Um menino de 11 anos foi flagrado nessa quarta-feira à tarde com um revolver calibre 38, carregado, numa escola municipal de Belo Horizonte, na Região da Pampulha. Pais e professores ficaram surpresos, já que o garoto não é considerado problemático. O caso na Pampulha é mais um a engrossar as estatísticas da violência nas escolas públicas municipais e estaduais da capital. De acordo com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), o número de registros de crimes contra o patrimônio e pessoas nas instituições de ensino de BH saltou de 82 no primeiro semestre de 2010 para 197 no mesmo período deste ano, um aumento de 140%.
Outros casos de violência assustaram Belo Horizonte nos últimos dias. No sábado, um adolescente de 17 anos tentou matar Marco Túlio Miranda Dias, de 38, auxiliar de serviços gerais de uma escola do Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O menor infrator foi apreendido na terça-feira e liberado depois de prestar esclarecimentos, aos cuidados de sua mãe. O servidor pediu dispensa da escola. “Quero colocar uma pedra sobre tudo isso. Hoje me arrependo de ter cumprido com meu dever ao repreender o aluno indisciplinado. Trabalhava com amor, pois me formei naquela escola. Mas hoje entendo o motivo de muitos servidores fazerem vista grossa aos abusos dos estudantes”, explicou Marco Túlio, que garante que nunca mais volta a trabalhar numa escola pública.
No dia 25 de agosto, um estudante de 15 anos agrediu a diretora da Escola Municipal Maria Silva Lucas, em Contagem, na Grande BH. O adolescente está acautelado numa unidade própria aguardando a aplicação de medidas socioeducativas. Na sexta-feira, um menino de 12 anos ameaçou duas adolescentes com uma arma de fogo na Escola Estadual Doutor Paulo Diniz Chagas, no Bairro Gameleira, Região Oeste de BH, dizendo que queria namorá-las.
Diagnóstico
O professor universitário de ciências sociais e especialista em criminalidade Luis Flávio Sapori considerou “preocupante” os números da Seds. “Estou surpreso com esse crescimento da violência escolar. Penso que é urgente um diagnóstico desse quadro junto às comunidades escolar. Desde 2006, registrávamos uma queda do número de ocorrências”, assinalou. O secretário adjunto de Defesa Social, Genilson Zeferino, afirmou nessa quarta-feira que o governo já está atento aos números. “É um fenômeno novo que exige uma resposta nova. Estamos identificando as escolas em que esse fenômeno se faz mais presente, para atuação do ponto de vista da proteção, com reforço do policiamento ostensivo, e também da prevenção, com intensificação dos programas das duas secretarias (Educação e Defesa Social) que promovem a cultura da paz na comunidade escolar”.
De acordo com Zeferino, os números das estatísticas da Seds apontam índices diferentes da violência escolar. “Há um número significativo de aumento dos enfrentamentos entre os próprios alunos dentro do espaço da escola. E também constatamos o registro de ações contra a instituição, de vandalismo e furto. E há ainda os casos de brigas, com situações de homicídio, de pessoas que não estão ligadas ao ambiente escolar, mas que ocorrem próximas aos prédios escolares”, disse.
Enqaunto isso, investigação em São Paulo
Depois de ouvir os pais e o irmão do menino de 10 anos que atirou contra uma professora dentro da sala de aula e em seguida se matou, em São Caetano do Sul (Grande SP), a delegada responsável pelo caso, Lucy Fernandes, afirmou que não deve indiciar o pai por negligência. Ela contou que o pai do menino – que é guarda municipal – disse que os filhos sabiam onde o revólver calibre 38 era guardado e que sempre foram orientados em relação aos perigos de se aproximar da arma. De acordo com Lucy, ainda não é possível esclarecer os motivos que levaram o menino a cometer o crime.