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Estado de Minas

Falhas de motoristas e de engenharia agravam os congestionamentos em BH

Com aumento constante da frota, caos tende a piorar


postado em 26/03/2012 06:29 / atualizado em 26/03/2012 07:09

O gargalo na Avenida Raja Gabaglia, acesso ao Buritis: veículos que seguem para o bairro fecham as quatro faixas, duas a mais que as destinadas a quem vai fazer a conversão(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
O gargalo na Avenida Raja Gabaglia, acesso ao Buritis: veículos que seguem para o bairro fecham as quatro faixas, duas a mais que as destinadas a quem vai fazer a conversão (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
O motorista sobe a Avenida Nossa Senhora do Carmo e desce a Avenida Raja Gabaglia, na Região Oeste de Belo Horizonte. Ao seguir em direção ao Buritis, já se depara com o congestionamento na entrada do bairro, do lado esquerdo. Sem qualquer respeito por quem aguarda sua vez na sequência de carros, nosso condutor avança pela direita para forçar a entrada mais adiante. Enquanto não consegue furar a fila, impede o fluxo normal de quem precisa descer a Raja em direção ao Centro. O resultado dessa situação hipotética é bem real, e pode ser observado no dia a dia: retenção até o BH Shopping, se estendendo pela Nossa Senhora do Carmo. Confusão armada em uma das regiões de trânsito mais complexo da capital – um dos cinco pontos apontados por especialistas, a pedido do Estado de Minas, em que o abuso dos que dirigem repercute diretamente no tráfego da cidade inteira. Quem age assim é aquele tipo bem conhecido: para conseguir seu objetivo na marra, passa por cima de tartaruga, não sinaliza, entra de qualquer jeito e é alvo da ira dos demais. O desrespeito contribui para agravar a falta de estrutura viária ou os erros de engenharia de tráfego que resultam nos congestionamentos nossos de cada dia. Também atendendo à reportagem do EM, técnicos apontam o outro lado da moeda: cinco locais onde o estrangulamento se deve a projetos e gereciamento mal executados.

Seja por erros dos motoristas, seja por falha na infraestrutura, não é difícil prever que os problemas que travam ruas e avenidas em Belo Horizonte só tendem a piorar. Em um cenário em que a frota da capital mineira cresce em ritmo acelerado, tendo praticamente dobrado nos últimos 10 anos, a falta de educação e de soluções de gerenciamento aponta para um futuro sombrio. A quantidade de veículos saltou de 742.115 em janeiro de 2002 para 1.442.566 no primeiro mês deste ano (aumento de 94,4%). Mantida a média de crescimento dos últimos cinco anos, de 102.405 veículos/ano, a projeção será ultrapassar 1,5 milhão de veículos até 2013, chegando a 1.544.971 unidades para praticamente as mesmas vias.

Um motivo a mais para condenar os problemas causados pela simples má educação. “Esse local (a entrada do Bairro Buritis) é um dos exemplos de onde o motorista passa por cima de tudo para não ficar na fila. Talvez uma alteração geométrica pudesse impedir a migração de faixas. Mas o principal fator é a falta de respeito”, diz o chefe do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, Nilson Tadeu Ramos Nunes.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
O contador Thiago Lara, 23 anos, morador do Buritis, desce diariamente a Raja e sofre com o trânsito caótico nos horários de pico. “Costumo passar ali por volta das 18h. Já cheguei a ficar parado com o carro desligado por mais de 10 minutos. Acho que as pistas não têm capacidade para a demanda de veículos que vêm da Nossa Senhora do Carmo, Belvedere e Nova Lima”, diz.

A ânsia de tentar levar vantagem tem reflexos por toda a cidade quando ocorre nas princiais vias do entorno da rodoviária, ponto onde os especialistas são unânimes ao condenar os abusos ao volante. Por volta das 17h30 começa o inferno para quem precisa deixar a Avenida Antônio Carlos e cruzar a região da rodoviária pelo Viaduto B do Complexo da Lagoinha. A via elevada só tem duas pistas. Como as duas fileiras de veículos que tentam acessar o elevado atingem rapidamente a Antônio Carlos, alguns condutores forçam a passagem para que dois caibam em uma faixa. Outros vão bloqueando a pista que dá acesso à Avenida Pedro II para tentar furar a fila, formando assim até quatro fileiras paralelas de carros.

Um pouco antes, caminhões e carros que deixam a Rua Além Paraíba, no Bonfim, Noroeste de BH, ficam atravessados, bloqueando a via, para acessar, cinco pistas adiante, a entrada para a Avenida Nossa Senhora de Fátima. Do outro lado do viaduto, já no Hipercentro, ainda nas proximidades do terminal rodoviário, o problema são os carros que invadem as pistas exclusivas para ônibus das avenidas Santos Dumont e Paraná. Como os motoristas de ônibus não conseguem entrar em suas faixas, travam o trânsito, com reflexos nas avenidas dos Andradas e do Contorno. Quem espera para embarcar também sai prejudicado, pois muitos coletivos passam direto, já que os carros fecham o acesso aos pontos. Nessas duas áreas, para o professor da UFMG Nilson Tadeu Nunes, falta fiscalização.

O cruzamento das avenidas Silviano Brandão e Cristiano Machado é apontado pelo consultor de engenharia de tráfego Frederico Rodrigues como problemático principalmente pela ação desrespeitosa dos motoristas. Quem dirige pela Silviano Brandão em direção à Cristiano Machado e quer entrar à esquerda acaba parando na área de cruzamento, bloqueando a faixa exclusiva dos ônibus. “Fazendo isso, os condutores prejudicam a vida de 55% da população de BH, que passa pela Cristiano Machado nos horários de pico. Solução ali, só com fiscalização”, avalia o especialista em transporte e trânsito.

O quarto ponto levantado é o cruzamento das avenidas Santa Rosa e Antônio Carlos, no Bairro São Luiz, onde os motoristas avançam o sinal e fecham a interseção das duas vias no sentido aeroporto da Pampulha. As consequências são as colisões e os congestionamentos gigantes com o cruzamento completamente paralisado. “Ali, um detetor de avanço de sinal resolveria”, sugere o professor da UFMG, que como os demais especialistas condena também as conhecidas filas duplas nas portas de escolas, comuns a todas as regiões da cidade.

Palavra de especialista
Congestionamento de desrespeito


“Em Belo Horizonte, o motorista em geral se comporta de maneira extremamente individual. Ele não sabe dirigir em sociedade. O condutor não respeita a delimitação de faixas, toma as decisões de conversões e mudança de pista na última
hora, dirige muito devagar para procurar estacionamento e não tem o menor pudor de parar em fila dupla.”

Paulo Tarso Vilela de Resende
NÚCLEO DE LOGÍSTICA DA FUNDAÇÃO DOM CABRAL


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