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Estado de Minas ENTREVISTA/ALEXIA BRANT - 54, ANOS PRESIDENTE DO SERVAS

Em nome da solidariedade

Avessa à vida pública, mulher do vice-governador encara o cargo como %u201Cuma missão%u201D


postado em 22/03/2020 04:00

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


Em pouco tempo, Alexia Brant enfrentou vários desafios. Para começar, assumir uma vida pública ao lado do marido, o vice-governador Paulo Brant, e, logo em seguida, a presidência do Serviço Social Autônomo (Servas), ocupado tradicionalmente pela primeira-dama – neste caso, como o governador Zema é divorciado, o cargo passa para a mulher do segundo na hierarquia do estado. Há um ano e três meses no cargo, ela já comandou campanhas depois de duas grandes tragédias em Minas Gerais: o rompimento da barragem da mineradora Vale, em Brumadinho, e as chuvas de janeiro e fevereiro, que arrasaram vários municípios mineiros. Alexia se descreve como uma pessoa muito reservada e não gosta de dar entrevistas. Em rara aparição, ela conta ao caderno Feminino & Masculino como anda a sua vida depois de dar uma pausa no seu trabalho como corretora de imóveis para se dedicar integralmente ao Servas, e avisa que não tem planos de assumir algum cargo político no futuro.
 
Como começa a sua história?
Sou Alexia Rodrigues de Paiva Brant, mineira nascida em Belo Horizonte, quinta filha de seis irmãos. Filha de Álvaro Benício de Paiva Filho e Cléa Rodrigues de Paiva. Vivi a infância na capital, morava no Bairro Gutierrez, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Pilar. Tive uma infância muito feliz brincando na praça com as outras crianças, em uma cidade bem mais pacata. Na minha infância e adolescência, estudei no Colégio Pitágoras, onde concluí o ensino médio.

Qual é a sua formação?
Sou formada em administração de empresas pelo Instituto Newton Paiva e em design de interiores pelo Instituto de Arte e Projeto (Inap). Durante anos, atuei no mercado de móveis de design e projetos de decoração. Atuei também na diretoria administrativa/financeira de uma empresa de transporte de cargas.

Como a senhora se envolveu com o mercado imobiliário?
Sou executiva de vendas de imóveis desde 2017. Trabalhava com móveis de design para um público exigente e esse mercado me levou a me interessar também pelo mercado de imóveis. Gosto de me relacionar com as pessoas, conhecer suas necessidades, buscar entender os seus sonhos e ajudar a realizá-los; por esse motivo entrei no mercado imobiliário.

Há quanto tempo a senhora é casada com Paulo Brant?
Estamos juntos há oito anos. Não tenho filhos, mas a união com ele me deu uma família linda, com quatro filhos e três netos. Me dou superbem com eles. Falo que é a família que Deus me deu.

Quando ele decidiu se candidatar a 
vice-governador, o que a senhora achou?
Foi um susto, já tínhamos passado por aquele evento com o Márcio Lacerda (em 2016, o então prefeito de Belo Horizonte desistiu de apoiar a candidatura de Paulo Brant para o cargo). No dia, ele falou que precisava conversar comigo, que era uma coisa bem séria: ia ser candidato a vice-governador. Perguntou o que eu achava. Disse que não achava uma boa ideia, mas falei que estava do lado dele. Vi o brilho no olhar dele, não podia falar não. Pelo caráter dele, sabia que ia ser bom. As pessoas em volta são do bem, é um governo bem-intencionado, de pessoas bem-intencionadas.

O que mudou na sua vida desde que o seu marido assumiu o cargo de vice-governador?
Diversas mudanças ocorreram, mas a de maior impacto, certamente, foi a de ter uma vida pública. Sou uma pessoa bem reservada, sempre preservei muito minha família, meus amigos. Cada um está em um cargo público, mas temos a nossa vida particular.

A senhora já tinha se envolvido com trabalhos sociais e voluntários?
Sempre tive um lado humanitário forte e me dediquei durante anos a cuidar dos meus pais em suas enfermidades, até o momento da despedida. Não existe sentimento melhor do que fazer o bem.

O que a senhora pensou quando soube que assumiria a presidência do Servas?
Senti-me tomada por uma grande responsabilidade e com um enorme desafio pela frente.

O que a senhora acha de estar em um cargo tradicionalmente ocupado pela primeira-dama?
Foi um processo natural, uma vez que o governador é divorciado. É uma honra assumir um cargo que tem uma história de quase 70 anos.

Para a senhora, foi difícil dar uma pausa na carreira para se dedicar ao Servas?
Em 2019, fiquei exclusivamente no Servas e fizemos algumas mudanças. Neste próximo ano, vou tentar voltar para o meu trabalho, mas ainda não estou conseguindo conciliar. O trabalho aqui exige muita dedicação. Vejo que é uma missão para mim.

