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Estado de Minas

Pobres estão à mercê do vício no Vale do Jequitinhonha


postado em 07/11/2011 06:13 / atualizado em 07/11/2011 06:27

Aos 28 anos, Fernando garante que quer se livrar do crack. Por causa do vício, cometeu roubos e assaltos, foi preso e acabou baleado(foto: Luiz Riberio/EM/D.A Press)
Aos 28 anos, Fernando garante que quer se livrar do crack. Por causa do vício, cometeu roubos e assaltos, foi preso e acabou baleado (foto: Luiz Riberio/EM/D.A Press)
PONTO DOS VOLANTES – Aos prantos, a doméstica Olinta Alves Gonçalves lamenta o destino do filho, de 17 anos, que se tornou viciado em crack e, depois de trazer muitos problemas para a família, foi encaminhado a uma clínica de recuperação em Belo Horizonte, a 635 quilômetros do lugar onde mora, o pequeno (e pobre) município de Ponto dos Volantes, de 10,7 mil habitantes, localizado no Vale do Jequitinhonha e que tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,594. “Não esperava que meu filho fosse encontrar crack aqui, mas , descobri que existia uma boca de fumo na minha rua”, lamenta a doméstica.

Como Olinta, muitas outras mães e pais foram surpreendidos com a epidemia do crack que se espalhou rápido pelo país. Levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) que será apresentado hoje, em Brasília, revela que 63,7% de 4.400 municípios pesquisados enfrentam problemas de saúde decorrentes da droga, que, conforme estudo anterior realizado pela própria CNM, está presente em praticamente todas cidades pesquisadas (98%).

O crack deixou de ser problema apenas das grandes cidades – onde as pessoas há muito convivem com o alto consumo da droga – e invadiu municípios pobres, com baixo Índice de Desenvolvimento Humano. Essa realidade é facilmente constatada no Vale do Jequitinhonha, a região mais carente de Minas e uma das mais pobres do país. Moradores do vale sempre conviveram com a seca, o desemprego e a miséria. Agora, junto com a falta de expectativa de melhorias, enfrentam o problema do crack, cujos efeitos devastadores não se restringem à saúde dos viciados e atingem em cheio a estrutura familiar.

Mas por que a droga avançou rápido em áreas carentes como o Jequitinhonha? O fato de a região ser cortada pela BR-116 favorece muito. Isso é verdade, mas há outros fatores para a chegada do crack nas pequenas cidades. Um deles é a facilidade de transportar e esconder a droga. Outro é que os adolescentes e jovens desses municípios não têm dimensão do poder viciante do crack ( subproduto da cocaína misturado com outros produtos nocivos à saúde, que podem levar à morte). “Conheço muitos casos de adolescentes que usaram uma vez e se viciaram”, afirma o soldado da Polícia Militar Abrão Costa Martins Júnior, de Itaobim.

Olinta Alves não consegue conter o choro ao falar do drama do filho, de 17 anos, usuário de crack(foto: Luiz Riberio/EM/D.A Press)
Olinta Alves não consegue conter o choro ao falar do drama do filho, de 17 anos, usuário de crack (foto: Luiz Riberio/EM/D.A Press)
Formado em enfermagem e com pós-graduação em tratamento de dependência química, Abrão desenvolve um trabalho de combate às drogas e o encaminhamento de viciados para centros de recuperação em 12 municípios do Jequitinhonha. “Em todos eles já existe o crack, que chegou até a zona rural”, assegura Abrão, que faz palestras para estudantes dentro do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), da PM. Em pouco mais de cinco anos, ele já levou mais de 200 adolescentes e jovens para centros de recuperação. “Como o comércio é fácil e os jovens se viciam rapidamente, o crack atraiu muito o interesse dos traficantes, pela possibilidade de lucro fácil”, diz o militar.

Curiosidade
“Experimentei o crack por pura curiosidade, aos 15 anos. Desde a primeira vez que usei, virei viciado. Acabou com minha vida”, declara Fernando (nome fictício), de 28, morador de Itaobim. Na cidade, de 20,9 mil habitantes e IDH de 0,689, também às margens da BR-116, o consumo da droga se multiplica e amplia a violência por conta da formação de gangues de adolescentes e jovens.

“Crack é uma ilusão. Quando a gente usa a primeira vez, dá uma sensação que dura de 10 a 15 segundos. A partir daí é só destruição”, acrescenta Fernando, revelando que já chegou a fumar 50 pedras por dia. Ele não tem receio de contar que, por conta do vício, roubou e assaltou, ficou preso e quase foi morto. Por causa de drogas, levou três tiros. Sobreviveu e se convalesce de um tiro na perna esquerda. Agora, luta para ser encaminhado a um centro de recuperação para se livrar da dependência química.

“Já usei vários tipos de droga, como maconha e cocaína. Mas os efeitos do crack são mais destruidores”, diz. “O conselho que dou é que ninguém ponha uma pedra de crack na boca. Se fizer isso, vai perder tudo, como eu perdi”, acrescenta.

 


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