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Estado de Minas ENTREVISTA/ MARCO BASSO - PRESIDENTE DA INFORMA MARKETS NO BRASIL

Mundo pagará caro se houver boicote ao Brasil

O país vai suprir mais de 40% do aumento dos alimentos necessários para o planeta até 2050


postado em 27/08/2019 04:00 / atualizado em 27/08/2019 07:59

(foto: Informa Markets/Divulgação)
(foto: Informa Markets/Divulgação)
 
São Paulo – Presidente da operação brasileira de uma das maiores empresas de eventos do mundo, a Informa Markets, com faturamento global de US$ 3,5 bilhões, o executivo Marco Basso tem uma espécie de termômetro em tempo real da economia brasileira. Quando as coisas vão bem, a demanda por eventos cresce. Quando vai mal, recua na mesma proporção. Basso, no entanto, acredita que o país tem sido vítima de uma conspiração internacional, no caso das polêmicas envolvendo a Amazônia, e aposta que a recuperação virá em 2020.

O ano começou muito bem. O primeiro semestre foi excelente. Houve muita resposta positiva, tanto dos expositores e dos vendedores, quanto dos compradores e na parte de visitação das feiras. Houve euforia, seguida por otimismo após a eleição do novo presidente. Mas era um suspiro do mercado. Com as reformas andando de lado no primeiro semestre, o otimismo diminuiu de intensidade. Aquelas discussões todas sobre as reformas, se passariam ou não, fez com que as empresas segurassem o otimismo. A gente começou o ano imaginando que a economia cresceria de 2,5% a 3%, mas vai terminar em algo próximo a 1%. Mesmo assim, vamos crescer entre 10% e 15% este ano, em relação a 2018.

O otimismo do começo do ano passou em definitivo?
A euforia inicial foi muito boa, com pensamentos muito bons, até acima da expectativa. Apesar de haver um arrefecimento do otimismo, a expectativa ainda é positiva. A retomada econômica mais forte, acredito, virá em 2020.

A demanda por eventos tem sido gerada mais por empresas dentro do Brasil ou mais por grandes eventos internacionais?
No Brasil, por ter uma economia continental e uma economia doméstica bastante grande, a maioria dos eventos que ocorrem é doméstica. Em torno de 90%, um pouco mais até, são endereçados na economia interna. Existe, sim, uma demanda de expositores internacionais, mas ainda é algo pequeno.

Nessa demanda doméstica estão as multinacionais também?
Sim. Quando digo domésticas, digo as empresas com base no Brasil. Muitas empresas são multinacionais, têm estrutura no Brasil. Então, a gente considera essas empresas como sendo domésticas também.

Quais os setores estão demandando mais eventos no Brasil?
O Brasil tem uma variedade muito grande de eventos e feiras em todos os setores. É um país que tem mais representatividade. O setor de feiras tem já uma longa história no Brasil, e começou na década de 1960. A diferença do Brasil para alguns países mais desenvolvidos, em termos de feiras, como China, Estados Unidos e Europa, é que lá existe massa crítica para eventos de nicho. O Brasil não tem ainda massa crítica para alguns eventos. Então, a maioria dos eventos é generalista, mas que abrange a economia como um todo.

Mas falta infraestrutura adequada?
Havia, sim, uma deficiência. A cidade de São Paulo representa mais de 80% da concentração de eventos de negócios no Brasil. Então, a maioria dos eventos de negócios se concentra na cidade que oferece a melhor infraestrutura. Diferentemente dos Estados Unidos, por exemplo, onde os eventos de negócios acontecem em vários pontos do país. Existe uma logística que permite isso, em termos de transporte, em termos de hotelaria. Seja Las Vegas, Chicago, Nova York, Orlando ou Filadélfia, existem ótimas condições para realizar feiras e eventos. Aqui no Brasil, por uma característica da economia e da logística, não.

