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Estado de Minas

O MEC adverte: Miojo, agora, faz mal à nota

Ministério marca exame para o fim de outubro, avisa que edital deste ano pune quem abordar temas estranhos à redação, como a receita de macarrão que apareceu em edição anterior, e alerta que rigor com português será maior


postado em 09/05/2013 06:00 / atualizado em 09/05/2013 07:22

Ana Carolina Borja de Oliveira quer estudar medicina na UFMG e dedica atenção especial à redação, que terá correção mais criteriosa:
Ana Carolina Borja de Oliveira quer estudar medicina na UFMG e dedica atenção especial à redação, que terá correção mais criteriosa:"Ela é decisiva" (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)

Foi preciso aparecer receita de macarrão instantâneo e hino de time de futebol nas redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para que as correções dos textos se tornassem mais rigorosas. O Ministério da Educação (MEC) anunciou ontem tolerância zero para quem escrever “gracinhas” nas provas, assim como punição a erros gramaticais. A partir deste ano, trechos indevidos poderão significar nota zero e a desobediência à norma culta da língua só será aceita em casos excepcionais, desde que não caracterize reincidência. O edital com as novas regras e a data do exame, 26 e 27 de outubro, está publicado hoje, no Diário Oficial da União (DOU). As inscrições serão abertas segunda-feira.

As mudanças começaram a ser discutidas depois que foram divulgados nas redes sociais, no início do ano, trechos de redações da última edição da avaliação, aplicada em novembro. Candidatos que escreveram receita de Miojo e o hino do Palmeiras no texto ganharam notas 560 e 500, respectivamente. Na época, o MEC informou que não houve punição máxima por causa do edital, que não permitia zerar as provas. Agora, a possibilidade de anulação estará explícita no caso de algum trecho em desacordo com a proposta.

Também causaram controvérsia na internet redações com erros de grafia que receberam a maior pontuação (1 mil). Ontem, não foram apresentadas regras claras quanto às questões gramaticais durante a entrevista coletiva em Brasília. Caberá à banca de corretores considerar o erro uma exceção ou não. “A regra é clara, mas a interpretação do juiz nem sempre é um consenso. Tem um grau que compete à banca, não tem como prever o grau que será aceito ou não. O que podemos dizer é que será mais rigoroso”, disse o ministro Aloizio Mercadante. Ele acrescentou que será preciso ainda uma justificativa dos avaliadores quando houver nota máxima, bem como para os erros gramaticais considerados exceção.

Para demonstrar o quanto o processo será mais rígido, o ministro afirmou que a expectativa é de que uma a cada três redações passe pelo crivo de um terceiro corretor – antes, o índice era de apenas 21%. Isso ocorrerá quando houver discrepância de mais de 100 pontos entre os dois primeiros corretores. No ano passado, essa diferença tinha de ser de mais de 200 pontos para que houvesse a revisão.

Diretor do Colégio Arnaldo, Geraldo Junio dos Santos acredita que a situação só chegou a tal ponto por falta de seriedade na correção. “Só um mau profissional, que não leva esse trabalho a sério, aceita uma receita de miojo em um texto. Por mais que haja uma corrente mais conservadora e outra que defenda um olhar sobre o contexto da escrita, não existe nenhuma que concorde com isso”, afirmou. No caso da gramática, para ele, o ideal seria definir a perda de pontuação a partir de determinada quantidade e níveis de erro, a exemplo do que fazia a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) nas provas abertas de sua segunda etapa. “O mais plausível é ter uma tabela de correção, mas que seja coerente, já que as redações sempre são alvo de questionamento”, disse. O pedagogo é a favor ainda de um endurecimento no acompanhamento dos corretores: “É preciso fazer auditoria para saber como estão sendo feitas as correções”.

Redação é a prova que mais preocupa a aluna do 3º ano do ensino médio Ana Carolina Borja de Oliveira, de 16 anos. Candidata a uma vaga em medicina na UFMG, ela se dedica, em casa, a estudar português, matemática e produção de textos, quando não tem aula à tarde na escola. “Essas são as áreas mais importantes do Enem, pois as duas primeiras matérias têm o maior peso e a redação é decisiva”, disse. Palavras de quem entende do assunto: a garota participou de outras duas edições do Enem como treineira.

No ano passado, a estudante foi aprovada em enfermagem, na UFMG e na Federal do Mato Grosso, e em engenharia de alimentos, na Federal de Viçosa (Zona da Mata mineira), por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Com as novas regras de gramática, resta agora prestar atenção e intensificar a preparação, mas nada que a faça sair da rotina. Para a “veterana” em Enem, problema mesmo é a questão psicológica. “Se vai mais tranquilo, com certeza o candidato está preparado para aguentar a maratona que é a prova. Quem está nervoso precisa ainda conciliar a situação com o tempo limitado e acaba não dando certo.”

Punição é necessária. Bom senso também
Geraldo Junio dos Santos, Pedagogo e diretor do Colégio Arnaldo


“Erros gramaticais devem ser punidos, pois esse é o nosso código de comunicação. Acabamos aceitando alguns (erros) no dia a dia, mas, como critério de avaliação, deve-se priorizar a norma culta da língua. Porém, ela não pode ser superior à expressão. O peso da ortografia não pode vir maior que a proposta de comunicação que está sendo feita. Às vezes um candidato tem uma excelente proposta, mas tem nota ruim na redação porque deram muito peso aos erros. Logo, não é possível dar nota 1 mil, mas 950 ou 980, por exemplo, se for bem escrita. O que não pode é descontar 10 pontos por erro. Falando de uma seleção, não é possível ter uma ótima produção, ter vários erros e não ser punido. Até por uma questão de equidade, não posso atribuir a mesma nota a quem não teve erros. Mas também não posso gerar uma punição severa, a ponto de prejudicar o acesso do aluno ao ensino superior, diante de um texto com excelente argumentação e poder de intervenção social, que são as premissas do Enem. É preciso bom senso e uma tabela de correção, para não gerar dúvidas.”

INSCRIÇÕES

Os candidatos ao Enem terão de segunda-feira até o dia 27 para fazer a inscrição do exame e até o 29 para pagá-la. Estão isentos estudantes de escolas públicas e quem tem renda mensal per capita de até um salário mínimo e meio. No primeiro dia de provas serão aplicados testes de ciências humanas e ciências da natureza. No segundo, será a vez de linguagens e códigos, matemática e redação.

Os portões serão abertos às 12h e o exame começará às 13h (horário de Brasília). Nos cartões de inscrição, haverá um número de telefone para orientação a gestantes e deficientes. Haverá ainda dois modelos de prova com letra maior – uma em fonte tamanho 18 e outra em 24.  (Com Agência Brasil)


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