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Estado de Minas COVID-19

"Não adianta a indústria rodar se o comércio estiver parado", diz presidente da Fiemg

O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, considera essencial, para a economia, a flexibilização do isolamento social


postado em 22/05/2020 04:00 / atualizado em 22/05/2020 08:02

Flávio Roscoe, que teve a doença respiratória defende a quarentena para os grupos de risco (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Flávio Roscoe, que teve a doença respiratória defende a quarentena para os grupos de risco (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) estimou, no início do mês, queda de 7% na produção de bens e serviços do estado, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), devido à crise provocada pelo novo coronavírus. Segundo o estudo, a retração supera a taxa negativa prevista para o Brasil, de 5,7%. No entanto, o presidente da entidade, Flávio Roscoe, acredita que o PIB mineiro deve cair menos que o projetado inicialmente. Em entrevista ao Estado de Minas, Roscoe explica que a projeção não deve se concretizar pelo fato de a indústria mineira, diferentemente do que ocorreu em outros estados, não ter entrado em total paralisação.
 
A Fiemg negociou acordo junto de um grupo de grandes empresas com trabalhadores metalúrgicos para manutenção de 300 mil dos cerca de 800 mil empregos mantidos nas indústrias do estado. Em abril, o setor metalúrgico anunciou convenção coletiva que garantiu estabilidade de 210 dias a cerca de 180 mil empregados. A iniciativa teve como base a Medida Provisória 936, que autoriza a redução salarial e de jornada de trabalho, além da suspensão de contratos e o pagamento de auxílio aos trabalhadores afetados por cortes de pessoal nas empresas, devido ao impacto da pandemia. Para o presidente da Fiemg, a MP tem papel fundamental na manutenção dos postos de trabalho.
 
Roscoe, que teve a COVID-19, defende como essencial a flexibilização do isolamento social adotado para evitar a disseminação da doença respiratória. O industrial afirma que a interrupção de boa parte das atividades do comércio e do setor de serviços traz efeitos com grande prejuízo para a indústria. “Não adianta a indústria rodar se o comércio estiver parado”, argumenta.
 
Já curado da infecção pelo coronavírus, depois de ter ido em março aos Estados Unidos em comitiva liderada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o presidente da Fiemg avalia também, nesta entrevista, a situação de dualidade vivida pela indústria de Minas. Enquanto o setor alimentício opera acima de sua capacidade produtiva, a indústria automotiva, por exemplo, registra queda de 99% na produção.
 
Qual é hoje o panorama do setor in- dustrial em Minas diante da pandemia do coronavírus?
Alguns setores estão naturalmente protegidos, como o alimentício e o fármaco, pois atendem a demandas da pandemia. Os setores exportadores também estão sofrendo menos, mas, de resto, o que depende do consumo das famílias e do comércio aberto, tem sofrido muito. Nas cadeias onde a venda é realizada pelas lojas que precisam das portas abertas, e em que há dificuldade de ter canais eletrônicos, as vendas estão sofrendo muito. Nos (setores) que têm meios eletrônicos, a venda sofre, mas em menor intensidade. Não adianta a indústria rodar se o comércio estiver parado.

A Fiemg estimou queda de 7% no PIB mineiro em virtude da pandemia. Como o cálculo foi feito?
São as médias das demandas de cada segmento e o ritmo de cada atividade que compõem essa estimativa. O fato de a indústria ter ficado trabalhando durante esse período talvez inverta o número, com a economia de Minas Gerais caindo menos que o Brasil justamente pela decisão de manter a indústria rodando, enquanto o setor parou em outros locais. Nos primeiros números reais que temos, o estado caiu menos que o país. O estudo aponta queda devido às características da economia mineira, mas o nível de atividade aqui foi maior que o de outros estados.

Como deve ocorrer a retomada das atividades econômicas no estado?
Temos que ver os setores onde há menos exposição ao risco. Já está comprovado que as máscaras, quando usadas por dois interlocutores, reduzem em mais de 90% o risco de contágio. Elas são mais efetivas que o isolamento social, medida muito mais brusca. Vamos ter que aprender a conviver da melhor maneira possível com a ameaça que é o vírus. O fato de Minas Gerais estar evitando a expansão do vírus alonga o ciclo (da doença). O setor de eventos, por exemplo, vai, com certeza, ficar restrito por muito mais tempo, pois grandes aglomerações são difíceis de limitar. Outras atividades, como o comércio de rua e lojas com pequeno fluxo de pessoas, não oferecem real risco. Se o álcool em gel for dado nas portas e as máscaras forem utilizadas, você está protegido. A indústria mineira não parou em nenhum momento por causa da COVID-19. As atividades podem ter parado, talvez, por falta de demanda, mas não por obrigação legal (Zema editou decreto que considera o setor essencial). O risco de contágio no estado é um dos mais baixos do Brasil. Não foi o funcionamento da indústria que piorou (a curva de casos).

