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Estado de Minas EM ALTA

Mercado de produtos eróticos cresce 50% durante a pandemia

A necessidade de isolamento social, com consequente solidão e distanciamento dos parceiros, leva muitos consumidores a recorrerem a lojas especializadas em produtos para satisfação sexual


18/07/2020 04:00 - atualizado 18/07/2020 07:28

(foto: Wikicommons)
(foto: Wikicommons)

Cerca de 1 milhão de produtos eróticos foram vendidos desde o início de março no Brasil, de acordo com levantamento feito pelo portal Mercado Erótico. O volume é 50% maior que em igual época do ano passado e diz respeito ao período da pandemia da COVID-19 no país. Isolamento social, solidão e facilidade de compra por e-commerce são algumas das causas apresentadas por especialistas.

Esse contexto foi justamente o que fez com que as irmãs e sócias Ana Luiza Viana Borges e Beatriz Viana Borges tirassem do papel o projeto da butique erótica Velle. “Somos uma marca nova e mantivemos nosso perfil e blog com conteúdo educacional desde o primeiro dia de junho, para posteriormente lançarmos a loja, no início deste mês. E a procura tem sido realmente grande. Já tivemos, inclusive, produtos que foram esgotados na metade do período tido como média normal pela nossa plataforma de vendas”, relata Ana Luiza.
 
As cofundadoras da Velle contam, ainda, que, mais que  vender, o objetivo da loja virtual se dá também na educação sexual, principalmente em meio à pandemia, tendo em vista o crescente aumento da procura por produtos eróticos. “Nosso foco é que nossas clientes tenham acesso a mercadorias de qualidade e que também sejam instruídas. Portanto, buscamos sempre tirar dúvidas e mostrar como usar cada produto, a fim de que o objetivo de aquisição também seja atingido. Além disso, temos uma inspiração no período grego, visto que a sexualidade na época era mais bem debatida, então, todos os nossos produtos levam nomes de deusas gregas, o que gera curiosidade e identificação. Tudo para tornar a experiência ainda melhor”.

Os produtos eróticos têm, conforme Ana Luiza, um amplo cardápio. Por isso, os preços variam de R$ 15,90 a R$ 549,90, a depender de suas funções. “Existem produtos para iniciantes, outros mais elaborados e até mesmo importados. Então, os preços variam muito, o que depende também do material utilizado”, diz.

SOLIDÃO 


Melina Martins Beltrame Lelis, proprietária da Desejos Sex Shop BH, afirma que percebeu o aumento na procura em sua loja on-line. “Com o distanciamento, tivemos elevação de 70% na aquisição de produtos eróticos voltados para o público feminino. Percebemos que, por se sentirem sozinhas, principalmente pela distância de seus parceiros, muitas mulheres têm buscado novas formas de se satisfazerem, o que impulsionou as vendas.”

Larissa Antunes, vendedora da A sós, em Belo Horizonte, destaca que esse aumento também foi percebido na franquia localizada no Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha. “Precisamos passar por algumas mudanças, devido à pandemia, e criamos um site de vendas on-line, o que culminou em um aumento significativo nas vendas. O resultado foi um faturamento três vezes maior do que nos últimos três anos.”

Em um momento no qual o contato humano é reduzido, conforme observa a ginecologista e professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ana Luiza Lunardi, há a necessidade por delinear atividades satisfatórias, bem como de experimentar novas formas de descobrir este prazer.

Segundo a ginecologista, o aumento da procura por produtos eróticos pode se justificar por essa carência afetiva e sexual. “As pessoas estão mais tempo sozinhas em casa, sem manter muitas relações próximas, então há a tendência de que elas busquem mais por esses chamados brinquedos sexuais, a fim de satisfazê-las. O fator psicológico também pode contribuir para a elevação desse índice, visto que o uso desses produtos pode caracterizar-se como um método de liberação de estresse.”
 
