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Estado de Minas ENTREVISTA EXCLUSIVA

Alexandre Birman comanda grupo de moda que planeja ultrapassar os séculos

Sucessor do pai, o CEO da Arezzo&CO falou, na passagem por BH para abrir nova loja, sobre os planos de crescimento e longevidade


08/05/2022 04:00 - atualizado 08/05/2022 12:15

Alexandre Birman
(foto: Leca Novo/Divulgação)

Rumo a 2154. Essa tem sido a frase que Alexandre Birman, de 45 anos, mentaliza diariamente e que dá ritmo ao seu trabalho. O empresário e designer, CEO da Arezzo&CO, assumiu para si o compromisso de realizar o sonho do pai, Anderson, fundador da Arezzo, de ver a empresa, que completa 50 anos em setembro, ultrapassar os séculos. Não se trata apenas de ter vida longa, mas também crescer. E ele não para, tanto que entrou de vez para o segmento de vestuário e vem construindo um dos maiores grupos de moda da América Latina. Alexandre fez uma rápida passagem por Belo Horizonte, cidade onde nasceu, para inaugurar a primeira loja da marca Alexandre Birman. Cercado por sapatos desejados há tempos pelas mineiras, teve um encontro emocionante com a avó, Ruth Birman, de 97 anos, que simboliza seu amor pela família e a longevidade almejada para os negócios. Logo ao lado, um tapume vermelho anuncia que a marca Reserva também está chegando à cidade, onde a história do grupo começou. Alexandre conversou com o Feminino & Masculino na última terça-feira, pouco antes de embarcar de volta para São Paulo, onde participaria do lançamento da coleção New Gen, da Schutz, voltada para crianças e adolescentes. Nesta entrevista exclusiva, ele avisa que tem mais planos para BH com outras marcas do grupo.
 
Como foi sentir o carinho das pessoas na inauguração da loja?
Queria conversar com você durante horas a fio, porque, em poucos minutos, vai ser difícil de transmitir meu sentimento. Ontem foi quase que um momento de espasmo. Estava ali numa bolha, sem entender o que estava acontecendo, para ser sincero, de tamanha energia. Estou acostumado a ter grandes eventos no mundo inteiro, inaugurações, lançamentos, mas o que senti ontem foi indescritível. Precisei da noite para realmente entender o que estava acontecendo e hoje de manhã decidi fazer uma corrida quase que sentimental.

Por onde você passou nessa corrida?
Estou muito feliz de poder descrever esse momento para você. Saí do Hotel Fasano e subi até o Minas Tênis Clube, onde fui atleta durante muitos e muitos anos. Depois desci para a Savassi, fui até a primeira loja da Arezzo, na Avenida Getúlio Vargas, e passei pelas ruas Pernambuco e Sergipe. Depois subi até a Praça da Liberdade e rodei cada milímetro dela. Relembrei algumas coisas incríveis, uma delas que o fundador de Belo Horizonte é o Bias Fortes, ao ver o busto dele na praça. Uma questão pequena, mas que me marcou, foi quando passei por aquela árvore na esquina da Rua Rio de Janeiro, onde tem a loja da Arezzo. Tinha uma senhora limpando a calçada, parei, pedi licença e perguntei se ela sabia qual tipo de árvore era e ela me falou que se chama gameleira. Não sabia que existia esse tipo de árvore, aí que me lembrei do Parque de Exposições da Gameleira. Essa senhora tinha trabalhado nas minhas lojas no passado e me reconheceu. Então, foi tudo maravilhoso.

Você deve ter ouvido muito esta pergunta: por que demorou tanto tempo para abrir uma loja Alexandre Birman em BH?
Você me apertou agora... não tem explicação, são momentos. Foi uma questão de timing mesmo, não tem uma explicação racional de negócio. Era para ser em 2 de maio de 2022.

Ao lado da loja Alexandre Birman já tem um tapume vermelho anunciando a chegada da Reserva. Quais são os seus planos para essa esquina?
Ali vai ser só Reserva e Alexandre Birman, mas tenho outros planos, confidenciais ainda, em outras esquinas e quarteirões de Belo Horizonte, com outras marcas da nossa empresa que ainda não estão aqui. Em breve, voltarei para contar.
 
loja alexandre birman em bh
(foto: Leca Novo/Divulgação)
 

