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Vocação fashion

Cada estação é diferente da outra, tem sua atração, conta uma história. Na verdade, em moda nada é exatamente igual ao que era antes


postado em 16/12/2018 05:07

(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)



Um curso de figurinista no Senac decidiu o futuro de Bárbara Luiza Oliveira, embora sua mãe já tivesse antecipado que o seu caminho profissional estava na área da moda. O encontro com a empresária Regina Matina, no início da década de 1990, na loja de tecidos em que desenhava modelitos para clientes, a colocou, definitivamente, no mercado. Primeira estilista da Disritmia, hoje DTA, ela aprendeu quase tudo que sabe dentro da fábrica de Betim, um verdadeiro laboratório de experiências no segmento jeanswear. Em novembro, Bárbara se desligou da marca, após quase três décadas, e começou uma etapa de prestação de serviços para outras empresas, entre elas a Civil. A estilista é testemunha das mudanças que revolucionaram o processo de produção do fashion no país. Seu segredo para compensar a agilidade atual, a responsabilidade no trabalho, a pressão dos novos tempos – e para harmonizar a veia criativa –, está em coisas simples, como poder voltar para uma casa gostosa à noite, cuidar das plantas e do seu cachorro, conviver com a família, e cultivar a fé em Deus e na sua protetora, Nossa Senhora das Graças.

 

Quando foi que você decidiu que queria fazer moda?
Sempre gostei de desenho, quando criança adorava gibis e de assistir a desenho animado na televisão. Então penso que tudo começou por aí. E há o fato de a minha mãe ser bordadeira, ela confeccionava uniformes escolares para jardim de infância, enxovais para bebês e noivas. Trabalhava naquelas máquinas antigas de pedal, bordava de tudo, letras, pequenos textos e mensagens. Era muito habilidosa e criativa. Acho que isso também me influenciou. Na minha família, todas as minhas irmãs se formaram em contabilidade e também segui esse caminho, mas, quando terminei o curso, descobri que o detestava. Foi a minha mãe quem me incentivou a buscar algo relacionado com moda, com a criação.

Você cursou alguma faculdade de moda?
Não. Como tinha atração pelo desenho, me matriculei em um curso de figurinismo, no Senac, que era voltado para o trabalho em lojas de tecidos. Naquela época, as pessoas ainda compravam muito tecido, principalmente para ocasiões especiais, como casamentos, formaturas, batizados, e levavam para as costureiras fazerem a roupa. Mal terminei o curso, fiz um pequeno portifólio e fui procurar emprego com a cara e a coragem. Não foi difícil e a minha primeira experiência foi na Casa Silvério Tecidos, na Savassi.

E como era o trabalho? Muita gente não “pegou” essa época.
As mulheres entravam na loja, eram encaminhadas para mim e tinha que conhecer aquelas pessoas. Procurava saber a que tipo de festa elas iam, o local e o horário, do que gostavam e do que não gostavam. Uma entrevista com muito tato e paciência, na qual a gente ia construindo a roupa no papel. Em seguida, vinha a oferta de tecido – uma renda, uma seda pura, um linho. O passo seguinte era o encaminhamento para os vendedores. Muitas delas chegavam receosas, com muitas dúvidas com relação ao dress code. Se poderiam usar chapéu em casamento de dia, uma sandália dourada, prateada, ou do mesmo tecido da roupa, uma carteira ou bolsa de metal, que tipo de gravata o marido devia comprar para combinar com o vestido. Então, era uma assessoria completa.

Onde você conheceu a Regina Matina, da hoje DTA?
Comecei a conversa com a Regina na Casa Silveira, onde nos conhecemos e ela me contou que estava abrindo uma indústria com o marido. Estava na Casa Bangu quando essa conversa finalizou. Ela havia gostado do meu trabalho, queria que eu conhecesse a fábrica. Mas, antes disso, as experiências nessas lojas me mostraram que meu caminho era a moda. Então, resolvi fazer a licenciatura de desenho e artes plásticas na ex-Fuma (hoje UEMG). Já estava no último ano quando comecei a trabalhar na Disritmia o dia inteiro, em Betim, e estudava à noite, na Gameleira. Era uma correria.

Indústria é um segmento completamente diferente. Como foi a sua adaptação?
Tive que obter outras informações além do tecido, como o conhecimento de máquinas, e pensar em coleção. Se antes meu contato direto era com as clientes das lojas, passou a ser com o modelista. Comecei a desenhar em outro formato. Desenhava e explicava para ele o que queria. Ele fazia o molde, passava para o cortador, até chegar na prova de roupa. O processo era todo manual, aqueles moldes em papel craft, que eram ampliados também a mão de acordo com a numeração. Ou, então, o modelista lançava mão da moulage, construía a roupa no corpo do manequim. Hoje, existem programas que oferecem todos os recursos. A gente desenha no computador e a modelagem também é feita assim.

