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Estado de Minas entrevista/ Maria Fernanda Menin Maia - 41 anos, advogada

Investindo na educação

Como membro do Conselho de Administração das empresas do Grupo MRV, a advogada passou a se dedicar à sua maior paixão: o Instituto MRV, encabeçando projetos que investem no professor


11/10/2020 04:00 - atualizado 09/10/2020 16:17

(foto: Gladyson Brandão/em/d.a press)
(foto: Gladyson Brandão/em/d.a press)


Filha mais velha dos três filhos do empresário Rubens Menin, Maria Fernanda sempre foi muito ativa e estudiosa. Tem como prioridade a família e faz questão de ser presente com os filhos. Cresceu unida aos irmãos, passando o fim de semana no sítio ao lado dos tios e primos. Fugiu à regra da família e em vez de fazer engenharia optou pelo direito, que exerceu desde que entrou na faculdade. Fez carreira na empresa da família e no fim do ano passado aceitou o convite para compor o Conselho de Administração da construtora MRV e do Banco Inter. Essa mudança de cargo deixou a jovem mais liberada para se dedicar ao terceiro setor, outra paixão da família. Ficou mais presente no Instituto MRV e atualmente está à frente do maior projeto social do instituto, com foco na formação de professores.
 
Por que escolheu direito?
Nunca me enxerguei nas ciências exatas, sempre tive aptidão para área de humanas e biológicas e até no ano de fazer vestibular pensava em fazer medicina, mas na hora de escolher fui para a área de humanas e optei pelo direito.

Gostou do curso?
Muito. Acho que deveria ser uma disciplina obrigatória na maioria dos cursos porque abre a cabeça para o mundo. Descobrimos nossas obrigações enquanto cidadãos, qual é o lugar que ocupamos na sociedade. Abriu minha cabeça enquanto cidadã.

Chegou a exercer o direito?
Sim. Logo no comecinho da faculdade, quando estava no primeiro período, em 1997, entrei com meu currículo aqui na MRV e também no Banco Inter, que na época ainda era a Financeira Intermedium, para entrar como estagiária. Passei pelo processo de seleção das duas empresas.

Você entrou no processo seletivo nas empresas da família?
Sim. Isso sempre foi uma coisa muito clara para todos nós, filhos e primos. Entramos como qualquer outro profissional, competindo com currículo e fazendo todo o processo. Escolhi a MRV, que era atendida por um escritório terceirizado, mas tinha dois estagiários. Foi meu primeiro emprego. Estudava na Milton Campos, uma escola que ensina muito a prática do direito e tem uma carga horária que permite aos alunos estagiar, e isso foi muito positivo. Há 23 anos, o mundo era outro, tratávamos muito da carteira dos clientes, inadimplência, renegociação e revisão contratos, etc. Entender o objetivo e o interesse do cliente. Adquiri muita experiência e aprendi muito. Cresci com a empresa, cheguei a ser superintendente do Jurídico e já tínhamos uma estrutura um pouco maior, mais robusta. Já tínhamos assumido mais questões dentro da empresa, que eu poderia chamar de um Jurídico Corporativo. Começamos a nascer por volta dos anos 2000.

Até quando ficou nessa área?
Até o fim do ano passado, quando estava há quatro anos como diretora-executiva, à frente do Jurídico, e assumindo a área do Compliance e Governança do grupo MRV, que passou a ser uma realidade nas grandes empresas nos últimos cinco anos. No fim do ano passado, fui convidada para entrar para o Conselho de Administração da MRV e do Banco Inter. Fiquei muito feliz e honrada com o convite. É uma responsabilidade muito grande entrar para o Conselho de duas companhias que, embora de origem familiar, são abertas e têm toda uma rotina e responsabilidades de companhia aberta, e foi um grande desafio. Participo também nos comitês de pessoas, voltado para as políticas de RH e questões de carreira, planos de opção de ação. E continuo no comitê de Governança e Compliance, áreas nas quais me especializei bastante desde que assumi essa responsabilidade.
 
Você também atua no Instituto MRV?
Com a mudança de área na empresa, passei a ter uma disponibilidade maior de tempo, e pude abraçar mais as ações sociais, filantrópicas, tanto da família, quando da MRV e do Banco Inter. Em 2014, criamos o Instituto MRV, que é grande parceiro da Jornada Solidária Estado de Minas. Nossa essência é promover a transformação social por meio de projetos que estimulam o desenvolvimento de crianças e adolescentes que vivem em comunidades em situação de vulnerabilidade social, por meio da educação.

Quantos projetos abraçam atualmente?
Temos muitos, a maioria deles com foco na educação. Apoiamos também alguns projetos voltados para a área de saúde. Recentemente, fizemos uma reforma no Hospital das Clínicas, mas a nossa principal bandeira é a educação. Temos alguns projetos estruturantes, o maior deles, que eu acompanho de perto, é o Instituto Iungo, meu xodó, não só pelo que representa para o Instituto – é o que tem maior participação financeira –, mas também pelo impacto que gera e vai gerar. É relativamente novo, concebemos por dois anos, e ganhou uma atração maior este ano, na pandemia, porque é um projeto voltado para a formação de professores das redes pública e particular.