Como funciona o seu trabalho à frente do Servas?
O meu objetivo é fortalecer a entidade, empreendendo um caráter humano e inovador, sem perder de vista a relevância dos serviços socioassistenciais. Como presidente da entidade, tenho primado, em todas as ações desenvolvidas, por fortalecer e enaltecer os nossos valores: credibilidade e solidariedade.

Até agora, na sua gestão, qual foi o momento mais desafiador?
Com certeza, o início da minha gestão foi o momento mais desafiador. Logo que assumi a presidência houve o rompimento da barragem de Brumadinho. Fui nomeada em 7 de janeiro e a barragem se rompeu no dia 25. Outro momento desafiador foram as fortes chuvas de janeiro e fevereiro. Brumadinho foi bem diferente, lá houve muitos óbitos, agora temos pessoas desabrigadas e desalojadas, o que exige mais trabalho nosso. Minas se mostrou muita solidária, todos acolheram a causa.

Quantas toneladas de donativos  foram arrecadadas depois das chuvas?
Em uma das maiores mobilizações para ajuda humanitária já vista na história do Servas e da Defesa Civil, conseguimos arrecadar cerca de 838 toneladas de doações para 196 municípios atingidos pelas chuvas. Fizemos muito contato com os empresários, um mandava mil cestas básicas, outro enchia o caminhão com doações. Pessoas físicas vinham e deixavam suas doações, aqui não estava cabendo mais. Muitas pessoas de fora nos procuraram, é gratificante. No momento, estamos precisando somente de voluntários, pois o trabalho ainda não acabou. Agora estamos estudando para entender como ajudar as pessoas neste segundo momento, muita gente perdeu tudo.

O que a senhora tem aprendido com estas experiências?
Aprendi que, mesmo em um mundo tão turbulento como este no qual vivemos, o ser humano é generoso, solidário e fraterno.

Quem mais, além das vítimas das chuvas, precisa de apoio do Servas neste momento?
Atualmente, o Servas direciona seus esforços no atendimento a entidades socioassistenciais previamente cadastradas que trabalham com moradores em situação de rua, associações rurais, famílias em situação de vulnerabilidade, crianças, adolescentes, idosos, portadores de deficiências, entre outros públicos que demandam atenção especial.

Como construir uma cultura de doação?
Vou falar por mim. Sempre fui uma pessoa que ajudei muito. Desde nova, tomei conta de pai e mãe a vida toda. Agora que estou aqui deste lado, vejo como as pessoas precisam de ajuda, às vezes não temos noção das necessidades. Isso muda a visão. Por isso falo que este trabalho é muito gratificante. As pessoas vinham de ônibus, de aplicativo, a pé, saíam do supermercado e vinham deixar as doações. Teve voluntário que chegou aqui no primeiro dia de carro trazendo colchão e ficou duas semanas ajudando. Precisamos ainda de voluntários porque estamos montando cestas, fazendo triagem de roupas, precisamos de muita ajuda. É só ligar para cá e marcar de vir.

Pelo que a senhora tem visto, os mineiros são solidários?
Sim. O povo mineiro se mostrou extremamente solidário e comprometido com as ações sociais.

Quais são os seus planos como presidente do Servas?
Alguns planos e ações já foram realizados, como tornar o Servas um serviço social autônomo, deixando claro que não fazemos política e somos totalmente apartidários. Alteramos a identidade visual, reduzimos drasticamente as despesas e equilibramos as contas. Estamos construindo um planejamento estratégico junto com a Fundação Dom Cabral em busca de melhor gerir as ações do Servas. Outra ação importante foi a criação do cadastramento positivo das entidades, tornando como plano principal atender somente às entidades socioassistenciais. Entre os planos que estão sendo implementados, os de maior relevância são: posicionar o Servas como a primeira escolha das entidades socioassistenciais e dos voluntários; impulsionar nossa atuação como agente catalisador para inclusão social; buscar crescente autonomia (imagem autônoma); manter e fortalecer a nossa credibilidade; reforçar e ampliar a rede de relacionamentos estratégicos.

Como a senhora quer que a sua gestão no Servas seja lembrada?
Como uma gestão séria, eficiente e transparente. Tornando o Servas o grande catalisador de esforços entre o setor público e o privado em prol da realização de ações socioassistenciais. Com isso, construindo uma cultura de doação nas pessoas.

Como é para a senhora, como mulher, ocupar um cargo de liderança?
Encaro como algo natural. A mulher vem a cada dia mais ocupando lugares de destaque na sociedade, algo que, ao longo da história, vem sendo construído. Acredito que não só as mulheres, mas os homens também, a cada dia precisam conquistar mais a liberdade de escolha em busca de um futuro promissor.

O que a senhora gosta de fazer em seus momentos de descanso e lazer?
Gosto de me reunir com a família e os amigos, viajar, ler um bom livro e aproveitar os momentos únicos da vida.

A senhora tem vontade de assumir algum cargo político no futuro?
Não tenho vontade. 


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