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Estado de Minas

Mesmo com alta da bolsa brasileira, especialistas alertam sobre riscos

Com um desempenho acima dos 102 mil pontos, a B3 faz a alegria dos investidores, mas especialistas falam que não há espaço para crescer muito até que a economia se recupere


postado em 25/06/2019 06:00 / atualizado em 25/06/2019 08:33

Valorização da Bolsa de Valores de São Paulo nos últimos dias mostra otimismo com aprovação da reforma da Previdência no Congresso (foto: Luiz Prado/Divulgação )
Valorização da Bolsa de Valores de São Paulo nos últimos dias mostra otimismo com aprovação da reforma da Previdência no Congresso (foto: Luiz Prado/Divulgação )
São Paulo – Os recordes batidos nos últimos pregões pela bolsa paulista, a B3, têm chamado a atenção daqueles que não costumam acompanhar o mercado de capitais tão de perto. Ontem, o Ibovespa, principal indicador da bolsa, chegou ao fim do dia a 102.062 pontos, uma ligeira alta, de 0,05%, em relação ao pregão da última sexta-feira, quando terminou o dia em 102.013 pontos e elevação de 1,70%.

Os 100 mil pontos são uma espécie de barreira psicológica para o Ibovespa, mas o fato de ter ultrapassado esse número, alertam os especialistas, não é por si só motivo de comemoração entre os investidores. O principal índice brasileiro é contaminado não apenas por questões internas, mas também dados dos principais mercados internacionais.

Chefe de gestão da Vitreo, gestora digital, George Wachsmann explica que o fato de o Ibovespa ter passado de 100 mil resulta da combinação de vários fatores. Uma das justificativas, diz, é a queda de taxa de juros. “Pelo mundo afora as taxas de juros estão com viés de baixa. Os bancos centrais, especialmente o americano e europeu, vêm dando sinais de que o mundo não volta a ter um cenário de recessão, ao menos se depender deles.

Os EUA vinham de uma subida lenta, mas que começou a mudar do ano passado para cá. Se precisar, o FED volta a baixar a taxa para retomar o investimento”, explica. Esse cenário no exterior, avalia o economista, é uma espécie de luz verde para os investidores.

No Brasil, a taxa básica de juros (Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária, o Copom), também vem passando por uma dinâmica de baixa. Nas últimas dez reuniões do comitê – a mais recente aconteceu na última quarta-feira –, a taxa ficou estável em 6,5%. Apesar de o percentual ter sido mantido, o BC deu sinais de que poderá pressionar o índice para baixo com o objetivo de tentar reverter a previsão cada vez mais acanhada de crescimento da economia em 2019.

Segundo o relatório Focus (que consulta toda semana analistas de mercado sobre suas expectativas), divulgado ontem pelo BC, a expectativa para o PIB, que há quatro semanas era de alta de 1,23%, já chegou a 0,87%.

Reforma esperada 


“O mercado já vem trabalhando com uma Selic de 5%. Mas a motivação de fato para os investidores é a proximidade da votação da Reforma da Previdência, tida como a mãe das reformas estruturais. Ela será a luz verde para que o BC possa baixar os juros”, analisa Wachsmann.

A importância da reforma para o mercado é que esse será o movimento mais concreto para melhorar o perfil das contas públicas. Mesmo que o pacote aprovado não seja o prometido pela equipe de Paulo Guedes, ministro da Economia, ainda assim terá um efeito significativo no curto prazo, “passando mais segurança”, avalia o gestor da Vitreo.

“A gente já flertou com reformas bem mais acanhadas do que a que está aí. Não será o texto com a mesma pompa daquele proposto por Guedes. Mas é bom lembrar que se falou de uma economia de R$ 500 bilhões há cerca de um mês, então há sinais de melhora. Sem essa reforma, bateríamos no muro e teríamos um problema sério pela frente. Agora, estamos nos afastando do muro”.

Influência internacional


 Michael Viriato, coordenador do laboratório de Finanças do Insper, prefere minimizar o tamanho do efeito dos fatores internos no bom humor da bolsa brasileira. Para ele, o mercado internacional tem um impacto mais relevante no curto prazo. “Desde 30 de maio até agora, se compararmos a bolsa americana e a brasileira, elas andaram praticamente no mesmo ritmo. O que está levando o mercado brasileiro é o mercado internacional”, explica.

O professor, no entanto, relativiza o comportamento das duas bolsas. De janeiro até ontem, a bolsa americana teve alta de cerca de 17,60%, enquanto o Ibovespa subiu menos, por volta de 12,20%. “Ou seja, o que está acontecendo é que estamos acompanhando o mercado internacional. Só que pesa por aqui o fato de estarmos muito atrás quanto ao crescimento da economia e a reforma da Previdência ainda ter andado pouco.”

Com a reforma, analisa Viriato, o Brasil poderia estar em uma situação bem mais favorável também do ponto de vista do mercado de capitais, já que os EUA contam com uma bolsa muito mais madura. “Somos um mercado de risco, emergente, que deveria ter crescimento maior. Poderíamos estar rendendo o dobro do que está rendendo a bolsa americana e chegar a 30%”, lamenta.

