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Estado de Minas INFLAÇÃO ALTA

Lista de vilões dos preços vai de batata e pimentão a laranja e limão

Levantamento feito neste mês pela CeasaMinas indica nove legumes e frutas negociados com reajuste de até 53% no atacado


29/08/2021 04:00 - atualizado 29/08/2021 07:52

Negociando todo dia com produtores rurais, o gerente de sacolão Frederico Melo diz que, em períodos de alta, é preciso ter ofertas(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press )
Negociando todo dia com produtores rurais, o gerente de sacolão Frederico Melo diz que, em períodos de alta, é preciso ter ofertas (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press )
Se os altos preços que o consumidor pagou por algumas frutas, verduras e legumes nos primeiros seis meses de 2021 já assustavam, as perspectivas para os próximos meses não são animadoras. Somado ao fato inusitado da pandemia, o acúmulo de problemas, como crise hídrica, variações climáticas intensas, com tempestades e geadas, aumentos frequentes dos preços dos combustíveis e de insumos usados na agricultura e o dólar em alta, favorecendo o mercado exportador, preocupam produtores rurais de pequenas e médias propriedades, responsáveis pelo fornecimento de alimentos a mais de dois terços da população brasileira.

Levantamento de preços realizado pela CeasaMinas de 1º a 25 deste mês, comparados a julho, indicou nove produtos em alta no atacado. Na comparação com o valor final pago pelo consumidor, ao acessar gôndolas de sacolões e supermercados, a situação é ainda mais grave.

A berinjela foi a grande vilã da vez, com variação de preços de 48,8%, seguida da abobrinha italiana (44,6%), pimentão (33,3%), batata lisa (26,8%) e cebola amarela (6,5%). O limão tahiti liderou o ranking entre as frutas mais consumidas, com remarcação de 53%, seguido da banana-prata (51,16%), laranja-pera (19,4%) e melancia, esta última com alta de 15,4%.

Em elevação, mamão seguirá tendência de alta de preços com menor restrição à quarentena, segundo o produtor Wemerson Barbalho(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Em elevação, mamão seguirá tendência de alta de preços com menor restrição à quarentena, segundo o produtor Wemerson Barbalho (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)


Na direção oposta, as maiores baixas de preço foram verificadas para a moranga híbrida, com queda de 17,9%, cenoura (-16,6%), couve-flor (-12,2%), maçã brasileira (-9%), melão (-8,5%), repolho híbrido (-5,9%) e manga (-2,6%). Ricardo Fernandes Martins, coordenador do setor de informações de mercado da Ceasa-MG, afirma que os aumentos refletem impactos provocados pelo frio intenso no interior de Minas e as geadas que atingiram alguns municípios do estado, mas principalmente os estados do Sul e São Paulo.

As adversidades climáticas provocaram migração de compradores desses estados para o entreposto mineiro, o que levou à escassez de alguns produtos e à consequente alta nos preços. “Houve muitos prejuízos entre produtores de hortaliças e frutas, que são mais sensíveis ao clima frio, como abobrinhas, berijela, jiló, pepino, pimentão, tomate. As verduras sofreram menos o impacto, são produzidas no entorno de BH ,que não sofreu tanto como o Sul de Minas."

No caso das frutas, o frio intenso atrasa o desenvolvimento das plantas e o período de entressafra também reduz a oferta, elevando os preços, como ocorreu com o limão, que tem seu período mais crítico entre setembro e novembro. “O abacate teve preços reagindo fortemente, e o mamão, alta expressiva.”

Produtor de banana, Geraldo Alves vem acompanhando a oscilação dos preços da fruta neste ano, mas em níveis muito elevados(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Produtor de banana, Geraldo Alves vem acompanhando a oscilação dos preços da fruta neste ano, mas em níveis muito elevados (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Reabertura 

Comprador diário na CeasaMinas, Frederico Justino de Melo, de 51 anos, gerente do Varejão da Fartura em Belo Horizonte, diz que a rede, com mais de 10 lojas, tem grande demanda. “Na verdade, em períodos de alta de preços, para manter a oferta aos clientes vendemos alguns produtos a quase preço de custo. Foi o caso do quiabo, que chegou ao absurdo de R$ 20 o quilo, o jiló a R$ 18.” O preço vendido nas gôndolas, segundo o gerente, obedece a uma margem de lucro já prevista na contabilidade.

Na quinta-feira da semana passada, Jaime Soares Campos,de 48 anos, produtor de limão thaiti em Janaúba, no Norte de Minas, revendia o produto no entreposto de Contagem, na Grande BH, por R$ 50 o saco de 20 quilos, mas o preço pode chegar a R$ 100, a partir de 15 de setembro, como alerta. Para o produtor de mamão no Jaíba, também no Norte de Minas, Wemerson Barbalho, de 35, com a perspectiva de reabertura total de escolas a tendência é de alta do produto. A fruta apresentou preços variando de R$ 40 a R$ 50 a caixa de 20kg.