O que significa Iungo e por que esse nome?
Iungo em latim significa reunir, atrelar, unir os pares, e esse é o conjunto de sentidos que pautam nossa atuação. Nossa intenção é trazer a experiência de cada professor e agregar a elas o novo conhecimento. Essa troca é enriquecedora. Nesses seis meses, já tivemos resultados muito positivos.

E como é o trabalho?
Oferecemos uma pós-graduação lato sensu, com duração de 18 meses, aqui em Minas Gerais, em parceria com a PUC Minas e com apoio da Secretaria de Estado da Educação. Em São Paulo a parceria é com a USP, também apoiados pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. E temos, além da pós-graduação, uma frente de itinerários formativos. Estamos participando da formação do currículo do novo ensino médio de Santa Catarina, direto com a Secretaria de Educação, porque pegamos todas as 1.090 escolas da rede estadual, e já estamos fazendo a capacitação de todos os gestores há 3 meses, ajudando na elaboração dos itinerários normativos do ensino médio. São três grandes frentes nesse projeto. Além disso, também produzimos conteúdos como videoaulas, plano de aula, livro, artigos.

Todo esse material é para os professores?
O material é para ser disponibilizado, gratuitamente, para todos os educadores do Brasil. E tudo é virtual. Temos o nosso site, Instagram e canal no YouTube. Já produzimos inúmeros conteúdos, que foram superacessados pelos professores, que estavam completamente desamparados porque foram pegos de surpresa com a pandemia e tiveram que mudar a forma de dar aula de um dia para o outro. E nossos conteúdos foram muito elogiados por eles.

E as aulas da pós-graduação?
As de Minas Gerais estão ocorrendo desde o início de março. Com a pandemia, as aulas passaram a ser virtuais. Quando for autorizado, retornaremos presencialmente.

Quem prepara todo esse conteúdo?
A equipe do Iungo, que é uma associação sem fins lucrativos criada pelo Instituto MRV e pela ONG Humbi Humbi, que sempre trabalhou com educação e foi parceira de grandes institutos, como o Airton Sena, Fundação Lema, etc.

Com qual faixa etária vocês trabalham?
Alunos do ensino fundamental 2 e ensino médio. Estamos trabalhando a formação desses professores e introduzindo novas metodologias de ensino. Depois de analisar os números e conversar com alguns parceiros, percebemos que esse era o público-alvo mais necessitado, porque é onde está o maior índice de evasão escolar. E apesar de terem muitos projetos que olham os jovens estudantes, poucos cuidam do professor, e isso é fundamental. O professor não tem tempo de se dedicar a estudos de reciclagem e muitas vezes não tem recursos financeiros para isso.

A proposta é apresentar uma nova didática?
Nesse método tradicional, as crianças não se interessam mais. Estamos com muitas propostas inovadoras, e essa pós-graduação está com um conteúdo riquíssimo. O professor tem que atrair a atenção do aluno. Estamos recuperando tudo isso, inclusive a autoestima do professor, que é baixa, porque passa até pela má remuneração. Aprendizagem baseada em projetos, sala de aula invertida, etc., tem muita proposta nova que os professores não conhecem ainda. Eles estão esgotados nesta pandemia, porque estão sem instrumentalidade para dar a aula. Se o desafio do professor já era grande, com a pandemia ficou enorme. E algumas coisas vieram para ficar.
 
Pretendem crescer esse projeto para os outros estados do país?
Pensamos. Em São Paulo, as aulas começam em outubro. Novas turmas começam em fevereiro de 2021 aqui em Minas. Pensamos em abrir turmas em Santa Catarina porque já temos a parceria para os gestores das escolas. Estamos avaliando para 2021 a possibilidade de implantar o projeto em um estado de cada região do país, para que esse estado seja o representante do Iungo naquela região. E o trabalho se multiplique de forma independente pelo país. Queremos impactar o maior número de professores possível. Estamos criando agora as Maletas Pedagógicas, que é o conteúdo e toda a metodologia desse curso, que poderão ser usadas pelas secretarias de Educação de todos os estados.

Já pensaram em abraçar também a rede municipal de educação?
Pensamos sim, não fizemos este ano por ser um ano de eleições municipais. Entendemos que não seria possível por causa dos prazos, etc. E por causa das verbas que sustentam o Instituto Iungo, que vêm do Instituto MRV, da família Menin e do Bem Maior – grupo formado pelos empresários Bia Vidigal, Elie Horn, Eugênio Mattar, João Araújo e Rubens Menin. Isso seria um complicador em ano eleitoral, pois o grupo é apartidário, não se envolve com política.

