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Estado de Minas MISTÉRIO EM BRUMADINHO

Lareira pode ter causado morte de casal em pousada

Laudo da necropsia não indica causa da morte do casal de namorados em estalagem na Serra da Moeda. Hipótese agora recai sobre monóxido de carbono gerado pela lareira


postado em 19/03/2011 08:32 / atualizado em 19/03/2011 12:06

O enigmático quebra-cabeça a ser montado para desvendar a causa da morte do casal de namorados Gustavo Lage Caldeira Ribeiro, de 23 anos, e Alessandra Paolinelli de Barros, de 22, na Estalagem do Mirante, na Serra da Moeda, em Brumadinho, Grande BH, desafia a polícia e intriga amigos e parentes. O laudo de necropsia que poderia confirmar uma das hipóteses se mostrou inconclusivo, aumentando as interrogações sobre a cena da morte. Homicídio? Suicídio? O que levaria dois felizes e apaixonados jovens a um pacto de morte? Os mais próximos afirmam, sem deixar dúvida, que as duas hipóteses são impossíveis e apontam um panorama de mortes casuais e consideradas por especialistas recorrentes: o envenenamento por monóxido de carbono produzido pela lareira a lenha do chalé que os dois alugaram para comemorar um ano de relacionamento.

No sepultamento dos dois – ele no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, e ela em Carmópolis de Minas, na Região Centro-Oeste do estado –, parentes e amigos, emocionados, repetiram insistentemente à imprensa que o passado recente dos dois e o futuro promissor contradizem qualquer possibilidade de suicídio ou pacto de morte. E clamavam à polícia apuração rápida e concisa para desvendar o mistério.

O laudo da necropsia, divulgado nessa sexta-feira pela Polícia Civil, apontou como indeterminada a causa da morte do casal. Não foram encontrados indícios que pudessem esclarecer o que de fato ocorreu. O próximo passo para elucidar o caso será um exame toxicológico, que rastreará parte das vísceras na busca por substâncias letais. O prazo para a divulgação do resultado é de 30 dias, mas a intenção dos investigadores é agilizar o trabalho.

Um perito da Polícia Civil, que pediu anonimato, explicou que, em certos casos, legistas têm condições de fazer uma leitura prévia do motivo do óbito, mesmo sem exame laboratorial. Um exemplo é a morte por envenenamento, que causa lesões no estômago e permite a localização de resíduos. “A intoxicação por monóxido de carbono – liberado na combustão de diversos agentes – causa mudança da coloração dos órgãos”, acrescenta o perito.

Apesar de oficialmente a Polícia Civil não subestimar nenhuma hipótese, um informante da corporação afirmou que as linhas investigatórias do suicídio e homicídio não estão sendo mais seguidas. A delegada Cristina Coeli reproduz a voz oficial e diz que a polícia trabalha com todas as possibilidades em aberto, como intoxicação, suicídio e crime passional. Coeli alerta que qualquer conclusão nesta fase da investigação é especulação. A partir de segunda-feira, a Divisão de Crimes contra a Vida assume o caso. É esperado o resultado de exames toxicológicos para atestar o que causou a morte dos dois. As suspeitas recaem sobre a ingestão de substâncias tóxicas e também o possível envenenamento por monóxido de carbono.

Indolor

Considerada uma morte silenciosa, indolor e repentina, poderia ter ocorrido durante o ato sexual do casal, prática que consome muitas calorias. A hipótese é que os dois teriam ligado a lareira para dormir e durante a noite teriam desfalecido. Sem atendimento, morreram. O patologista e ex-diretor do Departamento de Medicina Legal da Unicamp Fortunato Badan Palhares confirma se tratar de um “caso comum”. Ele diz que investigou recentemente três mortes no interior de São Paulo relacionadas a este tipo de causa. “O indivíduo perde a consciência, principalmente quando está muito agitado”, diz o especialista.

Um fato que teria facilitado o envenenamento por monóxido de carbono são as portas e janelas trancadas. Fechadas, teriam impedido a ventilação – esse fator também resultou no descarte, por parte dos investigadores, da participação de uma terceira pessoa. Dada a posição em que os corpos foram encontrados – ele nu sobre ela, em peças íntimas –, o patologista considera improvável que tenha ocorrido suicídio – exceto no caso de exames comprovarem a ingestão de veneno. “A intoxicação deixa a pele num tom avermelhado vivo. Como ele estava sobre ela ficariam manchas brancas na região em que os corpos estavam juntos”, diz.

O monóxido de carbono age de duas maneiras no organismo: reduz a quantidade de oxigênio transportado à corrente sanguínea pelos glóbulos vermelhos e inibe a capacidade das células de usar o oxigênio, por consequência, prejudicando coração e cérebro. O especialista indica à Polícia Civil que faça a reconstituição da cena no chalé, acendendo uma lareira, fechando portas e janelas e verificando o grau de concentração do monóxido de carbono. “O exame de sangue do casal deve conter quantidade alta da substância”, afirma Palhares.

Peças sem encaixe

Apesar de Gustavo ter de trabalhar na quarta-feira, por que o casal decidiu ficar um dia a mais na pousada?

Apesar de ser comum na rotina de Gustavo viajar, por que eles não avisaram aos pais o destino do passeio?

O que teria causado um corte superficial de um centímetro no supercílio esquerdo de Gustavo?

Se o casal não fez pedidos à cozinha da pousada na quarta-feira, o que eles comeram?

Eles deixaram a pousada em algum momento?

Perfis

 

Alessandra Paolinelli de Barros, de 22 anos

No segundo ano de medicina na Faculdade de Ciência Médicas de Minas Gerais, a jovem trilhava o caminho do sucesso profissional. Alessandra vinha de uma família tradicional em Carmópolis de Minas, na Região Centro-Oeste. O avô materno havia sido prefeito décadas antes e dois tios também chegaram a atuar na vida política da cidade. A jovem era conhecida no município pela beleza e simpatia. Alessandra sonhava em seguir os passos dos dois irmãos mais velhos e se tornar médica. Ela estudou no Colégio Dom Silvério, em BH, e havia entrado recentemente na faculdade. Era alegre, romântica e muito apegada à mãe. E tinha também muito amor pela cidade natal, onde era vista com frequência, e participava de festas e de encontros tradicionais, incluindo os da família.

Gustavo Laje Caldeira Ribeiro, de 23 anos

Depois de um carnaval agitado em Diamantina, em fevereiro do ano passado, o que ele queria era sossego e o achou ao lado de Alessandra, a primeira namorada. E o amor era tamanho que os jovens faziam planos, todos aprovados pelas famílias, e sonhavam com uma relação duradoura. Esse foi um dos motivos que o levaram a trocar o curso de educação física pelas aulas de engenharia de produção, na tentativa de uma carreira mais promissora, aproveitando a fluência em inglês e alemão. Mais velho entre dois irmãos, Gustavo era filho de pais separados e morava no Bairro Gutierrez, em BH, com a mãe e o caçula. Para custear suas diversões, há três anos trabalhava como garçom numa rede de restaurantes. Aproveitava as folgas semanais para praticar atividades comuns a jovens, como jogar paintball e correr de kart. Às vezes, pegava emprestado o carro da mãe e viajava com a namorada para cidades próximas, como na terça-feira, no primeiro aniversário do namoro.


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