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Estado de Minas

Flanelinhas deixam de ser guardiões e passam a arrombadores


postado em 24/10/2011 07:10

Jeferson de Oliveira foi pilhado dentro do carro do
Jeferson de Oliveira foi pilhado dentro do carro do "cliente", com vidro quebrado. Depois de ouvir a distância a conversa entre motorista e PM , foi detido como suspeito. Na delegacia, apareceu a condenação por furto (foto: Rentao Weil/EM DA Press)
A noite do flanelinha Jeferson de Oliveira, de 34 anos, começou na condição de guardião dos carros que estacionavam em “seu ponto” na Avenida Getúlio Vargas, entre as ruas dos Inconfidentes e Paraíba, na Savassi. Horas depois, na sexta-feira, ele se dizia o herói que enfrentou um criminoso que arrombou um Classic. Mas foi parar atrás das grades, quando se revelou o próprio vilão que furtava o veículo. O roteiro é parte da rotina de abusos que rondam a região da Savassi, Centro-Sul de Belo Horizonte, e serve de amostra do perfil das pessoas que dizem vigiar carros nessas ruas.

Para dar conta de todas as ocorrências da noite da última sexta-feira e madrugada do sábado, a fiscalização das irregularidades parece depender de apenas uma equipe da Polícia Militar. A constatação da reportagem do Estado de Minas ocorreu dois dias depois da operação conjunta da PM e da prefeitura, no que parecia ser o início de uma sequência de ações para fechar o cerco aos infratores.

Porém, na sexta de baixa temperatura e garoa insistente, mesmo diante do pouco movimento, a reportagem do EM flagrou donos de veículos sofrendo extorsão para estacionar, motoristas bebendo e dirigindo, parando em fila dupla e sobre os passeios, e donos de bares fazendo das calçadas a extensão de seus estabelecimentos. O difícil mesmo foi flagrar fiscais, guardas municipais ou policiais militares para coibir o festival de infrações.

Só escaparam dos abusos, dessa vez, os quarteirões fechados em reforma. Num deles, na Rua Antônio de Albuquerque, entre Alagoas e a Praça Diogo de Vasconcelos, uma viatura da Guarda Municipal ficou estacionada, com as luzes de alerta apagadas. Os agentes não foram vistos na região. No período, a reportagem constatou apenas o policiamento ostensivo realizado por dois militares em um carro da 4ª Companhia do 1º Batalhão da PM, os mesmos que atenderam a ocorrência do flanelinha arrombador.

REVIRAVOLTA

A sensação de insegurança foi real na madrugada do sábado para o estudante Samuel Cabral de Castro, de 20 anos, e registrada de perto pelo EM. A equipe de reportagem passava pela Avenida Getúlio Vargas, logo depois da Rua dos Inconfidentes, em direção à praça, quando percebeu o alarme de um Chevrolet Classic preto disparado. O vidro traseiro direito estava quebrado e, no banco de trás, o flanelinha, que se identificou como Jeferson Oliveira, que horas antes havia sido visto pedindo dinheiro a motoristas para guardar os seus veículos.

Ele disse ter entrado em luta corporal com um arrombador, que conseguiu fugir sem nada levar do carro que ele tomava conta. Curiosamente, ao sair do veículo, tinha em mãos um alicate de pressão. Perguntado se sabia quem era o dono do carro, disse que sim, mas não explicou onde estava o cliente, e insistia que já havia ligado para polícia, embora não tivesse nenhum aparelho de celular em mãos.

À 1h11, de fato o telefone 190 da PM foi acionado pela equipe do EM para informar sobre o arrombamento. À 1h20, nova ligação feita pelo estudante Samuel Castro, e depois à 1h37, por um colega dele. A viatura 18.258, comandada pelo sargento Alexandre William, chegou à 1h40. Assim que ouviram as versões, os militares deram ordem de prisão ao flanelinha, que então já dizia ter enfrentado três arrombadores, mas não conseguia explicar o que fazia com um alicate em mãos. Segundo o militar, até então, aquela era a ocorrência de maior relevância de sua ronda na Savassi.

“Eu e meus colegas fomos à delegacia, de onde saímos às 5h30. Fui bem atendido pelos policiais militares e civis, apesar da demora. Surpresa foi saber que o flanelinha ia ficar preso, pois era procurado pela polícia por um arrombamento a uma loja de ferragens, além de ter uma condenação de sete anos por furto. Agora, vou pensar melhor antes de ir à Savassi para um lanche com os colegas”, afirmou Samuel.


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