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Estado de Minas Vodca, uísque, pinga, tequila...

Em viagem de formatura pela Bahia, jovens abusam de bebidas alcóolicas


23/07/2011 06:00 - atualizado 23/07/2011 07:24

“Não vira não. Bebe devagar para não ficar alterado antes da hora”. Foi esse o conselho de um dos monitores para um grupo de formandos que tentava terminar sua bebida rapidamente antes de entrar no ônibus que os levaria para a primeira festa da semana em Porto Seguro, Bahia. Sem escutar o que ele tinha a dizer, viraram o copo antes de entrar.

Dois amigos viram copo de Farmácia, drinque à base de tequila servido pegando fogo: bebidas são vendidas livremente durante as festas
Dois amigos viram copo de Farmácia, drinque à base de tequila servido pegando fogo: bebidas são vendidas livremente durante as festas (foto: Bruno Senna/Esp. EM/D.A Press.)
O drinque que eles tinham acabado de comprar não foi o primeiro da viagem. Os mais ansiosos começaram a beber algumas horas antes, ainda em Belo Horizonte, no aeroporto de Confins. O grupo, inicialmente com quatro meninos, uma garrafa de vodca Absolut e refrigerante, rapidamente cresceu e incluiu meninas que faziam questão de fumar um cigarro antes de entrar na sala de embarque. “Chegando lá vai ter muita festa, curtição, loucura. A gente está entrando no clima”, conta Eduardo (*), de 18 anos, que terminou uma garrafa de vodca com três amigos antes de entrar no avião. Pouco tempo depois da chegada, os estudantes saíam para a primeira balada da semana, na Boca da Barra, onde mais de 1 mil alunos de outras escolas já haviam começado a festa. Apesar da vontade de beber antes de chegar à festa, não faltou álcool do lado de dentro. Sem necessidade de identidade para fazer a compra, os formandos abriam a semana com drinques como o Farmácia, à base de tequila e servido pegando fogo. Dia e noite Com direito a show de axé e espaço de música eletrônica, não faltaram casais em todos os cantos mais escuros ou adolescentes caindo no chão, incapazes de manter o equilíbrio e dançar ao mesmo tempo. Para contar o que já tinham bebido durante a noite a resposta vinha acompanhada da mão, que enumerava os tipos de bebidas. “Cerveja, vodca e energético!”, contou Guilherme (*), de 17, que dançava axé, sem camisa. Também curtindo a festa estava a namorada dele, de 17. “Bebi cerveja, cachaça e vodca, mas estou de boa”, disse ela. “Ele que bebeu além da conta, como sempre. Já tive que comprar refrigerante e hambúrguer para ele, que estava pior, deitado no canto”, declarou. No dia seguinte, às 9h, já era possível encontrar alguns dos adolescentes da festa bebendo na beirada da piscina. Oficialmente é proibido consumir álcool nos quartos ou em áreas comuns, mas a regra não é seguida. “A gente comprou nove garrafas de vodca, três de uísque, uma pinga e uma tequila no aeroporto, mas a tequila quebrou no avião”, contou um formando que não quis se identificar. “Meu pai sabe que bebo, mas não sabe que é tanto. Coloca no jornal que a gente tinha uma garrafa e meia”, pediu. Nem todos tinham levado seu destilado de escolha de Belo Horizonte, mas a compra não era difícil. O grande desafio consistia em entrar com a garrafa no hotel, uma vez que toda mochila e bolsa – ao contrário das malas – era revistada na entrada. Sem paciência com a regra, havia quem arriscasse pular o muro – com sucesso – para entrar com as compras no quarto. A viagem de formatura é feita por jovens de todo o Brasil, mas monitores alegam que os formandos de Belo Horizonte dão mais trabalho do que a maioria. “BH tem um perfil um pouco diferente. Eles bebem um pouco mais do que a galera de São Paulo capital”, compara Kamila Tonche, que acompanha a viagem de turmas de 3º ano há seis anos com a Forma. “A turma do interior de São Paulo compete, mas eles caem com mais facilidade. O pessoal de BH permanece em pé mais tempo. A gente fala que é o queijo”, brinca. (*) Nomes fictícios Pediu para sair
(foto: Bruno Senna/Esp. EM/D.A Press.)
Nem todo mundo curte a viagem para Porto Seguro. Ana (nome fictício), de 17 anos, pediu para ir embora antes de completar 24 horas na cidade e retornou para Belo Horizonte. “Todo mundo fala que vou ser a primeira passageira a embarcar no segundo dia, mas comecei a ter crise de pânico aqui”, contou a adolescente enquanto olhava o mar na Praia de Taperapuan (foto). “Vim por impulso, por influência dos amigos, mas o pessoal começou a beber às 9h da manhã. Não dá para mim”, justificou a menina, que pagou R$ 1.700 pela viagem e teve de arcar com a passagem de volta. Ela conta que antes de chegar imaginou algo diferente, que envolvesse mais a turma. “O povo não curte, cada um fica em um canto bebendo. Você tem que vir solteiro, querendo pegar”, diz. Nem todo mundo cai na farra
Os amigos João Menegale e Júlia Mazzi, ambos de 17 anos, encararam a viagem, mas assumiram não gostar de “axé, funk ou lugar muito cheio”. “Essa é a última viagem com a minha turma, vim curtir com a galera”, contou Júlia. “Estou aqui para aproveitar, mas não vai dar para beber. Mesmo porque não trouxe dinheiro o bastante para ficar enchendo a cara”, disse João. O plano da dupla se resumia a aproveitar bem os passeios diurnos – incluídos no pacote – e evitar as baladas. “Acho que assim vou pegar o pessoal menos bêbado”, disse Júlia. Outros tempos Quando fui a Porto Seguro para a minha viagem de 3º ano, em 2004, encontrei uma situação muito diferente da que vi essa semana. Há sete anos se bebia tanto quanto hoje, talvez ainda mais. A grande diferença está na estrutura que os jovens embriagados têm, inexistente em 2004. Aos 18 anos, fui ao posto médico da cidade duas vezes, carregando amigas em situação preocupante. Sem estrutura para atender as centenas de jovens que passam as férias na cidade, o atendimento público oferecia pouco mais que um saco de soro com glicose e o conselho de procurar seu médico ao retornar. Além do atendimento de emergência, os poucos monitores que acompanhavam a viagem não tinham como ficar atentos ao que os jovens faziam ou aonde iam. Durante uma festa no Axé Moi, que fica na areia da praia, pessoas claramente embriagadas poderiam entrar no mar durante o dia ou a noite. Atualmente, se vê uma linha de monitores, que apitam e correm atrás de quem tenta entrar no mar. Ir a Porto Seguro e beber em excesso antes do vestibular já virou uma tradição dos jovens mineiros. Fazer isso dentro de um ambiente controlado é a novidade.


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