Então, essa concentração é prejudicial?
Diria que, por um lado, é bom porque você tem uma concentração interessante em São Paulo, que facilita, porque ganha massa crítica. Por outro lado, sim, porque todo mundo fica na mão de uma única cidade para realizar seus eventos. E, nesse sentido, existia uma demanda reprimida. O Centro de Exposições do Anhembi era um equipamento completamente defasado, não atualizado, continua assim ainda hoje, não conseguiu se resolver essa questão do Anhembi ainda. Como faltava equipamentos decentes para eventos, em 2015 houve a concessão da Centro de Exposições Imigrantes pelo governo do Estado e o grupo SGZL fez um investimento bom. Hoje, nós temos um equipamento bom, que é o São Paulo Expo, e um outro equipamento razoável, que é o Center Norte, o Anhembi, que acomodam feiras de maior porte.

Existe uma relação direta entre o ritmo da economia e o mercado de eventos?
Sem dúvida nenhuma. O evento é um grande alavancador do setor, onde as empresas lançam produtos, fazem negócios, fazem networking, têm conhecimento. Quando o setor está demandante, está crescendo, os eventos tendem a responder nesse sentido. E o setor é um grande catalisador também. Ajudam os setores a se projetarem e a crescer. Tem uma relação direta entre a economia.

Essa crise de imagem que o Brasil está sofrendo em todo o mundo em razão do desmatamento na Amazônia pode, na sua avaliação, comprometer a economia e, por consequência, o setor de eventos?
Acredito que não, por alguns motivos. Como já comentei, a maioria dos eventos no Brasil é realizado por demanda interna. Assim, a imagem internacional do Brasil não afeta significativamente os eventos no país. Segundo ponto, o que está ocorrendo com o Brasil no cenário internacional esconde uma guerra mercadológica. Não podemos ser ingênuos em achar que isso tudo é por causa da Amazônia. Tem muita coisa por trás disso, já que acordos de cooperação econômica e livre comércio não satisfazem todo mundo. As queimadas na Amazônia sempre existiram. Não é esse governo que está causando o aumento das queimadas. Não sei nem mesmo se está havendo aumento das queimadas. Na minha opinião, o Brasil está sendo alvo de uma manipulação econômica. Nós, como sociedade brasileira, temos que ficar alertas a esse tipo de manipulação. Não estou negando e nem minimizando a importância da preservação da floresta. Concordo que precisa existir políticas de preservação.

Mas alguns setores da economia, como o agronegócio, já estão muito preocupados com a repercussão negativa internacional. Se houver boicote à carne e a outros alimentos, muita empresa vai quebrar? 
Sem dúvida. Se ocorrer um boicote internacional da carne, da soja, do milho brasileiro por causa disso, sem dúvida impacta o setor. Mas duvido, pelo seguinte motivo: o Brasil é hoje um dos grandes fornecedores de alimentos do mundo. Das 10 principais commodities agrícolas, o Brasil está entre o primeiro ou segundo em todas. O mundo depende hoje da agricultura e da agropecuária brasileira. Se houver um boicote ao Brasil, por uma questão de queimada na Amazônia, os preços vão subir e o mundo pagará caro para comer. Os alimentos vão subir.

Mas quem ganha com isso?
Há interesses também econômicos por trás disso. A manipulação de fatos tem como objetivo conseguir benefícios ou negociações mais vantajosas contra o Brasil. O país tem que ficar atento para não cair nessa armadilha. É uma questão geopolítica. Acho muito difícil isso ocorrer. Se houver um boicote, será temporário. Mas o Brasil já passou por vários boicotes no passado e sobreviveu. Redirecionou a sua produção. Segundo dados da OCDE, o Brasil vai suprir mais de 40% do aumento dos alimentos necessários para o mundo até 2050, porque a população vai crescer a 9 bilhões de pessoas até 2050. Então, não vejo sinais de problemas na economia agrícola brasileira no longo prazo.

Mesmo com tudo isso, a economia decola em 2020? 
Sou uma pessoa positiva por natureza. Aliás, não conheço nenhuma pessoa negativa que teve sucesso. Com a aprovação da reforma da Previdência, que era o grande caroço, vejo que as expectativas para 2020 são mais positivas. Acredito, sinceramente, que teremos um 2020 surpreendente.


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