Depois de atribuir sete dos atentados a ônibus na Região Metropolitana de Belo Horizonte a presidiários, a Polícia Civil revelou já ter identificado parte dos autores do restante dos ataques. De acordo com as investigações, a maioria é formada por adolescentes qualificados como “aproveitadores”, porque estariam praticando ações de vandalismo na onda dos incêndios articulados pelos detentos. Desde 26 de abril, 14 veículos foram queimados.
O último ocorreu na madrugada de sábado, no ponto final da linha 3501, no Bairro São Marcos, Região Nordeste da capital. Dois suspeitos, um deles armado e outro com garrafa plástica, obrigaram o motorista a sair, espalharam um líquido inflamável no interior e puseram fogo. Testemunhas ouvidas no inquérito disseram que o ato teria sido reação a uma investida da Polícia Militar que deixou um morador baleado.
Donos de empresas de ônibus, que preferem não se identificar, temendo represálias, reclamam que muitas vezes os veículos têm sido alvo dos protestos violentos sem que o serviço prestado ou seus proprietários tenham qualquer relação com o caso. “Tivemos prejuízos, pois o seguro não cobre esse tipo de ocorrência, mas a população acaba sendo a mais prejudicada, porque às vezes temos que mudar itinerários ou aguardar a reposição do carro que foi atingido”, queixou-se um diretor.
Em 9 de maio, Sebastião Rosa, de 56 anos, teve seu micro-ônibus queimado no estacionamento de um posto de combustível da Avenida Cristiano Machado com Rua Jacuí, no Bairro da Graça, Região Nordeste de BH. Ele trabalha numa linha suplementar e tinha apenas aquela unidade. Para não ficar parado, hoje trabalha com uma emprestada. “Não discuti com ninguém e não tenho qualquer desavença que possa justificar uma vingança”, lamentou Sebastião, estimando prejuízo de R$ 75 mil.
VINGANÇA O suspeito de comandar os incêndios de dentro do presídio é o assaltante Cleverson Silva de Oliveira, de 27. Com a mudança de direção da Penitenciária Nelson Hungria, ele foi transferido para o Francisco Sá, Norte de Minas, de onde teria ordenado a sequência de ataques. O preso teria confessado sua participação, segundo o chefe do Departamento de Investigações de Crimes contra o Patrimônio (DCcP), delegado Islande Batista.
O policial apresentou a gravação de um diálogo do condenado com uma irmã, por telefone, no qual sugere que quando fosse iniciada uma “fogueira santa” seria por sua determinação, para retaliar as operações pente-fino da Nelson Hungria. Cleverson negou a acusação, mas disse ter ouvido que os incêndios eram uma resposta a supostos abusos contra presos da Nelson Hungria. Disse, ainda, que agentes penitenciárias seriam mortas devidos ao tratamento considerado inadequado às visitantes femininas. Admitiu, ainda, que 183 bananas de dinamite apreendidas pela PM seriam para explodir viadutos.
Datas do terror
26 de abril - Dois ônibus são queimados, em Contagem e Ribeirão das Neves
27 de abril - Dois veículos são destruídos, no Bairro São Luiz, em BH, e em Vespasiano
2 de maio - Um ônibus é incendiado no Bairro Diamante, no Barreiro
8 de maio - Três micro-ônibus e um ônibus escolar são queimados no Bairro Dom Cabral
5 de maio - Guarita é destruída em ponto final da linha 1502, no Vista Alegre
9 de maio - Outro micro-ônibus é incendiado, no Bairro da Graça
10 de maio - Ônibus é totalmente queimado em Matozinhos, Grande BH
16 de maio - Seis adolescentes, um armado de revólver, incendeiam ônibus no Nova Cintra
23 de maio - Ônibus é queimado no Centro de Nova Lima
27 de maio - Ônibus da linha 3501 A é queimado no Bairro São Marcos