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Estado de Minas ARTESANIA

Um jeito de estar no mundo

Coleção de roupas do Estúdio Less lançada na quarentena descreve um novo conceito de luxo ao vestir mulheres e homens com conforto, sobreposições, desfiados e remendos


postado em 14/06/2020 04:00 / atualizado em 14/06/2020 09:57

Maria Olívia (atriz)(foto: Leandro Couri/Divulgação)
Maria Olívia (atriz) (foto: Leandro Couri/Divulgação)


Há muito tempo, a artista Rita Lessa pesquisa como as roupas, que são um suporte para as suas pinturas, podem ser amplas, confortáveis, elegantes e bonitas. Agora, em plena pandemia, ela lança uma coleção que consegue, como nunca, carregar todos esses conceitos. “Definitivamente, cheguei ao ponto que sempre desejei. O trabalho tem ousadia, não posso perder isso, mas é comercial.” As roupas propõem um jeito único de estar no mundo, que vai muito além do se vestir, e trazem a ideia de luxo renovada. Estampas dialogam com peças desfiadas, gastas, com aspecto de destruídas.

De nome “Para menos”, a nova coleção do Estúdio Less fala sobre o novo luxo, o luxo pautado no bem-estar. “É ser sofisticado com cara de casual, de estar dentro de casa. É ser sofisticado com uma roupa precária, rasgada, descosturada. Acho que isso é o deslocamento do luxo”, avalia. Não só o conceito, mas as roupas em si são muito apropriadas para o momento. Rita acredita que, de longe, elas entregam que há conforto e fluidez justificada pelo shape e pelo uso. Podem estar em casa e na rua ao mesmo tempo.

A coleção trabalha muito a ideia das sobreposições. A calça legging e a blusa de gola alta e manga comprida, ambas de malha, são a base de tudo. “Por cima dessa roupa, que chamo de primeira pele, você pode colocar um vestido, pantalona com t-shirt ou um colete. A ideia é essa, vestir o corpo com praticidade.” Para Rita, não existe exagero em sobrepor várias peças. Pelo contrário, ela acredita que o resultado é elegante e corajoso. A artista defende, inclusive, a sobreposição de estampas.

Anne Marie Oliffson (estudante) (foto: Estúdio Less/Divulgação)
Anne Marie Oliffson (estudante) (foto: Estúdio Less/Divulgação)


Três pinturas se transformam em estampas nesta coleção. Uma, de nome Borrão, mostra registros de pinceladas com tinta. A outra, Zig, mistura grafismos. Ainda tem a Hope, que ela define como um grande grafite que conta histórias de amor. “É uma estampa de amor, de desejo, de esperança, de bom agouro, de melhores momentos, com a linguagem de rua. Sou muito contaminda pela rua.” Em uma das cenas, a “mocinha” da história, que quer fazer o amor vingar, lê um livro chamado All about love.

A ousadia a que Rita se refere está evidente em peças 100% algodão descosturadas, desfiadas e em alguns pontos completamente destruídas. Outras estão cheias de remendos. Neste trabalho, ela aproxima, com coragem, a linguagem das artes plásticas ao vestuário. “Fiz coletes e calças de  sarja que têm características de  desconstrução. São peças com cara de usadas, de maltrapilhas, mas vejo isso como uma mudança do conceito de luxo. É para um público arrojado.”

Pedro Lázaro (arquiteto) (foto: Estúdio Less/Divulgação)
Pedro Lázaro (arquiteto) (foto: Estúdio Less/Divulgação)


Seguramente, a peça mais emblemática (e ousada) da coleção é o colete Segurança. A criadora diz que pensou em uma peça de proteção. Nas costas, a palavra segurança está escrita de todo tamanho, para todo mundo ver. “Os coletes são de uma ação manual intensa e imensa. Monto pessoalmente cada um e eles não se repetem na construção nem no resultado.” Depois, eles passam por processos manuais de lavagem e tingimento. A calça cargo Cicatriz, toda remendada, segue a mesma ideia. “Preciso construir para depois desconstruí-la. Não é um processo simples. Faço corrosões e erosões.” Maria Vieira Leal, costureira que vai fazer 100 anos, ajuda na construção de remendos.

Rita não se considera uma estilista, diz que é uma propositora de coisas. Quando flerta com a moda, ela propõe apenas dois tamanhos (um que engloba P e M e outro G). A ideia é fazer uma roupa que atinga pessoas distintas do ponto de vista de idade e corpos, incluindo homens e mulheres. São shapes com amplidão, que não aprisionam o corpo de ninguém, que levam conforto. É para usar e se sentir à vontade. “O que faço não é moda, não estou presa a modismos, por escolha. Procuro propor coisas da ordem do conforto com bons arranjos estéticos”, explica.

As t-shirts com gola V e as blusas amplas com gola U são peças curinga em qualquer guarda-roupa. Entre as calças, destaque para as pantalonas bem fluidas. Os vestidos também funcionam como uma camiseta longa e pode ser tanto peça única quanto combinar com calças, coletes e o conjunto primeira pele. “É um trabalho em que tudo conversa com tudo.” Os macacões com bolsos reproduzem a roupa preferida de Rita para trabalhar. Além de sarja 100% algodão, ela usa muita seda e uma malha “com peso, balanço e fluidez”, como gosta de dizer.
 
Ângela Dourado (designer) (foto: Estúdio Less/Divulgação)
Ângela Dourado (designer) (foto: Estúdio Less/Divulgação)

VENDAS 

Depois de dois meses completamente silenciosa, sem falar sobre vendas, Rita encontrou seu jeito de comercializar as roupas na quarentena, seguindo todos os critérios de segurança. Sem nenhuma vergonha, ela diz que está “sacolando” (isso era um sonho de infância). O cliente solicita as peças e as recebe em qualquer lugar do Brasil. Experimenta, escolhe, faz o pagamento a distância e devolve. “Mando a sacola no risco, na consignação, na confiança, mas nunca tive problema. Se já tinha certa flexibilidade e um modo informal de comercializar, estou fomentando isso. Acho que os tempos estão difíceis e temos que propor novos modos de comercialização.”

As peças que retornam entram numa quarentena rigorosa. Rita cuida pessoalmente de todas elas. Deixa-as no tempo, pegam chuva e sol. Depois as transfere para a arara da quarentena. Por fim, todas são passadas ou vaporizadas. O processo demora uns quatro dias, e ela pode esperar, porque tem estoque. “A despeito de todos os processos manuais pelos quais as roupas passam – a não ser pela minha estampa, há muita artesania, tenho um estoque que, para um negócio pequeno como o meu, é audacioso.”

Para o que se esperava deste momento, a demanda está surpreendendo. As roupas já viajaram para Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, Cuiabá, Curitiba. O próximo passo é hospedar a marca em um marketplace e fomentar as vendas on-line. O público de BH tem a opção de ir ao estúdio, que fica no Bairro Serra, aos sábados, ou agendar um horário.


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