Nonô, de 56 anos, e de José Maria da Mata, de 58, o Zé da Mata, que vivem na área rural de Catas Altas e esperam há pelo menos 12 anos na escuridão.

Segundo a Cemig, o fim dessa espera depende da nova fase do programa Luz para Todos, com aval do governo federal. De acordo com concessionária, nas suas três primeiras etapas, o projeto eletrificou cerca de 285 mil domicílios de famílias rurais, quase três vezes a quantidade original prevista, que era de 105 mil moradias, abrangendo os 774 municípios da área de concessão da empresa, nos quais há hoje 7,2 milhões de consumidores atendidos. O investimento total em todo o período do programa, de 2004 até 2011, foi de cerca de R$ 3 bilhões, sendo 23% da União e 77% da Cemig e do governo de Minas.

Pelas previsões da companhia energética, se o programa tiver continuidade, a empresa atuará em 517 municípios de sua área de concessão neste ano e em 2013. Cerca de 70% dos atendimentos previstos serão em áreas de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a exemplo das regiões dos Vales do Mucuri, Jequitinhonha, Noroeste e Norte. O planejamento por município, conforme a companhia, não foi concluído. Assim, os possíveis beneficiados pela autorização ainda não são conhecidos.

O Ministério de Minas e Energia informou que as famílias que ainda não dispõem de energia elétrica em suas casas serão atendidas pelo programa federal, nos termos do Decreto 7.520/2011, ou pela universalização do sistema de distribuição, nos dois casos sem custo para os consumidores. “O Luz para Todos está em fase de planejamento, definindo, em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Social, os pedidos de novas ligações para atendimento das famílias mineiras, com foco na população localizada na faixa da extrema pobreza.” Por meio de nota, a pasta destacou que todo cidadão morador da zona rural brasileira tem o direito de ser atendido sem custo, “bastando fazer o pedido junto à concessionária local”.

Mas o pedido de ligação elétrica foi feito por Zé da Mata há 12 anos. Desde então, ele já perdeu as contas de quantos engenheiros visitaram a casa. Nenhum trouxe a luz. “Eu morei 40 anos aqui, 40 anos na cidade e, nesse tempo, nada mudou”, lamenta a sogra dele, Francisca Romana Pereira, de 80 anos. Ela vive com o genro, que constrói nova casa em sua propriedade. Dividindo seu tempo entre o campo e o arraial, ela aguarda a chegada da energia para fixar moradia de vez no lugar onde nasceu e onde quer terminar a vida. “Aqui, a gente vive à base de lamparina a querosene, fogão a lenha e caneco. Na minha idade, não dá para ser sempre assim mais. Meu marido, por exemplo, tem diabetes. E sem geladeira para guardar a insulina, ele não pode me acompanhar”, suspira.

Da varanda da casa recém-construída, seu Nonô avista no alto da montanha o último poste da rede que atende a comunidade de Emical, a 10 quilômetros do Centro de Catas Altas. “Não acredito que parou ali, tão perto”, diz. Funcionário da prefeitura, ele reza para Santo Antônio e Nossa Senhora para ver realizado o sonho de trocar o lampião pela lâmpada. É do que precisa para se mudar com a mulher para o terreno que herdou da família, onde em todos os fins de semana cuida da plantação e se diverte no córrego que atravessa a propriedade.

 

Benedito vê de longe os postes que atendem a comunidade vizinha:
Benedito vê de longe os postes que atendem a comunidade vizinha: "Não acredito que parou tão perto" (foto: Fotos: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


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