A pandemia foi o momento mais difícil que você já viveu como empresário?
Tenho muito cuidado de responder a essa pergunta: foi o mais difícil e ao mesmo tempo o mais importante. Falo que é difícil de responder porque a pandemia foi um momento de muita tristeza para o mundo; entretanto, foi quando mais crescemos. Estávamos muito preparados, porque já éramos fortes no digital desde 2011 e iniciamos a integração entre e-commerce e lojas físicas em 2018. Ninguém nem tinha ideia da pandemia, mas eu e o meu diretor-executivo digital já tínhamos feito um curso muito profundo na Singularity University, uma universidade de inovação que fica no Vale do Silício, e voltamos com uma ideia: por que não disponibilizar a lista de clientes para as vendedoras?. O nosso objetivo era que a vendedora tivesse na palma da mão um aplicativo onde escrevesse o nome da cliente e já visse as últimas compras. Começamos no fim de 2019 a fazer vendas digitais através do ZZ Link, sistema desenvolvido internamente que mandava link de pagamento digital e as clientes podiam comprar sem ir à loja. Tinha ouvido em uma palestra sobre a história do Mustang, que foi criado numa época em que a Ford estava perdendo mercado, e, quando as lojas fecharam, me lembro como se fosse hoje, falei com a minha equipe: ‘Agora precisamos desenvolver o nosso Mustang’. Em um mês, eles entregaram uma solução que era muito eficiente e não demitimos ninguém na pandemia. Dobrei a comissão das vendedoras e elas de casa, no lockdown, conseguiam fazer as vendas ligando a base de clientes ao estoque das lojas. A vida inteira no varejo você trabalha para a cliente ir para a sua loja, só que aquilo não era mais possível naquele momento, então nós tínhamos que levar a loja até a cliente. E estávamos preparados para isso. Em maio de 2020, atingimos 80% das vendas de 2019, sendo que naquela época as lojas estavam fechadas.

Vocês compraram as marcas Reserva e Carol Bassi e a Schutz passou a ser também uma marca de roupas. Como anda essa aproximação do grupo com o segmento de vestuário?
Nós começamos isso na pré-pandemia. Em 2019, traçamos uma estratégia muito profunda com uma consultoria internacional de altíssimo nível com quem sempre traba- lhamos. A empresa estava realmente preparada para entrar no segmento de vestuário. O nosso primeiro passo, ainda em 2019, foi a aquisição dos direitos de comercialização da marca Vans no Brasil. Apesar de ser conhecida pelos tênis, 35% das vendas da Vans são roupas e a marca atinge muito os públicos masculino e infantil. Nós éramos apenas uma empresa de calçados e bolsas femininas. Depois veio a explosão com a compra da Reserva. Hoje a Reserva tem 10% do segmento de vestuário masculino no Brasil. Nós não tínhamos vestuário feminino até dezembro de 2021, poucos meses atrás, quando compramos a marca Carol Bassi. Agora, a Schutz também entrou nesse segmento. Fizemos muita pesquisa, a Schutz é uma marca que gera um desejo muito grande nas clientes e sabemos que, em dois ou três anos, um terço das vendas dela vão vir de vestuário. Na quinta-feira, inauguramos a segunda loja no Rio de Janeiro, já com esse conceito.
 

"Para mim não existe trabalho e vida pessoal. Vivo para o meu negócio, minha vida é isso, sou muito conectado"

 
 
O grupo tem tantos projetos e negócios que é impossível falar de todos. Como vocês conseguem ter tantas ideias?
Para mim, não existe trabalho e vida pessoal. Vivo para o meu negócio, minha vida é isso, sou muito conectado. Óbvio que tenho um prazo para isso. Nesse ritmo, para ser sustentável, tenho que saber a minha hora de parar, a idade chega para todo mundo. Mas tenho pessoas do meu lado que compartilham do mesmo sonho. Quando a liderança engaja, inspira e atrai pessoas fora da curva, consegue ter uma empresa que executa mais, entrega mais e é mais criativa. Temos todo esse ecossistema, que começa por mim, mas não adiantaria nada fazer sozinho. Além disso, soube atrair sócios incríveis e tenho que falar do Rony Meisler, que é um parceiro da vida, vai muito além de business. Temos uma relação pessoal muito próxima, ele é um cara que tem muita garra e energia.

O Rony Meisler se tornou CEO da Ar&CO, que engloba as marcas do antigo Grupo Reserva. O que você tem aprendido com ele?
É uma troca, porque temos perfis complementares. Sou uma pessoa muito mais técnica, muito mais estruturada no sentido da gestão, com um nível de exigência de entrega bem alto. Sou assim também na minha vida pessoal. Já o Rony é um cara muito mais light, mais extrovertido e muito de engajamento. Tivemos uma troca nesse sentido muito importante, tanto que a Reserva dobrou de tamanho e este ano vai passar de R$ 1 bilhão de faturamento. Quando compramos, em 2020, eram R$ 350 milhões. Da mesma forma que ele trouxe uma visão diferente para a Ar&CO. Além de ser um acionista relevante, o convidei para ser conselheiro, ele faz parte dos comitês de pessoas e cultura, de sustentabilidade e de estratégia.

