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Estado de Minas

Petrobras perde R$ 67 bilhões

Com nova crise dos preços do petróleo, Ministério de Minas e Energia diz que estuda medidas para contrabalançar efeitos da volatilidade das cotações do óleo no mundo


postado em 10/03/2020 04:00

Choque entre Arábia Saudita e Rússia no grupo de maiores exportadores de petróleo foi determinante para a queda das cotações (foto: Fayez Nureldine/AFP)
Choque entre Arábia Saudita e Rússia no grupo de maiores exportadores de petróleo foi determinante para a queda das cotações (foto: Fayez Nureldine/AFP)

Brasília – Depois que os preços do petróleo tipo Brent recuaram mais de 30% no domingo e os contratos da commodity caíram ao redor de 20% ontem, o Ministério de Minas e Energia (MME) decidiu publicar nota para tranquilizar o mercado financeiro. Segundo a pasta, “o governo acompanha, com atenção, o preço do petróleo.” A crise fez a Petrobras perder R$ 67 bilhões.

“O Brasil já passou por outros choques nos preços de petróleo e superou sem sobressaltos na economia. O governo vem se preparando para ter instrumentos adequados que permitam uma menor variação nos preços de combustíveis sem interferência na liberdade de mercado, respeitando a livre negociação entre os agentes econômicos”, diz a nota.

O MME, do ministro Bento Albuquerque, destacou que “vem estudando mecanismos como forma de não submeter a economia, bem como a população, à volatilidade excessiva ou abrupta de preços, seja para mais ou para menos”. “O governo segue trabalhando nessa direção respeitando as premissas de liberdade de preços, de livre negociação entre os agentes econômicos e mantendo a responsabilidade fiscal em todas as esferas de federação”, informou.

Sobre os investimentos na cadeia de petróleo, o MME ressaltou que “são de longo prazo e de grande vulto”. “Variações de curto prazo no preço do barril de petróleo não alteram as tomadas de decisão. Apenas se o preço, de fato, estabelecer-se em novo patamar é que os investimentos poderão ser reavaliados. Portanto, o momento é de monitoramento”, acrescentou.

O preço do petróleo teve a maior queda desde a Guerra do Golfo, no início dos Anos 1990, porque a Arábia Saudita cortou o valor de venda do barril e indicou o início de uma guerra entre os grandes produtores, depois de tentar, sem sucesso, um acordo com a Rússia.

Mais cedo, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, disse que o governo não deve aumentar impostos como forma de compensar os efeitos da queda do preço do petróleo porque a crise é “transitória”. “Não podemos adotar imposto neste momento. Há uma carga que vale um terço do nosso PIB. Eu particularmente não vejo possibilidade de aumento de impostos”, afirmou.

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, explicou que o governo poderia lançar mão de um aumento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina, hoje em R$ 0,10. “É uma alternativa, em vez de baixar o preço. Porque se reduzir muito o preço da gasolina, inviabiliza a cadeia do etanol e pode ter quebradeira de usinas. O governo pode aumentar e depois voltar quando o petróleo se acomodar”, sustentou.
 
 
Participantes de reunião da Opep em Viena passaram por avaliação de temperatura, em meio à epidemia (foto: Alex Halada/AFP)
Participantes de reunião da Opep em Viena passaram por avaliação de temperatura, em meio à epidemia (foto: Alex Halada/AFP)
 
 
Em risco 
Após as negociações na bolsa brasileira terem ficado paralisadas por 30 minutos, durante o acionamento do mecanismo de circuit breaker, as ações de Petrobras voltaram a ter forte queda ontem. Os papéis ON recuavam 22,69% e os PN, 24%, às 12h27, enquanto o Ibovespa, índice das ações mais negociadas, perdia 8,92%, aos 89.259,77 pontos. Descontado o tempo de parada de pouco mais de meia hora, as ações da petroleira foram negociadas por cerca de 45 minutos e, nesse período, a perda da companhia alcançava R$ 67 bilhões.

O petróleo do tipo Brent terminou o dia em queda, embora menos intensa do que o observado mais cedo, com baixa de 18%, após a Arábia Saudita ter decidido elevar a produção da commodity e reduzir os preços, movimento interpretado como retaliação à falta de acordo entre os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) sobre cortes na produção, que se reuniram nos últimos dias, em meio ao surto do novo coronavírus. O grupo pretende cortar a produção como resposta ao avanço da epidemia.

De acordo com analistas do mercado financeiro, a decisão da Arábia Saudita pode colocar em risco novos projetos da Petrobras, assim como seu plano de investimentos. Se a queda do preço do petróleo perdurar a geração de caixa da Petrobras pode sofrer.


Gastos do governo serão mantidos no teto atual

O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse ontem que a equipe econômica está monitorando os efeitos do choque do petróleo sobre a economia brasileira, mas ainda é cedo para traçar um diagnóstico sobre a magnitude do impacto. Ele argumentou, porém, que não é hora de mexer no teto de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas públicas à inflação, para impulsionar investimentos públicos.