Nesta época não havia internet...
A empresa assinava aquelas revistas grossas e os pesados bureaux de tendências, comprava fotos de fotógrafos, como Márcio Madeira, Fernando Louza, que cobriam as semanas de moda, para ver o que rolava nos desfiles. Hoje tudo é simultâneo, os bureaux são eletrônicos, com relatórios compilados. Cada marca faz o que o mercado espera, mas de forma criativa. Tem que ter agilidade de produto, mas ele não basta para gerar a venda. O serviço é cada vez mais importante. Conta muito o fator humano, um VM (visual merchandising) alinhado, uma equipe alinhada, para que o consumidor tenha uma boa experiência de venda.

Como essa agilidade influi no mercado da moda?
Comparativamente, o tempo de desenvolvimento de uma coleção era mais longo. Não havia um calendário rígido. Tanto as marcas como as tecelagens tinham timing próprios. Depois veio a oficialização dos calendários de lançamentos tanto para as tecelagens e importadores de matéria-prima quanto para a indústria de confecção. Hoje, grande parte das empresas lança coleções por etapas, em escalas, para proporcionar sempre frescor nos pontos de venda. A evolução do marketing, a profissionalização de várias etapas das equipes que trabalham nessa indústria e a internet deixaram pessoas e produtos mais próximos.

Você se identificou com o jeanswear?
Gosto muito da área. E aprendi muito também. O jeans da época, anos 1990, era muito rígido e fazer uma coleção feminina interessante, com várias modelagens e peças, desafiante. Logo, saquei que o pulo do gato estava na lavanderia. Quando entrei na DTA, a de lá era quase caseira, mas o Ermínio (Vidal, dono da empresa) também enxergava as possibilidades da lavanderia para construir a coleção que o mercado buscava. Na época, havia a Ellus, Forum e Vide Bula. No exterior, a Diesel, Replay, Miss Sixty e Guess. Então ele fez parcerias com lavanderias de São Paulo e na Itália, com intercâmbio de funcionários dos dois lados. Os técnicos vinham a Betim, geralmente nos fins de semana, e a gente acompanhava os testes e os resultados, em uma conversa que incluía pedidos tipo “bate mais”, “este azul está bom”, “aumenta o rasgo”, descobrindo/desenvolvendo assim novas técnicas que possibilitaram resultados de beleza e conforto no jeans.

Nestes quase 28 anos de mercado, que outras novidades chegaram?
A abertura do governo Collor para a entrada dos tecidos da China foi boa para a indústria da moda. Considero que a novidade para o casual chic foi que o poliésteres atual respira, diferentemente daquele tecido quente de antes, oferecendo certo conforto. O de hoje é leve, macio, fluido. Há poliéster belíssimos. Outra é a nova viscose, que amassa menos. E linho agora vem misturado com outras fibras, como o algodão e a viscose. A mistura de fibras na seda produz resultados lindos. A chegada do tencel, fibra natural, trouxe frescor de fluidez permitindo roupas femininas e charmosas.

E no segmento do jeans?
A entrada do elastano permitiu novas construções no corpo. A evolução nessa área foi muito grande. Podemos citar a diversidade de pesos do denim, a intensidade e variedade de tons do índigo, a entrada da fibra tencel, a evolução do maquinário de acabamento dentro da lavanderia industrial e o sucesso do jeans no mercado mundial com a busca do consumidor ávido por novidade, aproximando o mercado jeanswear e casual, além da possibilidade do tingimento índigo em outras bases como moletom, meia malha, linho e viscose. Novidade também é a fibra T 400, que guarda a memória do corro, não deixa o jeans lacear.

São quase três décadas de atuação em um mercado veloz. O entusiasmo continua o mesmo?
Sim. Cada estação é diferente da outra, tem sua atração, conta uma história. Na verdade, em moda nada é exatamente igual ao que era antes. O timing das coisas é que deixa a gente apreensiva. Temos que ter foco para viabilizar o trabalho em tempo hábil. Precisamos entender que a empresa tem metas, funcionários, folha de pagamento, várias famílias dependem do negócio. Então, a estrutura tem que funcionar. Nós, estilistas, somos o início da história, temos responsabilidade pelo produto que criamos ser vitorioso, um produto que tem que ser atrativo, desejável, disponível para consumo e com preço, e que nasce a partir de nossas escolhas.

Quem tem expertise nesta área fica rotulado?
Quem faz jeans, faz também casual chique. O contrário não acontece. Entendo o jeans como um plus, um bônus de admissão em uma estrutura que exige muito conhecimento. Ele é uma tela em branco, conta pouco para onde vai e de suas possibilidades, ao contrário de outros tecidos.


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