Obras feitas sem projetos de engenharia e acompanhamento de responsáveis técnicos acendem o alerta de autoridades de Belo Horizonte, atentas ao risco de abalos em estruturas da construção civil. O problema é comum a todas as edificações, mas torna-se ainda mais grave nos casos de prédios tão antigos quanto os que caíram na noite de anteontem no Rio de Janeiro. Entre as possíveis causas da tragédia carioca está a realização de uma obra que pode ter abalado a estrutura do imóvel e provocado a queda das três construções. A exemplo da capital fluminense, Belo Horizonte também tem arranha-céus datados dos anos 1930, 1940 e 1950, que representam o início da verticalização da cidade planejada pelo engenheiro Aarão Reis.
Apesar da afirmação da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Belo Horizonte (Comdec) de que a capital não tem edifícios com risco iminente de queda, o órgão alerta para a importância dos projetos técnicos na realização de obras da construção civil. De acordo com o engenheiro da Comdec Eduardo Pedersoli Rocha, “qualquer intervenção requer parecer de um profissional especializado”, diz. O alerta é feito também pelo presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), Jobson Nogueira, que chama a atenção para o envelhecimento do concreto armado. A mistura de brita, cimento, areia e aço, segundo ele, é padrão no método construtivo brasileiro e precisa de vistorias e manutenção constantes. Sobre as construções de alvenaria portátil, onde as paredes compõem a estrutura do prédio, as restrições para obras, segundo ele, são ainda maiores.
A aposentada Clara Oliveira Assunção, de 83 anos, confirma a falta de manutenção. “Convivemos com a insegurança, sem saber se o prédio tem algum risco ou não, já que há trincas em vários locais, além de infiltração e vazamento. As tubulações são antigas. Faltam grandes obras, capazes de resolver isso tudo”, diz.
PIONEIRO
Localizado no cruzamento da Avenida Afonso Pena e a Rua São Paulo, no Centro, o Edifício Ibaté, construído em 1931, está de portas fechadas há anos. Nele, funciona apenas uma loja de sapatos na sobreloja. O gerente do comércio, Eduardo César, não teme desabamento, mas afirma que há infiltrações. O presidente do Crea afirma que se vistoriados frequentemente, os prédios que contam a história da cidade podem ser seguros. “O que precisam é de inspeção constante de profissionais qualificados, que, se for preciso, possam fazer análises estruturais e agir com o que chamamos de terapia do concreto”, garante.