O produtor Geraldo Alves da Cruz, de 45, vende bananas, das variedades caturra, prata, maçã, e da-terra, vindas do Jaíba. “Oscilou muito o preço, principalmente a caturra. O preço médio, que estava na faixa de R$ 35 a R$ 40 a caixa de 20 quilos, chegou a R$ 50 na semana passada. Agora, baixou para R$ 45. A prata teve aumento, em média, de R$ 40, e hoje é vendida a R$ 55 a caixa. Há duas semans, custava R$ 45, subiu para R$ 50 e agora está em R$ 55. Houve queda na procura”, afirma.

Marcio Pereira Gonçalves estima uma alta entre 30% e 40% nos preços do chuchu, tomate e inhame. Ele é produtor em Santa Bárbara do Leste. Gonçalves estima também que o acabate, vendido na quinta-feira entre R$ 50 a R$ 60 a caixa de 15 quilos, chegue a R$ 80 e R$ 100 no próximo mês. "A geada queimou 30% de toda a produção e os efeitos começaram a ser sentidos agora.”

A dona de casa Maria da Penha reclama dos %u201Cpreços abusivos%u201D e de corrupção na política, como fator de crise(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
A dona de casa Maria da Penha reclama dos %u201Cpreços abusivos%u201D e de corrupção na política, como fator de crise (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Tempo de safra pode conter alta

No cenário influenciado por mais fatores de pressão sobre os preços dos alimentos para o consumidor, surge um possível alento nos próximos meses, tendo em vista o período mais favorável à produção agrícola, como lembra o chefe do setor de informações de mercado da CeasaMinas, Ricardo Martins. Em geral, o produtor rutal conta, no segundo semestre, com as chuvas de fim de ano, trazendo reflexos positivos para a produção. Com expansão da oferta, a expectativa é de redução dos preços, como mandam as leis da economia. Os seis últimos meses de cada ano começam com chuvas mais leves, a partir de setembro, “e normalmente essa situçaõ é muito boa para o hortigranjeiro”, explica o especialista.

Entre os fenômenos que explicam a elevação dos custos de produção no campo, Ricardo Martins destaca a valorização do dólar, à qual os insumos estão atrelados, o custo de transporte dos alimentos da lavoura ao varejo, além da remuneração muito baixa de alguns produtos, o que desestimula o plantio. Como exemplo, ele cita a mandioca, que teve sequência, entre 14 e 18 meses, de preços depreciados. “Logo em seguida o preço reage, fica em patamar bem mais alto por um ano, o que estimula o plantio, são sequências de altas e baixas que se intercalam.”

Ricardo Martins se mostra otimista, numa avaliação geral sobre o comportamento dos preços, tendo em vista o inverno rigoroso deste ano: “Pelo impacto do frio, esperava pior situação. No início do período de pandemia, tinha medo de que se agravasse mais, com o fechamento de escolas, bares e retaurantes, e, pelo que percebemos, isso, de certa forma, foi compensado pelo crescimento do consumo em residências, tanto que o volume de produtos negociados em 2020 foi praticamente o mesmo de 2019.” (EG)

Para buscar ofertas, a professora Maria Célia Chaves aptou por fazer compras no sacolão após o meio-dia(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Para buscar ofertas, a professora Maria Célia Chaves aptou por fazer compras no sacolão após o meio-dia (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Famílias buscam escaldo de feiras

Os reajustes aplicados, neste mês, aos preços do frango em pedaços (5,24%), queijo (4,24%) e café moído (3,89%) na Grande Belo Horizonte se juntaram às hortaliças e legumes mais caros, itens que mais pressionaram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA) , prévia da inflação oficial, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com razão, os consumidores reclamam e buscam alternativas para contrabalhançar o aperto no orçamento.

Para a dona de casa Maria da Penha da Silva, de 67 anos, os preços estão abusivos. “Estava observando que os mesmos produtos que comprei no mês passsado, hoje (ontem) estão R$ 2 ou R$ 3 mais caros. Você vai ao supermercado ou sacolão com R$ 500 ou R$ 600 e não leva nada”, afirma. Na tentativa de administrar as compras atendendo cinco pessoas da família, a saída foi cortar gastos com alimentos mais caros, como a carne de boi e legumes, a exemplo do quiabo.

“Eu me pergunto: que país é este em que estamos vivendo?. Sinceramente, quem ainda está conseguindo colocar alguma coisa na mesa pra comer é por milagre de Deus. Muita gente passando fome. É um absurdo, o Brasil é deste tamanho, produz alimento e manda para o mundo inteiro e nós aqui pagando caro”, critica. Maria da Penha destaca que o Brasil tem as suas riquezas e uma população trabalhadora, mas muita corrupção na política, ao que atribui a crise.

Professora do estado, Maria Célia Ferreira Chaves, de 65, diz que os preços, que também considera “absurdos”, resultam da busca tanto de comerciantes quanto de produtores rurais em levar vantagens, além dos políticos. “Tenho deixado de comprar vários produtos. Carne vermelha não compro mais. Verduras, procuramos substituir pelas mais baratas. Apesar de caras, com as verduras a gente consegue variar em alguns supermercados. No sacolão, depois do meio-dia, o preço baixa entre 10% e 15%, então é a hora de vir comprar. O fim de feira, quando você escolhe bem e higieniza pra poder comer. Porque nossa saúde vale qualquer coisa.” (EG)


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