Você é um competidor de triatlo e até participa de provas de iron man. Como leva essa força que tem no esporte para os negócios?
Preciso de um esporte que me consuma 15 horas por semana para descarregar a minha energia. E como levo essa força para a empresa? Isso se dá através de duas formas distintas. Primeiro, que a primeira única hora em que desligo mais é quando estou no esporte, é uma imersão absoluta. Treino uma média de 1h30min a 2 horas por dia, são treinos muitos intensos, mas é um momento de muita desconexão. Por outro lado, não gosto de usar a palavra mindfulness, que está muito batida, virou um jargão pop, mas o meu conceito de mindfulness é estar onipresente. Você coloca tanta energia concentrada no que está fazendo que vive aquele momento com muita intensidade. Dou muito foco às duas horas de natação, bike e corrida que pratico por dia e uso isso em tudo o que faço. Falo que o esporte é o que me dá disciplina. Sei que, se não treinar bem, não vou competir bem. Prova é você se colocar em prova, e eu gosto. Estou com uma lesão no ombro, fruto de uma queda de esqui na neve. É um esporte de lazer, mas faço com muita frequência há quase 30 anos. Essa é a segunda queda da minha vida. Estou tentando combater essa lesão do ombro sem cirurgia, mas acho que não vou conseguir, vou ter que operar. Vão ser três meses de recuperação e isso vai mudar meus planos de treino, mas não em relação aos negócios.
 
A marca Arezzo completa 50 anos em setembro. O que as outras marcas do grupo podem aprender com a história dela?
A Arezzo soube passar de geração para geração sem envelhecer. Fiquei impressionado, quando estive na loja aqui em BH, com o que tinha de jovens e adolescentes loucos com a marca. É legal ver isso. A Arezzo consegue ter um produto para quem já consumia nos anos 1980, para a geração Z e até para as crianças com a Bambini, que é a nossa linha infantojuvenil. A Arezzo está sempre conectada com a sua cliente e ela pode ensinar as outras marcas a pensarem a longo prazo.
 
sandalia alexandre birman
(foto: Leca Novo/Divulgação)
 

O seu pai, Anderson Birman, fundador da Arezzo, é exemplo de quê para você?
Ele realmente é o fundador dos nossos princípios. Os alicerces da nossa empresa foram baseados nos seus princípios, que são atender o cliente da melhor forma, focar no produto, ter humildade, posicionamento, ser flexível, ter alinhamento. Mesmo de maneira informal, todo mundo fica sabendo para onde a empresa está indo. Ele é a pessoa que montou bases muito sólidas e é essa referência para mim. Fora as questões ligadas ao calçado. O que falei antes serviria para qualquer empresa de qualquer setor, mas meu pai entende muito sobre calçado. Estou para falar que ele é a pessoa que entende mais de calçado feminino no mundo. Ninguém entende mais da anatomia dos pés, o que funciona de modelagem, tipo de salto para o calce ficar perfeito na maioria dos tipos de pés. Ele é o nosso grande mestre do sapato, o nosso grande mestre na parte técnica, e isso se perpetuou. Hoje o grupo produz mais de 20 milhões de pares de sapato por ano. Ele é o fundador de todo esse know-how do calçado. Acabei de ver uma mulher com um sapato Alexandre Birman, marca internacional do segmento classe A, com R$ 200 milhões de faturamento. A origem disso está no meu pai.

Como surgiu e o que significa o slogan “Rumo a 2154”?
O meu pai foi visionário na época do Plano Collor, quando o Brasil passava por um momento difícil, e o sonho dele era estar vivo em 2154. Ele nasceu em 1954 e seria quando completaria 200 anos. Ele sabia que seria uma missão impossível, mas a empresa teria que estar viva, por isso falamos tanto sobre longe- vidade. Quando vi a gameleira, que deve ser uma árvore quase secular, fiquei pensando sobre isso. O meu pai soube fazer a sucessão e eu consegui trazer modernidade, digitalização (fui eu quem tive a visão de ter um e-commerce em 2011), uma visão mais moderna de liderança.

O que o motiva a acordar todos os dias e viver o dia a dia da empresa?
Como assim acordar? Eu não durmo (risos).

Já pensou em parar de trabalhar, ou pelo menos desacelerar?
Já pensei que tenho um prazo e estou me preparando para o meu dia D. Está tudo planejado, mas ainda não sei quando vou fazer a mudança. É óbvio que o nosso corpo é igual a uma máquina. Um avião, por exemplo, tem tantas horas de voo e depois tem que parar para trocar alguma peça. Tem aquela frase “não importa a idade do RG, mas a idade mental”. Estou sempre me atualizando, mas a máquina do corpo tem um limite de certo número de horas de voo para trocar algumas peças e conseguir ser mais longeva. Tenho 45 para 46 anos, estou novo, mas realmente quando disse que não durmo é quase verdade, sou muito ligado. Tanto é que construí um dos maiores grupos de moda da América Latina. 


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