O coordenador do Insper lembra de uma antiga regra. “O investidor gosta de dinheiro. Se não existe expectativa de rentabilidade, vão embora para onde há condições melhores.” O Brasil, alerta, vem decepcionando com baixas taxas de crescimento. Se o país não cresce, a rentabilidade fica afetada. “Não melhoramos quanto ao risco-país, a reforma ainda não passou e estamos sem crescimento. Por outro lado, as empresas estão melhorando, com crescimento do lucro, mas esse desempenho pode não perdurar se as condições macroeconômicas não melhorarem”, sinaliza.

O especialista explica que a esperada barreira dos 100 mil pontos do Ibovespa já deveria ter sido ultrapassada há muito tempo, principalmente por conta das questões inflacionárias. Para o investidor pessoa física, o atual momento, com o índice na casa dos 102 mil pontos, pode influenciar, mas o mesmo não ocorre com o investidor institucional, que vai olhar não para esse número, mas para as empresas, seus lucros, a expectativa de crescimento do país e o comportamento dos juros.

Economista-chefe e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte avalia que o desempenho do Ibovespa tenha melhorado nas últimas semanas como resultado de uma percepção do mercado de que a reforma da Previdência poderá ser votada em breve. “Houve uma aceleração do processo iniciado pelo governo em fevereiro, quando foi divulgado o texto da reforma, a partir do momento que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM/RJ) chama para si a responsabilidade de votação do texto e as coisas então começam a andar”, afirma.

A expectativa é que a comissão especial da Câmara conclua hoje a votação do relatório sobre a Reforma da Previdência para que então o texto seja encaminhado para o plenário da Casa. Maia já anunciou que espera encerrar o processo ainda neste semestre parlamentar, que se termina em 15 de julho.

“A economia ficou travada no primeiro semestre por conta disso. O governo ficou parado para dar vazão à reforma e esqueceu do resto. Agora, a sensação é de que confiança vai voltar. Se isso acontecer, as empresas devem voltar a investir, a contratar, o que vai melhorar a confiança do consumidor. O mercado agora está antecipando esse movimento, por isso a bolsa está se comportando dessa forma”, diz a economista-chefe do Ourinvest.

Risco com vazamentos


André Perfeito, economista-chefe da Necton, acrescenta um outro risco ao mercado de capitais e, principalmente, à economia brasileira, além do atraso na aprovação da reforma da Previdência: o fator Sergio Moro. O ministro da Justiça tem sido o protagonista nas últimas semanas de uma série de transcrições de diálogos entre ele e procuradores da Lava-Jato que teriam ocorrido em grupos no aplicativo Telegram.

As publicações vêm sendo feitas pelo The Intercept, mas até agora não se sabe quem é o responsável pelo vazamento das conversas. Perfeito avalia que se a fonte de informação do site de notícias for realmente relevante, pode-se esperar algum efeito mais grave na pasta da Justiça. “Mas até agora não há sinais nessa direção e o que foi divulgado não está até agora formando preço (influenciando no comportamento da bolsa), mas é algo a ser mapeado”, analisa o economista da Necton.

Trump compara BC dos EUA a ''criança teimosa'


O FED (Banco Central dos EUA) manteve as taxas de juros no país, apesar da pressão de Donald Trump(foto: Andrew Caballero/Reynolds/AFP)
O FED (Banco Central dos EUA) manteve as taxas de juros no país, apesar da pressão de Donald Trump (foto: Andrew Caballero/Reynolds/AFP)

Mais uma vez, o presidente norte-americano Donald Trump recorreu a uma rede social para mandar seu recado. A mensagem foi postada ontem. “Apesar de um Federal Reserve (FED, o banco central dos Estados Unidos) que não sabe o que está fazendo – elevou os juros rápido demais (inflação muito baixa, outras partes do mundo desacelerando, reduzindo ou afrouxando) e de ter realizado um aperto em grande escala, de US$ 50 bilhões por mês – nós estamos a caminho de registrar um dos melhores meses de junho da história dos EUA”, escreveu o republicado em sua conta no Twitter.

Trump seguiu com as críticas ao BC americano. “Pense no que poderia ter acontecido se o FED tivesse agido direito. Milhares de pontos a mais no Dow Jones, e o PIB (Produto Interno Bruto) em cerca de 4 ou 5%. Agora eles mantêm o posicionamento, como uma criança teimosa, quando precisamos de cortes nos juros e afrouxamento para compensar o que os outros países estão fazendo contra nós. Eles estragaram tudo!”

Com esses posts, o presidente dos EUA volta a se queixar sobre o Federal Reserve, que tem Jerome Powell no comando, ao acusá-lo de estragar os esforços de seu governo para melhorar a taxa de crescimento econômico.

Na quarta-feira, o FED decidiu manter as taxas de juros no intervalo de 2,25% a 2,50%, o que já era esperado pelo mercado. Mas também foi comunicado que não se descarta a possibilidade de flexibilizar sua política monetária caso a inflação continue em níveis toleráveis e a guerra comercial entre os EUA e a China não apresente nem agravamento.

O BC americano avalia o corte nos juros a partir de julho. Sua justificativa é que está pronto para enfrentar os crescentes riscos econômicos globais e domésticos, ao avaliar as tensões comerciais e seu ritmo crescente, além das preocupações com a inflação fraca.




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