Além dos projetos estruturantes vocês apoiam projetos locais. Como é feita a escolha?
Fazemos chamada pública por meio de edital. Ano passado, recebemos quase mil projetos em um período de 15 dias. São pequenos projetos. A escolha é totalmente aberta e transparente, auditada. Os projetos inscritos vão para votação popular pela internet, e os mais votados são encaminhados para o crivo de um comitê. Ano passado, selecionamos seis que receberam recursos, por 12 meses, e vão prestando contas. Todos os projetos são voltados para a educação, com impacto local, comunitário, com o objetivo de fomentar, de forma que eles passem a ser autossustentáveis. Damos o pontapé inicial. Não é assistencialismo, que recebe o recurso e depois que acaba a verba ela desaparece.

Como você arruma tempo para o marido e os filhos?
Sou casada com o médico dermatologista Rodrigo Maia, e temos três filhos – João Pedro, de 13 anos, Maria Beatriz, de 12, e Heitor, de 10. Eles são minha prioridade. Apesar de todas as minhas atividades, me considero uma mãe muito presente. Não abro mão de participar da vida deles, vou às reuniões de pais, converso com o professor, acompanho nos esportes, balé, ajudo nos estudos. Minha filha é eximia bailarina, já competiu até em Portugal, e ganhou prêmio, não me puxou. João Pedro é tecnológico, autodidata, gosta de empreender, fã da Tesla, do Elon Musk. É superantenado em tudo que acontece no mundo. É engajado, já me disse que nosso próximo carro tem que ser elétrico. Pensa no futuro do mundo, é outra cabeça. Heitor gosta de tênis.

E o negócio da construção com a pandemia?
Não parou. Temos a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), que reúne as maiores construtoras do Brasil, e temos relatórios mensais. Os números da COVID-19 na construção civil,  que não parou nem um dia durante a pandemia, são baixíssimos, e só tivemos 13 óbitos em todo o país. É um público menos esclarecido, que mora em região onde as pessoas tomam menos cuidados. Esse público que foi bem trabalhado, bem cuidado durante esses seis meses, teve um resultado surpreendente. Todos os canteiros de todas as empresas foram adaptados, fizemos um forte trabalho de conscientização, cuidado, higienização. Tudo capitaneado pela Abrainc. E os colaboradores de obra tiveram este engajamento de usar máscara, fazer higienização adequada. É a história da educação de novo. Quando trabalhamos a educação e a conscientização, conseguimos resultados surpreendentes. Quando a pandemia chegou, fizemos reuniões com projeções muito pessimistas, pessimistas, normais e otimistas. Fomos surpreendidos positivamente. As pessoas passaram a dar mais valor para a casa. Passou a ser o principal produto a ser consumido. A MRV já vinha em um movimento de digitalização. Nossa plataforma habitacional praticamento pronta, e estamos batendo recorde atrás de recorde. Hoje, você compra um apartamento pela internet, desde a aprovação do seu financiamento até a assinatura do contrato. O Banco Inter já nasceu digital e agora que ninguém mais sai de casa, pronto. Na plataforma do banco tem todo um market place que facilita a vida do cliente, e as vendas aumentaram muito, bem como os investimentos.

Quais os planos para 2021?
Para o Instituto MRV, já marcamos as reuniões para o planejamento, porque a pandemia nos fez perceber que temos que fazer três a quatro planejamentos diferentes, para cenários possíveis, por não sabemos como será. Faremos conservador 1, 2, 3 e um realista e um otimista. Manteremos o Ingu como nosso projeto estruturante, porque daremos ênfase na formação do professor. Vamos estudar a possibilidade de trazer os professores do fundamental 1 para dentro do projeto. Podemos pensar alguma ação para a primeira infância de forma mais permanente. E temos outros projetos, como o Educar para Transformar, que é a chamada pública, de impacto local; o Escola Nota 10, que é muito importante, voltado para a alfabetização tardia dos funcionários de obra.

Fale um pouco do Escola Nota 10.
Os funcionários das obras fazem aula no próprio local de trabalho, e no horário de trabalho. Doamos o horário de trabalho e custeamos a alfabetização. As aulas são ministradas por professores dos convênios que temos com o Sesi e o Senac, ou com a prefeitura local. Em cada cidade é com um parceiro, dentro da possibilidade, mas todas as obras têm esse projeto, e é no Brasil inteiro. São 4,5 mil jovens adultos alfabetizados ao longo desses 10 anos do Escola Nota 10. Mais de 300 turmas. As histórias são emocionantes. Pessoas que jamais pensaram que poderiam trocar uma carta com os filhos que moram longe. A emoção de receber uma carta e conseguir lê-la. Temos relatos e vídeos emocionantes. Procure no Instituto MRV Raimundo, ou Instituto MRV Carta. São dois vídeos que realmente nos emocionam. Em 2021, continuaremos na linha de educação, tentando, dentro dessa situação adversa, alcançar o maior número de pessoas. A educação está para o indivíduo assim como a casa própria está para a família. A base da família é a sua casa, seu lar, sua proteção. Se der educação ao indivíduo, ele consegue perceber o valor da casa. 


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