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Estado de Minas Upcycling

Obra do destino

Trajetória de designer de acessórios, criadora da marca Fernanda Torquett, é marcada por caminhos não planejados e com design arrojado


01/01/2022 04:00

Brinco
Peças com design arrojado (foto: Luiza Ananias/Divulgação)
 
Nem tudo na vida é planejado. Que o diga Fernanda Torquetti. Nas várias voltas em que a vida dá, ela se descobriu designer de acessórios. Sem programar, associou seu trabalho ao upcycling, dando novo uso a estoques parados. Sorte a nossa. O destino a levou a criar peças autênticas, que unem a estética brutalista de elementos da construção civil, como parafuso e porca, com a delicadeza do artesanal.
 
Colar
(foto: Luiza Ananias/Divulgação)
 
 
Para começar, Fernanda foi estudar moda imaginando que desenharia roupas. Mas aí a vida mostrou que havia outras possibilidades. No meio da faculdade, surgiu uma vaga de estágio na Mary Design, de Mary Arantes, onde trabalhou por quatro anos, e ela se apaixonou pelo mundo dos acessórios.
“Lá consegui enxergar como funcionava uma indústria e entendi o acessório enquanto linguagem de moda muito interessante e menos óbvia”, relembra.
 
Mão com anel
(foto: Luiza Ananias/Divulgação)
 
 
Fernanda criou para outras marcas de acessórios antes de se dedicar ao trabalho autoral. Na verdade, isso nem passava pela sua cabeça. Por insistência do amigo Davi Leite, que é stylist, aceitou desenvolver peças para um editorial e se empolgou com a ideia, surpreendida por muitos elogios. Mais uma vez, o destino apontou um caminho nunca antes planejado.
 
Anel
(foto: Luiza Ananias/Divulgação)
 
 
“Não tinha tempo nem recurso financeiro para ir fundo nas criações, então peguei materiais em desuso na fábrica de um amigo que estava fechada e tinha um estoque gigantesco”, conta. No meio, havia peças usadas na construção civil, como porca e parafuso.
 
Nisso, veio o insight do upcycling, pilar importante da marca que nasceria com o nome Fernanda Torquett (o sobrenome passou a ter escrita diferente por uma questão de numerologia). De novo, o acaso direcionou os seus passos.
 
Hoje, de 30% a 40% da matéria-prima é sobra ou descarte de indústrias. A designer está sempre em busca de materiais sem uso que possam ganhar novo significado. “Upcycling é uma maneira de tentar fazer alguma diferença no planeta, respeitando o meio ambiente.”
 
Por um tempo, Fernanda usou o estoque parado de um fornecedor de resina. Até que um dia ele falou que não conseguiria mais e essa casualidade a impulsionou a construir uma identidade mais forte para a marca. “Isso foi muito bom, porque mudou o estilo das minhas peças. Tive que correr atrás de outros insumos.” E assim chegou a retalhos de fórmica e acrílico.
 
Nessa mesma época, ela passou a criar os seus próprios metais (em latão com banho). Ou seja, desenha praticamente todos os elementos que compõem as peças. Como exemplo, o zigue-zague que aparece por cima de bases coloridas. Além disso, descobriu a técnica da resina líquida, que, depois de ser pintada a mão, fica com um aspecto vitrificado.
 
A sobreposição é uma característica marcante dos acessórios. Todas as peças são construídas em camadas, lógica que remete ao trabalho do pai, que era pedreiro. “Só percebi depois de um tempo que as minhas criações são muito conectadas com os meus pais, que estava ressignificando a memória e o fazer deles”, comenta.
 
O uso de parafusos e porcas, que virou marca registrada, também resgata essa memória. Na próxima coleção, o universo da construção civil vai se materializar em cabos de aço.

DETALHES Pelo lado da mãe, que era artista plástica e ceramista, Fernanda enxerga a delicadeza do feito a mão, de pintar peça por peça, de pensar em cada detalhe e cuidar para que o acabamento seja primoroso. Quando era criança, ela frequentava muito o ateliê de cerâmica e isso a influenciou bastante.
 
No momento de criar as peças, a designer deixa o acaso se manifestar, chegando ao resultado de forma muito intuitiva. Fernanda diz ser “uma observadora do ser humano e da natureza”, tanto que o seu trabalho tem muito a ver com o que está vivendo e sentindo e com as pessoas que estão ao seu redor. A busca por materiais também aponta caminhos.
 
A história da coleção Ori é curiosa. Relaciona-se com as conexões da vida e mostra como o acaso pode ser inspirador. Fernanda descobriu que uma amiga mexicana tinha um estoque “gigante” de pedras (opalas feitas de resina) e decidiu usá-las. A estética do México acabou influenciando todo o trabalho. As formas geométricas remetem aos astecas e as cores foram pensadas para combinar com as pedras.
 
Já a coleção Aláfia nasceu de uma conversa com um amigo que cria abelhas. Se você observar, as peças lembram as asas desses insetos, que a encantaram: as camadas estão o tempo todo em movimento. O próximo lançamento se conecta com o momento da gestação do seu filho.


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