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Estado de Minas

Ruas íngremes de BH representam desafio diário a moradores

Do lixeiro que não passa ao táxi que não sobe, conheça o dia a dia de quem vive nas alturas


02/10/2011 08:20 - atualizado 02/10/2011 08:47

Na Rua Daniel de Carvalho, no Bairro Gutierrez, pedestre precisa de rampas, degraus e até corrimãos
Na Rua Daniel de Carvalho, no Bairro Gutierrez, pedestre precisa de rampas, degraus e até corrimãos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

O advogado Rafael Lutti, de 31 anos, não é adepto de modos de vida alternativos nem de esportes radicais. Mas, quando está a pé, escala uma montanha para chegar em casa. Não por acaso, da janela do apartamento ele volta e meia se depara com veículos 4x4 sendo testados em frente ao prédio, localizado em rua urbanizada, com água encanada, luz elétrica e todos os serviços a que um cidadão de Belo Horizonte poderia ter direito. No caso da Rua Caramuru, onde mora Rafael, no Bairro Luxemburgo, Região Centro-Sul, a prefeitura tem, inclusive, trabalho adicional. É porque o caminhão de lixo não desce nem sobe a via, com 31% de declividade, algo próximo a 17° (17 graus), em uma escala para medir ladeiras que vai até 45°.

Mas, em se tratando da capital mineira, famosa por seu relevo montanhoso, Rafael está longe de ser caso isolado. Levantamento inédito da Prodabel (Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte), feito a pedido do Estado de Minas, mostra a inclinação dos 4,7 mil quilômetros de ruas da cidade. A constatação é de que há ruas habitadas que superam em muito a inclinação máxima permitida atualmente pela prefeitura, de 47% (25°). A campeã entre as ladeiras, com 57% de inclinação, ou 29,6°, é a Rua Expedicionários, no Conjunto Taquaril, na Região Leste, onde está concentrada a maior parte das ladeiras da cidade A via, identificada como rua pelos cadastros do município, é um barranco de terra e pedras.

Faz 20 anos que o auxiliar de eletricista Luís Alves de Sousa, de 54 anos de idade e um machucado na testa, mora no endereço, “o melhor do mundo”, segundo ele, um dos primeiros a chegar e um dos últimos a resistir, já que a área é de risco. “Aqui a água nem empoça, passa direto.” E o machucado? Foi fruto do primeiro tombo dele na rua, na semana passada. “Estou ficando velho”, diz “seu” Luís, ao contar que carteiros e funcionários da Cemig e Copasa nem sempre têm coragem de encarar a expedição. “Mas, quando tive um infarto, o Samu veio me buscar. Subi de maca”, lembra o simpático morador, que sonha ver uma rampa ser construída na rua.

(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Mundo particular

 

Seja em aglomerados ou na cidade formal, viver em vias íngremes, como os belo-horizontinos bem sabem, tem lá suas particularidades. As mulheres são obrigadas a abrir mão do salto. “Geralmente, levo os sapatos na bolsa”, conta Fabiana Cesário, de 24, moradora da Rua Matipó, com 24% de declividade, no Santo Antônio, bairro da Região Centro-Sul, que, apesar de não ocupar os primeiros lugares no ranking da Prodabel, está sempre na memória dos motoristas quando o assunto são ladeiras. O taxista Flávio Ferreira Xavier circula 250 quilômetros por dia na capital mineira, mas não se esquece da vez em que o carro, de possante motor 1.8, derrapou na Matipó. “Tinha chovido, estava um pouco molhado, mas comecei a subir com o carro numa boa. Na metade do quarteirão começou a deslizar”, lembra. Tem motorista que prefere não arriscar e acaba deixando o cliente em rua mais suave.

O advogado Rafael, da Rua Caramuru, sabe bem o que é isso. “Como já tive a recusa de um taxista, sempre respeito e até falo que podem me deixar na esquina”, conta. A propósito, a cama nova de casal, quando foi entregue, também foi deixada na esquina, e levada na “raça” pelos carregadores até o prédio do morador, no meio do quarteirão. O caminhão de lixo também para na esquina, procedimento padrão da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) para vias com declividade de até 20%. “Acima desse percentual, há risco de acidente”, conta a chefe da Divisão de Coleta da SLU, Rosilene Viana de Freitas Souza, explicando que o gari busca o lixo na porta e leva até o caminhão. Apesar de tantas peculiaridades, ainda assim Rafael vê recompensas de morar numa ladeira. “A vista que tenho da Serra do Curral é sensacional”, diz.

Ainda sobre carros e morros, basta visitar a Rua São João Evangelista, no Santo Antônio, com 21% de declividade (11°) e trânsito intenso, para perceber que nem sempre inclinação alta significa pouco movimento. Nesses casos, as freadas e arrancadas fazem parte de uma sinfonia natural da via. O visual dessas ruas também é bem característico para o motorista. A impressão é de estar à beira de um precipício ou a caminho do céu. Que o diga o motorista que enfrenta a Rua Copérnico Pinto Coelho, no Bairro Santo Antônio, que, com seus 55% de inclinação, é considerada a rua pavimentada mais íngreme entre os bairros da capital. (Colaborou Eduardo Aquino)


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