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Estado de Minas CRISE ECONÔMICA

'Carne aqui em casa virou luxo', diz beneficiária do Auxílio Brasil

Carien Barth, 54, está desempregada e, desde meados de outubro, tenta conseguir o empréstimo consignado; segundo ela, benefício foi negado


16/12/2022 06:35 - atualizado 16/12/2022 11:24

Na foto, aplicativo da Caixa e dinheiro
A Caixa é a principal fornecedora dessa modalidade de empréstimo (foto: Reprodução/Agência Brasil)
Desde o fim das eleições os beneficiários do Auxílio Brasil passaram a ter dificuldade para conseguir o empréstimo consignado associado a esse benefício.

 

Em agências da Caixa em diversas regiões da cidade de São Paulo visitadas pela reportagem, a informação é de que a linha não está disponível, mas que a procura continua. Os atendentes afirmam que pelo menos cinco pessoas vão até as unidades por dia com a intenção de pegar o empréstimo, sem sucesso.

 

É o caso de Carien Barth, 54. Ela está desempregada e, desde meados de outubro, tenta conseguir o crédito. Segundo ela, na primeira tentativa, o empréstimo de R$ 2.400 apareceu como aprovado no aplicativo Caixa Tem, mas logo foi cancelado.

 

Quando foi a uma agência da Caixa Econômica Federal presencialmente para tentar, pela terceira vez, conseguir o crédito, o gerente a informou que o pedido foi recusado porque ela já tinha um empréstimo pelo SIM Digital ainda em vigência. Carien conta que o gerente informou que, se quitasse a dívida naquele momento, o empréstimo do Auxílio Brasil poderia ser concedido.

 

A Caixa é a principal fornecedora dessa modalidade de empréstimo.

 

Em seu site, o banco informa que clientes com o CPF irregular, com o auxílio que já esteja em previsão de acabar, que possuem alertas de não comparecimento à convocação realizada pelo Ministério da Cidadania, que estão recebendo o benefício há menos de 90 dias ou que não recebem o benefício por meio de crédito em conta não são elegíveis ao empréstimo, conforme as regras estabelecidas pelo governo. O motivo que serviu como justificativa para a negativa ao pedido de Carien não consta na lista.

 

"Tenho até vergonha de dizer, mas carne aqui em casa virou luxo", afirma a moradora de Novo Hamburgo (RS). Ela fez o pedido do empréstimo para quitar dívidas e conseguir comprar uma cesta básica.

 

Caixa diz que sistemas tiveram suspensão programada, mas não comenta dificuldades Em nota, a Caixa informa que, entre os dias 25 de novembro e 8 de dezembro, foi realizado o processamento da folha de pagamento do Auxílio Brasil, uma rotina que envolve o banco, a Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social) e o Ministério da Cidadania. Nesse período, a contratação de novos empréstimos fica suspensa, diz a Caixa, mas seria retomada a partir da última segunda-feira, 12.

 

Mesmo depois de informada que os clientes ainda não conseguem acessar a linha de crédito após esta data, a Caixa reiterou a informação de que o consignado para quem recebe Auxílio Brasil está disponível nas agências.


Segundo relatos de funcionários que trabalham nas agências da Caixa em São Paulo, na segunda, o sistema permaneceu fora do ar. Já na terça-feira, 13, os relatos eram de que o sistema estava disponível novamente, mas apresentava oscilações. Neste mesmo dia, nas agências, a informação, logo na entrada, era de que as contratações não estavam ocorrendo.

 

Ao ouvir que a Caixa não estava mais concedendo esta modalidade de crédito, Dannielle Souza Silva, 49, tentou conseguir o consignado no valor de R$ 2.100 pelo Banco Pan. Segundo ela, o benefício foi aprovado, mas pouco tempo depois o banco cancelou o empréstimo e ela foi aconselhada a entrar em contato com outra instituição para conseguir juros menores.

A moradora de Belford Roxo (RJ) diz que pretendia usar o dinheiro para quitar dívidas e comprar roupa para presentear os filhos no final do ano.

 

Segundo o governo federal, além da Caixa e do Banco Pan, outros 14 bancos também foram autorizados, no início de outubro, a conceder o crédito consignado do Auxilio Brasil. A Folha de S.Paulo entrou em contato com todos eles e, com exceção da Caixa, todos informaram que não estão mais avaliando novas propostas para essa modalidade de crédito consignado. A maioria deles não chegou a oferecer o empréstimo aos clientes.

 

Em nota, o banco Daycoval, um dos credenciados para oferecer o consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil, afirma que "estuda com cautela as regras de adesão à portaria do Ministério da Cidadania, uma vez que a ativação do produto exige a realização de ajustes sistêmicos não previstos".

 

 

O empréstimo consignado do Auxílio Brasil passou a ser concedido às vésperas do segundo turno das eleições em meio a polêmicas. A medida eleitoreira teve regulamentação tardia e sofreu críticas de especialistas por comprometer um benefício que deveria ser destinado para subsistência.

 

Para Cintia Senna, educadora financeira da DSOP educação financeira, esse é um tipo mais arriscado de crédito do que qualquer outro porque compromete um auxílio que é temporário e de valor muito baixo.

 

Ela recomenda que beneficiários do Auxílio Brasil não recorram ao crédito consignado para quitar dívidas, o que criaria mais uma despesa, mas que utilizem a totalidade do benefício para garantir alimentação e sobrevivência.

 

Segundo a educadora, o ideal é que esses beneficiários utilizem 100% do auxílio para os gastos do dia a dia e, paralelamente, procurem outras fontes de renda que sejam mais duradouras para o pagamento das dívidas. Senna sugere ainda que as contas sejam renegociadas para caber no orçamento mensal.

 

Após as eleições, um comitê formado por funcionários e ex-dirigentes da Caixa entregou um documento para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que é recomendada a revisão dessa modalidade de crédito, com alerta sobre o risco de superendividamento das famílias de baixa renda.


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