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Estado de Minas

Convivência com animais de estimação ajuda no humor e nas relações de afeto


17/07/2011 07:04 - atualizado 17/07/2011 07:08

Os cães Menotti da raça akita e Apolo da raca dalmata(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Os cães Menotti da raça akita e Apolo da raca dalmata (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Eles guiam cegos, esquadrinham esconderijos e fazem a alegria de muita gente. São bem mais que melhores amigos. Para muitos, os cachorros já fazem parte da família e ganham cada vez mais espaço na casa e no coração das pessoas. Para os especialistas, quem convive com um animal de estimação tem muito a ganhar. Eles ajudam no humor e nas relações de afeto. O triste é que vivem pouco. Um ano na vida do homem representa sete para o cachorro. Com isso, o tempo médio de vida chega a 15 anos para cães pequenos e 9 para os grandes. Há casos raros. Registro recente, na Inglaterra, mostra uma cadela da raça border collie, de nome Bramble, com 27 anos. É por essa razão que quem tem um cão de estimação não mede esforços e gastos para prolongar a vida e dar dignidade e conforto a esses seres tão queridos. Conheça algumas histórias de afeto e dedicação de donos de cães em Belo Horizonte, como a do akita Menotti, gravemente doente, que foi salvo graças ao amor incondicional de Marilda Parreiras, administradora,
e de sua filha, Aline.

Menotti tem 8 anos e muita história na família. No ano passado, com sério problema nos rins, esteve à beira da morte e foi parar no CTI. Passou 10 dias no Centro de Tratamento Intensivo de um hospital de medicina veterinária avançada no Bairro Carlos Prates. Marilda, que também tem o dálmata Apolo, não economizou para salvar seu akita. Obteve desconto, juntou recursos e parcelou o montante. É muito grata ao apoio dos doutores Awilson Viana, Rodrigo Rabelo, Ana de Souza e Flávio Medeiros. Uma junta médica solidária ao drama de Marilda, que somou esforços pela vida do Menotti. "Lembro-me bem de quando o doutor Awilson me ligou e pediu que fosse até a clínica. Foi terrível. A gente sempre pensa o pior. Já era tarde da noite. Lá, ele me disse que o caso era grave e que a solução seria encaminhá-lo para uma outra clínica especializada em tratamento intensivo. Não tive dúvidas. O que eu queria era o melhor para o Menotti. Seguimos com urgência para o hospital. Lá, ele ficou internado por 10 dias", conta.

Para a veterinária Ana Augusta de Souza, histórias como a de Menotti comprovam a importância que os animais têm hoje na vida das pessoas. A doutora, encantada pela profissão, mostra as dependências da clínica especializada, com CTI, laboratório e salas de fisioterapia e acupuntura, que ela ajuda a administrar e busca ser referência no atendimento de urgência em Minas Gerais. Há até berço com bichos de pelúcia para os pacientes em pós-operatório. Lista casos de cuidados especiais como os da Belinha, do Fritz, da Lua, do Negão e do Dudu. Todos, claro, chamados pelo nome. "Para nós, não existe nenhuma diferença. Nossa equipe tem o maior carinho por todo paciente que a gente recebe. Eles são tratados como pessoas", afirma. De fato, não parece ser diferente. Durante a visita do Estado de Minas ao hospital, Ursa, bela cadela labradora, de cor chocolate, recebia massagem e tratamento fisioterápico com equipamento de ponta. Ao ouvir a doutora dizer seu nome, serena, a paciente abanou o rabo e chegou a “sorrir”. Do lado de fora, na Rua Patrocínio, o motorista da família de Ursa esperava pelo fim da sessão para levá-la para casa.

Salva-vidas

Rodrigo Rabelo, com doutorado na Espanha e experiência internacional em tratamento intensivo, consultor em diversas regiões do Brasil, acredita em parcerias para levar adiante seu conceito diferenciado de urgência. Ele trabalha com índices prognósticos de sobrevida em pacientes graves. Foi ele quem fez a matemática das chances de sobrevivência de Menotti, com um rim atrofiado e o outro comprometido, com quadro grave de complicações – o cão chegou a passar dias sedado, com a barriga aberta, protegida por tela especial. Conta que já passou dias de carnaval no bloco cirúrgico para salvar Toquinho, o pinscher da Isabela, que veio de Araxá, de avião, em estado muito grave. Tudo pelos animais.