“Se o efeito da crise for muito de curto prazo, investimento público não adianta”, disse o secretário.  “Não faz sentido mexer no teto agora.” Em meio ao pânico nos mercados financeiros com o choque no preço do petróleo e o avanço do novo coronavírus, uma ala dos economistas tem defendido a flexibilização do teto para abrir caminho a uma injeção de estímulo na economia com dinheiro público.

“O teto não vai ser problema para garantir o investimento que já está no Orçamento”, garantiu Mansueto. Para este ano, estão previstos cerca de R$ 45 bilhões para investimentos no Orçamento federal, patamar semelhante ao verificado no ano passado, quando foram aplicados R$ 47 bilhões nessa área, sem contar os R$ 10 bilhões para a capitalização de estatais.

“Agora, se acelerar a concessão, tem investimento muito maior. O que é concedido antes era investimento público”, frisou o secretário. Mesmo que o choque seja permanente, o efeito mais significativo se dará sobre a arrecadação, observou Mansueto, uma vez que afetará as receitas com royalties de petróleo e pode também ter influência no desempenho da atividade econômica.

O secretário admitiu que os primeiros reflexos dessa crise devem aparecer já no relatório de avaliação de receitas e despesas do primeiro bimestre. O documento, que será divulgado dia 22, trará as revisões do Orçamento. Porém, Mansueto evitou traçar cenários sobre o valor do bloqueio de gastos nesse momento.

Segundo Mansueto, a “melhor forma” de reagir a este momento de turbulência é aprovar as reformas estruturais, entre elas a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Emergência Fiscal, que dá instrumentos para o governo conter o avanço das despesas obrigatórias, como salários de servidores.

Neste ano, disse o secretário, o Orçamento já incorporou várias das medidas que estão na PEC emergencial, mas sua aprovação é essencial para dar uma sinalização positiva sobre os próximos anos. “Isso vai garantir que vai crescer rapidamente? Não, mas essas mudanças estruturais têm efeito permanente, o mercado antecipa isso”, argumentou.

De acordo com Mansueto, as reformas são uma sinalização importante para justamente recuperar a capacidade de investimento do Estado. O secretário destacou que a sinalização do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem sido de diálogo pelas propostas. “Temos que ter cuidado com o uso de receitas do petróleo, é muito volátil. O preço do petróleo caiu 50% só neste ano”, ponderou Mansueto.


Nada muda, segundo Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que manterá a política de preços da Petrobras e que o governo não vai aumentar impostos sobre combustíveis em meio à queda global do preço do petróleo, se referindo especificamente à Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico (Cide). As declarações foram publicadas por Bolsonaro em sua conta no Twitter.

“Não existe possibilidade do governo aumentar a Cide para manter os preços dos combustíveis. O barril do petróleo caiu, em média, 30% (US$ 35 o barril). A Petrobras continuará mantendo sua política de preços sem interferências. A tendência é que os preços caiam nas refinarias”, tuitou o presidente.

O derretimento do preço do petróleo ocorre depois que a Arábia Saudita resolveu cortar o preço do barril em meio a uma guerra de preços com a Rússia. Os dois países estão entre os maiores produtores mundiais de petróleo. A disputa gerou a maior queda no preço do barril desde a Guerra do Golfo, em 1991.

O presidente em exercício, Hamilton Mourão, por sua vez, disse ontem que o governo não deve aumentar impostos como forma de compensar os efeitos da queda do preço do petróleo porque a crise é “transitória”. “Não podemos adotar imposto neste momento. Há uma carga que vale um terço do nosso PIB. Eu particularmente não vejo possibilidade de aumento de impostos”, disse Mourão, ao chegar ao Palácio do Planalto. “A gente sabe que (a crise do preço do petróleo) também é transitória. Vamos ver qual a reação a Petrobras vai colocar”, afirmou.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, respondeu ontem aos questionamentos sobre o patamar do dólar e a eventualidade do aumento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), afirmando que a equipe econômica está absolutamente tranquila. Ele não respondeu sobre a possibilidade de aumentar ou não a Cide em função da queda dos preços do petróleo. "Absoluta serenidade. A crise lá fora está se aprofundando. O mundo lá fora já estava em desaceleração. A principal mensagem de Davos, e eu avisei, é que o mundo está em desaceleração sincronizada” comentou.

Os preços dos contratos do petróleo recuavam ao redor de 20%, depois que a Arábia Saudita cortou o valor de venda do barril e indicou o início de uma guerra de preços entre os grandes produtores. Na abertura dos negócios no mercado asiático, ainda na noite de domingo (horário de Brasília), o preço do petróleo do tipo Brent chegou a recuar 31%.



QUEDA LIVRE
31%
Foi a quanto chegou 
a redução do preço 
do petróleo tipo Brent 
no domingo


20%


Recuo das cotações do óleo ontem, depois do conflito entre Arábia Saudita e Rússia


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