É possível calcular a retração na capacidade produtiva da indústria?
Alguns setores, como o de alimentos, operam acima da capacidade normal, mas a demanda é provisória. No auge da crise, as pessoas estocaram (comida), o que é fruto do pânico coletivo. O setor automotivo, com todas as fábricas paradas, caiu 99%. Há vários segmentos muito paralisados.

O que as empresas têm feito para evitar a disseminação do vírus?
Seguimos os protocolos. Estamos operando há dois meses na pandemia e não há nenhum caso grave em indústrias mineiras. O trabalhador recebe máscara, álcool em gel e há, ainda, o distanciamento social. Muitas vezes, eles correm menos risco trabalhando que em casa. Se seis ou sete pessoas forem trancadas em uma casa de dois ou três cômodos, vão ficar presos por 90 ou 120 dias? Não há espaço para isso. A maioria da população brasileira mora em pequenas residências. Então, a sensação de “claustrofobia” é mais evidente em um pequeno espaço com um grande número de pessoas. No primeiro momento da crise, não havia muita estrutura para ações preventivas. A Fiemg, apoiou a sociedade na criação de mecanismos de prevenção. Há protocolos que fazem com que o controle mais rígido, que considero draconiano, de não sair de casa, não seja preciso. Vamos ficar 18 meses sem sair de casa? Quem vai ter o que comer? O governo federal vai continuar dando os R$ 600 para todo mundo sem arrecadar? Os números em Minas estão baixos. Acredito que, com a prevenção, vamos manter a capacidade hospitalar dentro do limite e, à medida que as pessoas ficam imunizadas, afastando os riscos da doença.

Há articulações para estender, a outros setores, o acordo coletivo feito com os metalúrgicos?
Vários segmentos, como o têxtil, de vestuário, de calçados e de joias, assinaram acordos similares. Talvez não diretamente com a Fiemg, mas com os sindicatos associados. A maioria (dos acordos) foi de 180 dias (de estabilidade). A MP 936 é uma grande iniciativa (para preservar empregos). A outra é a retomada gradual das atividades econômicas dentro da normalidade. O governo federal tem feito ações que julgamos importantes para a sociedade. Sem elas, teríamos perdido ao menos 9 milhões de empregos. Há quase 9 milhões de trabalhadores recebendo os benefícios da MP. Dos quase 800 mil empregos cuja estabilidade foi garantida, 300 mil contaram com a intervenção da Fiemg.

Como o senhor avalia o programa Minas Consciente?
É muito positivo, pois faz uma análise bastante técnica da capacidade da ocupação hospitalar e da evolução da doença para dar sequência aos protocolos. Precisamos usar a racionalidade. O lockdown é medida desesperada. Não há planejamento, o que faço? Todos são trancados em casa e tudo é fechado. Com planejamento, é possível ter os protocolos de segurança. Em situações como a de Minas, que está longe de ser crítica, é um absurdo deixar o comércio, de maneira genérica, fechado, e manter as pessoas em casa. Uma ou outra atividade pode até estar fechada e (somente) a população de risco deve ficar isolada.

Como está a produção de insumos para barrar a proliferação do coronavírus?
As estatísticas são muito recentes, mas sabemos que alguns setores têm produzido mais de 1 milhão de máscaras de tecido ao dia. Temos capacidade para fazer conforme a demanda. Todo mundo, se quiser, já tem a máscara. Qualquer lugar tem para vender, e não é caro. O álcool em gel pode até estar um pouco acima do preço, pois tem uma matéria-prima importada, mas há várias soluções (para sanar a questão). Já não é mais uma questão de oferta. Em março, quem fabricava máscaras de tecido? As máscaras hospitalares também já começam a ter oferta. O Brasil tem um setor industrial que conseguiu reagir a tempo para suprir as demandas. Os governantes que fizeram hospitais de campanha e ampliaram leitos tomaram as medidas contando que a pandemia iria evoluir, mas ela tem evoluído menos que o projetado, justamente por conta das medidas de proteção.

Como está o projeto de conserto de respiradores encabeçado pelo Senai?
Minas já consertou 187 respiradores. Se considerarmos que cada um deles vai salvar entre 5 e 10 vidas, preservamos até 2 mil pessoas. Estamos, também, com a iniciativa de apoiar a produção de respiradores feitos pela Tacom. A Fiemg comprou os primeiros 1.500, e irá doá-los ao estado. Poderemos salvar até 15 mil vidas. Minas Gerais deve comprar parte dos respiradores por meio de um contrato da Fiemg que garante preço menor ao estado. O resto será distribuído aos outros estados.

Como foi receber o diagnóstico positivo para o coronavírus?
Estava na comitiva que foi aos Estados Unidos com Bolsonaro. À medida que as pessoas que foram à viagem foram testando positivo, me afastei e fiz o exame. Das pessoas com quem tive contato, apenas uma pegou o coronavírus. O isolamento é desagradável, mas com disciplina tudo deu certo. Não tive sintomas graves. O mundo digital facilita o isolamento.


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