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Estado de Minas 12,5 SEGUNDOS PELA VIDA

Tempo de semáforos ameaça a vida de pedestres na capital

Sinais abertos por pouco tempo e imprudência de motoristas forçam pedestres a apertar o passo para cruzar vias em BH. Para idosos e pessoas com limitações, risco é ficar no meio do caminho


postado em 14/07/2011 06:00 / atualizado em 14/07/2011 11:58

ACELERANDO - Na Avenida Afonso Pena, no Centro, motoqueiros não esperam pedestres completarem a travessia em cruzamento com sinal(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
ACELERANDO - Na Avenida Afonso Pena, no Centro, motoqueiros não esperam pedestres completarem a travessia em cruzamento com sinal (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

O pé mal alcança o passeio e o alívio se confunde com a sensação de missão cumprida. O aposentado Geraldo Apolinário da Silva, de 55 anos, duas muletas e um pé amputado, conseguiu, com custo, vencer mais uma corrida contra o tempo no semáforo de um dos principais cruzamentos do Centro de Belo Horizonte. Deixou para trás 24 metros de percurso e dezenas de carros acelerados na Avenida Afonso Pena, em frente à Praça Sete, que já o pressionavam sobre a faixa de pedestres, mesmo antes de o sinal abrir para os carros. “O tempo não é suficiente para atravessar”, reclama. “Para mim, é mais complicado ainda.”

A queixa é compartilhada pelo pequeno João Pedro Fernandes, de 6 anos, que ainda está aprendendo a identificar as placas de trânsito. Ele e a mãe, Maria Helena Fernandes, de 42, carregada de mochilas e pastas, se apressaram para atravessar uma parte da via, na esquina com Avenida Getúlio Vargas. Ali, o sinal fica 16 segundos aberto para os pedestres. “É muito rápido”, diz João. A secretária Dalva Maria Ferreira, de 50, que precisa atravessar em até 23 segundos cada uma das quatro pistas da Avenida Antônio Carlos, reclama: “Aqui, a gente vê a morte de perto”, afirma. Ela apertou o passo para completar o percurso de 12 metros em 15 segundos.

A reportagem do Estado de Minas percorreu nove dos 847 cruzamentos com semáforos da capital. Na maioria deles, pedestres tiveram alguma dificuldade para completar a travessia. O desafio é maior para idosos e pessoas com limitação motora. Ao pouco tempo, somam-se queixas em relação à imprudência de motoristas, que desrespeitam o sinal aberto para o pedestre, além da falta de sincronia na programação dos sinais de trânsito.

O economista Antônio de Castro, de 46, cobra ajuste no tempo dos sinais. Ele acelerou a caminhada e gastou 12 segundos, tempo em que o semáforo do pedestre ficou aberto, para ir do canteiro central à calçada da Avenida Alfredo Balena, na Região Hospitalar. A cadeirante Terezinha Oliveira Rocha, de 55, não teve a mesma sorte. Foi tentar atravessar os dois sentidos da Avenida Afonso Pena de uma só vez e, sob a falsa impressão de que daria tempo, se viu em meio aos carros e com o sinal de pedestre já aberto. Se em um dos lados da via há 54 segundos para a travessia, no outro, o percurso tem que ser completado em 25 segundos, motivo a mais para confundir pedestres.

“A travessia em dois tempos é um problema grave”, diz o presidente da Associação de Pedestres de Belo Horizonte, Arthur Vianna. “A pessoa não consegue atravessar a rua de uma só vez e, muitas vezes, precisa esperar num canteiro estreito, sujeito a todo tipo de perigo”, opina. Para ele, o cenário em BH privilegia os veículos. “O pedestre tem apenas o tempo que resta dos carros.”

Velocidade

A BHTrans, empresa que administra o trânsito da capital, estima o tempo médio de 12,5 segundos para a travessia de uma via de 15 metros de largura, como uma das pistas da Avenida dos Andradas. Na ponta do lápis, isso equivale a 1,2 metros por segundo (m/s). O cálculo tem como base média adotada mundialmente, que considera que o pedestre gasta 1 segundo para percorrer 1,3 metro de distância. Apesar da referência internacional, o parâmetro fica aquém do tempo mínimo adotado em capitais como Rio de Janeiro e Brasília.

Na capital fluminense, a velocidade considerada é 1 m/s. E, além disso, o sinal permanece 12 segundos no “vermelho piscante”, a fim de o pedestre concluir a travessia com segurança. Em BH, o pisca alerta chega a, no máximo, quatro segundos. Em Brasília, o tempo mínimo para percorrer uma via de 7 metros de largura é de 20 segundos, média de 0,35 m/s, quatro vezes mais lenta que a velocidade limite de 1,2 m/s usada na capital mineira.

O parâmetro também é questionado por estudiosos da área, como a professora do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Heloísa Maria Barbosa. “O tempo de travessia adotado em BH não atende a população como um todo. Ele deveria ser calculado a partir de quem tem alguma dificuldade, como um cadeirante, um idoso ou uma mãe com um carrinho, e não como uma média”, defende. A BHTrans afirma que, apesar da média de 1,2 m/s, a empresa costuma trabalhar abaixo desse parâmetro.

Enquanto isso, capitais testam tecnologia

A BHTrans calcula a travessia com base em uma média mundial de que um pedestre leva um segundo para andar 1,3 metro e adotou medida de 1,2 m/s. Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CT) também adota a velocidade, mas estuda o aumento do tempo para pedestres em decorrência da troca dos controladores eletromecânicos por eletrônicos. A tecnologia permitirá a sincronia de equipamentos, reduzindo a espera do pedestre e aumentando o tempo de travessia. Desde abril, a cidade faz testes com temporizadores regressivos em 12 cruzamentos, além do uso de radares de invasão de faixa de pedestres. Em Brasília, O Departamento de Engenharia de Tráfego diz que os pedestres têm entre 20 e 30 segundos para atravessar as ruas da capital federal. O tempo mínimo é aplicado numa pista de 7 metros de largura, o que faz com que o pedestre possa caminhar numa velocidade de 0,35 m/s. No Rio de Janeiro, o tempo de travessia é calculado com base numa estimativa de velocidade de caminhada de 1 metro/segundo. Além disso, são destinados mais 12 segundos em "vermelho piscante". A cidade tem 23 interseções com temporizadores para pedestres e 20 para veículos – estes em fase de testes.


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