A pandemia afetou de forma significativa alguns setores da economia, que acumularam prejuízos durante o período, como o de eventos, bares e restaurantes, por exemplo. Mas, nem todos foram impactados negativamente neste cenário tão adverso. O setor imobiliário é um dos que tem vivido um bom momento.
"É um dos melhores que já tivemos no mercado imobiliário dos últimos anos", afirma Rafael Scodelario, especialista no setor e CEO do Grupo Escodelar.
Para ele, este mercado tem recebido incentivos e será um dos grandes impulsionadores da retomada econômica do país, junto com o agronegócio.
"O crédito imobiliário está mais barato e mais acessível. Se nós levarmos em consideração a taxa de juros do ano de 2019 para agora, ela está 30% mais baixa. E com o crédito mais acessível, o poder de compra fica mais alto."
De acordo com ele, com os juros mais baixos, muita gente correu para comprar seu imóvel.
"Esse movimento permitiu que muitas famílias pudessem comprar a casa própria, pois as prestações estavam mais baixas e dentro do orçamento doméstico".
Scodelario acredita que mesmo com o aumento da taxa Selic, o mercado seguirá a pleno vapor. "Mesmo com um ou outro reajuste, ainda estamos numa fase boa para quem deseja comprar imóvel, a demanda segue aquecida no mercado."
Na quarta-feira (4/8), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic (taxa básica de juros) em 1,00 ponto porcentual, de 4,25% para 5,25% ao ano.
Segundo estimativa do Boletim Focus, ela pode encerrar o ano em 6,75%.
"Os bancos estão repassando as taxas de financiamento do setor imobiliário na faixa de 7% ao ano. Está muito abaixo do que estávamos trabalhando nos últimos anos. Ainda é uma taxa de juros muito boa. Isso no mercado de compra visando a moradia."
"Já para o investidor que vai comprar para deixar em uma renda passiva de locação, é o melhor dos mundos porque o IGP-M (índice que reajusta os contratos de locação), no acumulado passou de 30%. No mês de maio, o acumulado dos últimos 12 meses foi de 37%", completa.
Para o especialista, o investidor que compra um imóvel visando a locação esse é o melhor investimento. "Muito cliente está tirando o recurso da Bolsa, de fundos de renda fixa para investir no mercado imobiliário."
Razões para aumento da demanda
Dentre as principais razões para este aumento de demanda, o especialista destaca alguns: "A prestação muito próxima do valor do aluguel. O que a pessoa vai pagar de aluguel é semelhante ao financiamento. Além disso, vai estar comprando algo que é dela e o imóvel só tende a valorizar."
Outra razão destacada por Scodelario é a procura por conveniência na pandemia, como imóveis maiores ou em cidades próximas dos grandes centros.
"A pandemia ajudou as pessoas a pensarem que elas precisam de um espaço maior para o home office, por exemplo. Então este movimento de clientes que estão migrando de um imóvel menor para um maior é muito grande. De um apartamento para uma casa, de uma casa para outra ainda maior."
"Estamos sentindo que as pessoas estão vendo que precisam ter comodidade no imóvel que moram. Eles querem mais espaço, estão convivendo mais com a família. Nesta pandemia cresceu muito também a compra por pets. Então querem mais espaço", completa.
A última razão seria a atratividade do segmento como alternativa de investimento, "já que brasileiro sempre foi afeito a imóveis."
Boas opções de imóveis no mercado
"Você ainda encontra boas opções de compra. Só que a partir do momento que o crédito está mais acessível e mais fácil, consequentemente, a demanda na procura por imóveis aumenta. Assim, eles tendem a subir de preço."
Segundo ele, já é possível perceber uma movimentação de aumento de preços. "As construtoras já estão começando a vender seus estoques e os novos lançamentos estão sendo vendidos mais rápido. Já não temos tanta vacância (taxa de imóveis desocupados) de imóveis prontos."
Apesar disso, ainda existem imóveis disponíveis. As pessoas precisam apenas encontrar o perfil que se encaixe no que elas buscam. "Precisa ver o que a pessoa busca: localização, metragem, distribuição, documentação. A grande maioria (80%) adquire imovel através de financiamento imobiliário, então a documentação precisa estar em ordem."
Além disso, segundo o especialista, é preciso analisar o que o cliente precisa para adquirir o imóvel. "E colocar na ponta do lápis e na balança qual o melhor cenário para ela. Mas, daqui a pouco a vacância vai diminuindo e pode voltar àquele mercado de 2011 que tinha muito cliente para comprar e pouca oferta."
Para Scodelario, a tendência do financiamento habitacional não é de grande alta. "Vamos ter alguns bons anos de mercado pulsante e o investidor vai ter uma valorização comprando imóvel tanto para alugar como para morar."
*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Vera Schimitz