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Estado de Minas ÁUDIO

Empresas entram na era dos podcasts

Aumento da velocidade da internet, popularização dos smartphones e programas de qualidade atraem grandes marcas para os streamings de áudio. No Brasil, mercado está em ascensão


postado em 22/08/2019 04:00 / atualizado em 22/08/2019 07:49

Fundada por Daniel Ek, Spotify comprova o fôlego renovado do setor ao revelar lucro no último trimestre de 2018(foto: Drew Angerer)
Fundada por Daniel Ek, Spotify comprova o fôlego renovado do setor ao revelar lucro no último trimestre de 2018 (foto: Drew Angerer)
São Paulo – A internet não para de produzir novidades. Depois da explosão do streaming de vídeo, uma nova onda chegou com força ao mercado brasileiro: os podcasts, como são chamados os streamings de áudio.
 
Segundo estudo recente realizado pela Associação Brasileira de Podcasters (Abpod) – sim, há uma associação para promover o setor – existem 2 mil podcasts ativos no país. Por ativos, a Abpod entende aqueles que são exibidos com regularidade (em geral, semanais) e que podem ser acessados por meio de diferentes plataformas.
 
O estudo, realizado em parceria com o Ibope Inteligência, concluiu que 40% dos 120 milhões de usuários da internet no Brasil já ouviram pelo menos uma vez um programa desse tipo. É um número espantoso, que corresponde a 48 milhões de pessoas – mais do que toda a população da Argentina. Além de amplo, o público é qualificado. De acordo com o levantamento, ele é mais escolarizado e tem renda superior à média da população.
 
A pesquisa também mostrou que os ouvintes de podcasts preferem programas curtos, de até 15 minutos, e que os smartphones são de longe o meio escolhido para escutar os conteúdos, com 75% de predominância entre os usuários.
 
Como não poderia de deixar de ser, as empresas perceberam que os podcasts são interessantes para suas marcas. “Os streamings de áudio se tornaram os queridinhos da vez”, diz o consultor Rodrigo Rossettti, especializado em tecnologia. “A vida moderna favorece a proliferação dos podcasts. As pessoas passam horas no trânsito e aproveitam esse tempo para se informar.”
 
Rossetti também atribui ao avanço da tecnologia dos fones de ouvido (hoje em dia, os melhores produtos têm conexão wi-fi) o crescimento dos podcasts. Os programas, diz o especialista, são ouvidos enquanto as pessoas praticam exercícios, estão no horário do almoço ou em outros momentos de lazer.
 
De olho no crescente mercado, diversas empresas passaram a investir nesse tipo de conteúdo. A Natura criou recentemente uma minissérie em quatro capítulos, chamada Viva seu corpo, focada no universo feminino. O projeto foi realizado em parceria com o Mamilos, um dos podcasts mais populares do Brasil.
 
Criado pelas publicitárias Juliana Wallauer e Cris Bartis, o podcast Mamilos conta com público cativo de 170 mil ouvintes semanais – um fenômeno de audiência. Para alguns episódios, as apresentadoras convidam especialistas de diferentes áreas, às vezes com visões divergentes sobre temas espinhosos (sexo, machismo, violência urbana, maternidade, assédio, desemprego), o que traz bastante pimenta para o programa. Alguns episódios são gravados em teatros lotados, com o público interagindo com os debatedores.
 
Os grandes bancos também estão atentos a esse mercado. O Bradesco é um dos patrocinadores do projeto “Histórias de ninar para garotas rebeldes”, podcast baseado no best-seller que conta a trajetória de 100 mulheres que realizaram feitos extraordinários. Maior banco do país, o Itaú Unibanco criou o Investcast, podcast dedicado aos seus acionistas e que funciona como uma imersão no mundo dos investimentos.
 
A área de economia, finanças e negócios conta com diversos programas. O Sebrae é responsável pela série Conhecer para empreender, criada em 2017, com dicas sobre empreendedorismo e sucesso nos investimentos.
 
O segmento de moda é outro bastante ativo no mundo dos podcasts. Marca de calçados femininos, a Anacapri criou o “Beleza Pra Quem?”, que tem como pano de fundo o autoconhecimento da mulher.

