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Estado de Minas Acessórios

Marca de bolsas troca importados por produção local valorizando artesanato

Pandemia leva Isla a seguir um caminho sem volta: produzir bolsas com técnicas manuais e resíduos têxteis, que mostram o valor de artesãos


16/05/2021 04:00 - atualizado 17/05/2021 16:38

(foto: Gustavo Romanelli/Divulgação)
(foto: Gustavo Romanelli/Divulgação)

Bolsas de festa produzidas fora do Brasil. Da noite para a dia, o conceito que fez a marca mineira Isla crescer e se consolidar no mercado nacional deixou de fazer sentido. O que fez a fundadora e diretora-criativa Silvia Monteiro? “Pensei muito em mergulhar nas nossas origens, repensar os produtos com o que tinha em mãos.” Desde então, as coleções exaltam artesãos brasileiros e técnicas ancestrais.
 
A Isla passou anos produzindo suas bolsas no exterior. A equipe daqui era responsável pela criação e toda a produção se concentrava em países como Índia e Colômbia. Até a matéria-prima era estrangeira. O produto já chegava ao Brasil pronto para vender. Segundo Silvia, antes da pandemia, a marca estava vivendo uma fase em que as importações eram muito significativas.
 
Passado o susto, a marca buscou se reconectar com as suas raízes mineiras e brasileiras. Não dava mais para manter a produção tão distante, era preciso seguir com o trabalho sem sair de “casa”. “Foi uma necessidade, mas também encaramos como uma obrigação, no sentido de nos tornarmos relevantes para o nosso entorno”, aponta a diretora-criativa.

 

(foto: Gustavo Romanelli/Divulgação)
(foto: Gustavo Romanelli/Divulgação)
 

Silvia percorreu o interior com o olhar para técnicas artesanais. Soube de mulheres em Barão de Cocais, na Região Central de Minas, que crochetavam, mas estavam paradas porque não havia demanda. “Resolvi visitá-las e descobri um tear. Comecei a incentivá-las a criar com este tear e hoje elas têm vários, muitos estavam aposentados.” As artesãs se agruparam e encontraram motivação para trabalhar.
 
Esta é a primeira vez que a Isla explora intensamente o artesanato. Antes, já tinha usado bordados, mas de forma incipiente. “Legal ver o nível de amadurecimento da marca. Conseguimos imprimir alguns conceitos nossos na forma de se fazer o artesanato e isso foi enriquecedor para os dois lados. Tanto para a gente, participando efetivamente da confecção do produto, como para o artesão, que enxerga este valor.”
 
A tapeçaria sempre teve a cara do Oriente. Nesta virada, Silvia substituiu todas as técnicas importadas pelo tear mineiro, de pente de madeira, que é uma herança espanhola. A equipe estuda as melhores combinações de cores, que eram escolhas aleatórias, desenvolve novas tramas, padronagens e o resultado são desenhos geométricos totalmente diferentes.
 
(foto: Gustavo Romanelli/Divulgação)
(foto: Gustavo Romanelli/Divulgação)
 
A marca também leva o seu DNA de festa para o artesanal. Utiliza fios metalizados, como de lurex, nas tramas e aplica pedras. Tudo para deixar as bolsas com mais brilho e glamour, mesmo que seja no dia a dia. “Aplicamos muito conhecimento estético e as artesãs entraram com as técnicas. Assim, fomos criando produtos surpreendentes e maravilhosos, que são únicos”, destaca.

Muito do que se usa nas últimas coleções são resíduos têxteis. De uma fábrica de jeans, chegam tiras que sobram na etapa de corte das calças e são jogadas no lixo. Em outras bolsas, encontramos viés de xadrez. “Tomamos esta decisão diante da escassez de matéria-prima, mas também pela necessidade de nos enquadrarmos num modelo de produção mais sustentável e engajado. Somos responsáveis pela busca de um consumo consciente, de forma a prejudicar menos o meio ambiente.”

Para Silvia, os materiais reaproveitados também levam originalidade aos produtos. O desafio de trabalhar sem poder escolher cores e texturas estimula a criatividade. Fora que, dificilmente, uma bolsa vai ser igual à outra. “A escala industrial nivelou muito a produção, até mesmo das grandes grifes. Chegamos a um ponto em que tudo estava muito repetitivo e a necessidade do novo já existia. Este foi o start para pensarmos diferente, e o handmade permite isso”, comenta.
 
(foto: Gustavo Romanelli/Divulgação)
(foto: Gustavo Romanelli/Divulgação)
 
Agora a equipe se concentra em sobras de coleções antigas de uma marca mineira de couro, que vão se transformar em tiras para fazer crochê. Com lançamento previsto para daqui dois meses, estas bolsas são produzidas com 100% de reaproveitamento de matéria-prima, inclusive no forro. Tweeds também devem ser cortados em tiras para que possam fazer parte da produção artesanal.
 
Em paralelo, a marca criou uma linha de couro natural, em parceria com uma pequena fábrica no Sul, usando técnicas de corte e costura de ateliê. Além disso, continua, em ritmo lento, produzindo a linha festa, a fim de manter a identidade da marca e as relações com os fornecedores internacionais. Mas, de acordo com Silvia, o foco está mesmo nas bolsas que envolvem sustentabilidade, incentivo à produção local e valorização das técnicas artesanais.
 
“A pandemia tem sido um período difícil, principalmente para o nosso mercado de multimarcas. Muitos clientes fecharam e a inadimplência aumentou. Mas ela trouxe algumas experiências que fortaleceram muito a empresa. A partir do momento em que dominamos as técnicas e apostamos em uma produção local, conseguimos intervir muito mais na criação e determinar novos caminhos para que os produtos chegassem a outros mercados e clientes”, analisa.
 
(foto: Gustavo Romanelli/Divulgação)
(foto: Gustavo Romanelli/Divulgação)
 
A aproximação com a moda praia é uma das novidades pós-pandemia. As bolsas ligadas ao handmade e que privilegiam tons naturais têm sido muito visadas por mulheres que estão a a caminho do litoral. Para se ter uma ideia, a coleção com peças em crochê de sisal e palha sextavada, um dos grandes sucessos, agora é permanente. Passa a ter seis, e não apenas três modelos.
 
De modo geral, Silvia aposta em bolsas pequenas para carregar o essencial. Elas são mais práticas e utiliárias e podem ser usadas de diferentes maneiras, com ou sem alça, com alça curta ou a tiracolo. “Percebo também a preferência por modelos mais despojados, até porque a nossa forma de vestir mudou muito. As pessoas têm buscado certo conforto nas texturas, valorizam detalhes manuais”, completa.


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