Eutanásia, nem pensar. Dr. Rodrigo fala com a convicção de salva-vidas e admite o recurso apenas em casos insolúveis. "A eutanásia em veterinária é um escape de incompetência e ineficiência técnica brutal. Para quem não tem experiência, sacrificar é tirar o peso das costas", critica. Entregue ao ofício, apaixonado por animais, especialmente pelos cães, o médico trouxe da Rússia sua mais leal companheira: a cadela Nica. Uma doberman, presente recebido num congresso em Moscou. Foram 1, 5 mil euros para trazê-la para o Brasil. Antes, moraram juntos seis meses na Espanha. Dividiram uma quitinete de 60 metros quadrados em Madri, onde Rodrigo terminava o doutorado. Nica tem passaporte e tudo. É a mascote do doutor.

Cláudia e os cinco gigantes

Dogue alemão é raça imponente, uma das mais altas do mundo – o cão pode pesar mais de 100 quilos e ultrapassar dois metros. A psicopedagoga Cláudia Gouveia Motta Guimarães tem cinco. Todos com nome, sobrenome e identidade eletrônica por meio de chip subcutâneo. Ela, o marido e a matilha moram em Nova Lima, no Condomínio Passárgada, em terreno de 3 mil metros, com 450 metros de área construída. Toda a casa foi pensada especialmente para a convivência com os cachorros, que têm livre acesso a todos os cômodos do lugar. Móveis planejados e material de construção escolhido para o conforto dos dogues.

É uma bela história, que começou com uma cadela de nome Shaika, há 8 anos. Cláudia queria um cão dócil, mas que impusesse respeito. Encontrou no dogue alemão tudo o que precisava. Encantou-se pela filhote Shaika. Logo depois, para ajudar um amigo, médico que foi estudar no exterior, ela recebeu como hóspede temporário outro cão da mesma raça: Yuri. Acabou ficando com ele. Yuri adoeceu e "partiu". Shaika ficou tão triste que ganhou o Czar, vindo de São Paulo, como novo companheiro. Com ele, teve nove filhotes, mas, infelizmente, não resistiu ao parto. Cláudia se desdobrou para dar conta dos pequenos órfãos. Teve a ajuda de uma cadela pastor-alemão, que, carinhosamente, assumiu o ninho.

Da ninhada, cinco foram doados, depois de seleção rigorosa para a escolha dos donos – houve até reprovados. Ficaram em Passárgada Joe, Tosten, Catarina e Indiana. Joe teve vida curta: morreu de infarto. A perda da Shaika foi mais difícil de superar. "Com a morte da Shaika, quem também ficou muito triste foi o Czar. Aí, trouxe a Daphine para fazer companhia pra ele", conta. Daphine, este ano, teve bico de papagaio na coluna, chegou a tomar morfina e teve que ser sacrificada. "Foi terrível", lamenta. Cláudia, por opção, não tem filhos. A psicopedagoga, há anos, passa a maior parte do tempo com crianças com algum tipo de dificuldade de aprendizagem. São horas diárias de dedicação ao trabalho, citado com especial carinho. Já os cães são a família da especialista e do marido. É assim para Cláudia e seus cinco gigantes. É assim para Marilda e a filha, fãs do Menotti, "irmão" de estimação do Apolo, um dálmata muito “gente boa”.

Segundo no ranking

Pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos para Animais de Estimação (Anfalpet) indica que o mercado pet mundial movimentou, em 2010, US$ 76 bilhões. No Brasil, já são contabilizados 34,3 milhões de cachorros – fora os cerca de 20 milhões largados à própria sorte. O que deixa o país, em população canina, atrás apenas dos Estados Unidos.


Palavra de especialista

Fábio Borges
Psicanalista

Desamparo e transferência

É preciso tomar cuidado com os exageros. Algumas pessoas vivem exclusivamente por conta de seus animais. Essa é a parte ruim. O ideal é contrabalançar as coisas. Mas encontrar esse equilíbrio não é fácil. A convivência com os cachorros faz muito bem, especialmente às crianças. Elas estabelecem uma relação muito mais simples com seus bichos. Os mais velhos costumam se perder nessa relação. Não é difícil entender isso. Está em Darwin, em Freud. O humano é naturalmente desamparado. É uma espécie que, desde pequena, precisa do outro. O que vem acontecendo nos últimos tempos, muito em função da solidão das pessoas e de uma série de referências semidestruídas, é que o homem vem tentando preencher isso com os animais. Assim como tenta preencher com gente. Só que os animais, em princípio, são mais acessíveis e mais fieis. Aí, ocorre uma transferência de sentimentos. Já tive cachorros. Perdi recentemente, há uns cinco meses, o Ode, um labrador, e até hoje, muitas vezes, me pego procurando por ele quando chego em casa.


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