ESTRATÉGIAS
 
No Brasil, Spotify e Deezer são as principais plataformas de streaming de áudio. Nos Estados Unidos, a Apple Productions tem entre 50% e 70% de toda a audiência de podcasts no país, mas a disputa por mercado tende a se tornar mais acirrada. Em fevereiro, o Spotify desembolsou um valor estimado em US$ 230 milhões – algo como R$ 920 milhões –  pela Gimlet, empresa especializada nesse formato.
 
Com o aumento da audiência, os podcasts se tornaram fundamentais nas estratégias de negócios das principais plataformas de streaming. Entre 2017 e 2018, segundo dados do próprio Spotify, o número médio de ouvintes de podcasts diários no mundo inteiro cresceu 330%. A empresa, porém, não revela dados relativos apenas ao mercado brasileiro.
 
O Ibope fornece algumas pistas sobre a força do segmento. De acordo com o estudo Podcast Ibope 2019, 32% dos internautas ativos no Spotify utilizam o canal para escutar podcasts. Há uma década, esse número não chegava a 5%.
 
Fundado por Daniel Ek em 2006 e com mais de 100 milhões de clientes, o Spotify operou durante muito tempo no vermelho. Em fevereiro passado, a empresa divulgou lucro nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2018, o que comprova o fôlego renovado do setor.
 
A indústria de podcast já movimenta valores robustos. Em 2017, os anúncios publicitários nos Estados Unidos nos streamings de áudio movimentaram US$ 315 milhões. Em 2018, o montante chegou a US$ 479 milhões. Ainda não há informações referentes a 2019, mas estimativas dos especialistas apontam para um mercado que gire aproximadamente US$ 700 milhões.
 
Em termos financeiros, a China é o país que melhor soube aproveitar o potencial dos podcasts. No país da Muralha, o modelo funciona no sistema de assinaturas pagas. Em 2018, a indústria de podcast foi estimada em US$ 7,3 bilhões no país.

Nos EUA, ferramenta de marketing

Você perderia seu tempo ouvindo um podcast sobre os molhos do McDonald´s? Nos Estados Unidos, a rede de lanchonetes criou um programa que não funciona exatamente como anúncio, mas que apresenta a marca de forma sutil – e, em geral, divertida – para os fãs.
 
Uma das maiores empresas do mundo, o Facebook lançou, neste ano, um podcast sobre empreendedorismo. Não são casos isolados. Empresas de tecnologia, como Microsoft e Lyft, também investiram em programas próprios. Recentemente, a fabricante de tênis New Balance contratou uma startup especializada para produzir um programa sobre roupas e acessórios esportivos.

TENDÊNCIA
 
“Essa é a grande tendência da propaganda atual”, diz o consultor Rodrigo Rossettti, especializado em tecnologia. “As empresas inserem suas marcas nos programas de maneira sutil, sem dispersar a atenção do ouvinte, e as pessoas nem percebem que estão consumindo publicidade.”
O mercado americano é um fenômeno. Segundo reportagem publicada pelo jornal The New York Times, há no país 750 mil podcasts. Isso explica por que as empresas estão tão interessadas no segmento.

Podcast demorou para pegar

A expressão “podcast” foi criada em 2004, por Ben Hammersley, repórter do jornal inglês The Guardian, mas durante um tempo ficou conhecida apenas por um número restrito de usuários.
A grande revolução veio com o avanço dos smartphones, que permitiram que os streamings de áudio pudessem ser ouvidos em qualquer lugar, e não apenas em um computador. Com a queda do preço dos smartphones, fenômeno que se intensificou a partir de 2010, os podcasts entraram de vez na rota de interesse dos internautas, conquistando especialmente os mais jovens.
 
ESPAÇO
 
Pouco tempo depois, com a consolidação do 4G – e o consequente aumento da velocidade de conexão da internet –, a plataforma estava, enfim, pronta para deslanchar em diversos mercados.
 
Segundo especialistas em mídia, a partir de dois anos para cá os podcasts passaram a ser considerados um produto de mídia, e começaram a atrair o interesse das empresas e dos anunciantes. É consenso no mercado que o setor, pelo menos no Brasil, ainda pode ser considerado incipiente. Há, portanto, muito espaço para crescer. 


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