 
 
Para Beatriz Viana, o e-commerce, formato imposto pela pandemia de COVID-19, tende a se tornar um aliado também para as clientes (foto: Velle/Divulgação)
Para Beatriz Viana, o e-commerce, formato imposto pela pandemia de COVID-19, tende a se tornar um aliado também para as clientes (foto: Velle/Divulgação)

Ana Luiza pontua que, apesar de alguns cuidados serem necessários na hora da compra e uso dos produtos, eles podem ser benéficos à saúde da mulher, como para o alívio de tensão. Segundo ela, a aplicação desses objetos na masturbação, a fim de facilitá-la, pode contribuir para o orgasmo feminino, o que culmina na liberação de endorfina, proporcionando a sensação de bem-estar.

Por outro lado, existe uma variedade grande desses produtos e muitas pessoas podem estar consumindo-os pela primeira vez. “Alguns itens podem fazer mal à saúde das mulheres. Isso porque determinados objetos sexuais têm diâmetros maiores do que o que realmente pode ser suportado pela usuária, e, ao serem usados sem lubrificação, propiciam o aparecimento de ferimentos, graves ou não.”

Além disso, a ginecologista explica que produtos à base de corantes e fragrâncias podem causar alergias ou irritar a parede vaginal. “É importante sempre manter o cuidado e optar por produtos antialérgicos. Ainda, é essencial que os itens sejam bem guardados e higienizados após o uso, a fim de evitar irritações. Outro ponto importante é que os brinquedos sexuais não devem ser compartilhados”, diz.


TABU  

 
 
 
(foto: Velle/Divulgação)
(foto: Velle/Divulgação)
 
“Houve, nas últimas décadas, uma quebra de tabu muito grande em relação à questão da sexualidade como um todo. E, essa libertação, do ponto de vista da sexualidade, antecede à pandemia. E, falar desses dispositivos, sobre sexo e sexualidade, é uma forma de tocar no assunto sobre saúde sexual. Quanto mais a mulher aprende a se tocar e o homem conhece o seu corpo e suas zonas eróticas, mais saudável é a pessoa e mais ela consegue desenvolver uma relação, do ponto de vista sexual”, explica a psicóloga e coordenadora do curso de psicologia da Estácio, Renata Mafra.

Apesar disso, Larissa Antunes conta que as pessoas ainda sentem certa pressão quanto a compra e escolha de produtos eróticos, o que, segundo ela, são resquícios de um tabu ainda presente na sociedade como um todo. “As perguntas que mais recebemos são se a embalagem vai ser discreta, se ela carrega o nome da loja ou se a nota fiscal fica aparente. Mas, conseguimos levar com bastante ‘leveza’ os obstáculos inerentes a essa forma de censura.”
 
 
(foto: Velle/Divulgação)
(foto: Velle/Divulgação)
 
É nesste contexto que Ana Luiza e Beatriz Viana Borges, cofundadoras da butique erótica Velle, acreditam que o e-commerce, formato imposto pela pandemia de COVID-19, tende a se tornar um aliado também para as clientes. “Uma loja virtual aumenta o interesse das pessoas em olhar e saber mais, porque permite que ela faça isso no seu local de privacidade e em seu próprio tempo. E é bom também porque as pessoas não sentem pressão em ter que comprar algo ou vergonha por olharem aqueles produtos, como normalmente sentem em um comércio físico”, destaca Ana Luiza.

ADAPTAÇÃO 


Lenira Costa, proprietária da butique sexshop Deluxe, conta que a adaptação para o virtual foi difícil, uma vez que a loja era administrada em três estabelecimentos em regiões diferentes. “Tivemos um impacto muito grande, porque todos os comércios tiveram que fechar. Ficamos com muitas dúvidas a respeito de como mudaríamos a situação. Então, optamos por fazer posts em nossas redes sociais e atrair o público para as vendas on-line.”
 
 
 
Os resultados vieram de imediato: mais vendas. “Durante esse isolamento, houve um aumento na procura por alternativas de explorar o corpo e as vantagens de ficar tanto tempo em casa, bem como para que o relacionamento saísse da rotina. As pessoas estão redescobrindo o prazer do conforto de suas casas, já que, com apenas um clique, a compra pode ser feita e o produto entregue em domicílio”, afirma.

* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram


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