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Estado de Minas

Retração deve bater recorde, indica FGV

Estudo indica que dificuldades do Brasil, de 2011 ao ano que vem, tendem a caracterizar pior década em 120 anos. Governo reconhece que recuperação do país foi interrompida


postado em 23/06/2019 06:00 / atualizado em 23/06/2019 08:24

Brasília – A recuperação da atividade econômica foi interrompida. Em comunicado público, após a última decisão de manter a taxa Selic, – que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência par as operações nos bancos e no comércio –, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) admitiu que a economia está estagnada. O primeiro semestre do ano é dado como perdido, porque falta confiança para investimento e consumo, que reflete na crise do comércio, de acordo com analistas de bancos e corretoras. Estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) tendo como parâmetro o período de 2011 a 2020 indica que o crescimento médio do Brasil será de apenas 0,9%. Se isso se confirmar — e as chances são grandes — será a pior década em 120 anos.
Ao logo desses 10 anos considerados no estudo, o país sofreu a maior recessão da história, com o Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços) caindo 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016. O desemprego disparou, o endividamento das famílias cresceu e o investimento na economia se retraiu. Analistas acreditavam que, após a crise, a retomada começaria a partir de 2017 e ganharia força nos anos seguintes, mas a previsão não se confirmou.

O Brasil nunca demorou tanto, como agora, para sair de uma recessão. O país cresceu 1,1% em 2017 e em 2018, mas o ritmo caiu neste ano, mesmo com a expectativa positiva do setor produtivo em relação ao governo de Jair Bolsonaro, que sinalizou uma guinada para políticas liberais, de desburocratização a reformas estruturais. A economia deve avançar 0,9% de acordo com previsão dos analistas do mercado financeiro, divulgadas no Boletim Focus, do BC.

O principal problema econômico do país hoje são as contas públicas, que estão no vermelho desde 2014. “A aprovação da reforma da Previdência é essencial para sinalizar em direção à solução da crise fiscal do país — que suporta dívida pública de quase 80% do PIB. “Esse ponto é tão importante, porque um ambiente macroeconômico estável e capaz de incentivar os investimentos e a produção só é possível com o equilíbrio das contas públicas”, ressalta o presidente do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Roque Pellizzaro Junior.

Todo ano, o governo gasta mais do que arrecada, aumentando a dívida pública. Levantamento de dados feito pela Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, aponta que o déficit fiscal só deverá ser eliminado em 2023. Ou seja, se a previsão se confirmar, o Brasil terá nove anos de rombo nas contas do governo. De acordo com analistas da economia, a explicação está na expansão dos gastos com aposentadorias e pensões.

Enquanto as despesas do governo federal cresceram quase 30% de 2014 para 2018, passando de R$ 1,05 trilhão para R$ 1,351 trilhão, o custo com o pagamento de benefícios previdenciários avançou 49%. Esses gastos têm consumido a maior parte do Orçamento federal, o que, na prática, reduz o espaço para aplicação de recursos em diversas outras áreas, como educação e infraestrutura. Como consequência, há cada vez menos dinheiro para investimentos públicos, o que também contribui para o desaquecimento da economia.

Ambiente de negócios O economista e professor Mauro Rochlin, da FGV, explica que a estagnação recente do PIB está relacionada à falta de confiança de consumidores e empresários. Para o especialista, até o momento o governo não conseguiu construir um ambiente de estabilidade fiscal, o que tende a ocorrer caso o Congresso Nacional aprove uma “boa” reforma da Previdência, com impacto significativo na contabilidade pública. “Se a reforma da Previdência for aprovada, o risco de o governo emitir moeda ou dar calote fica afastado. Isso é uma estaca importante”, diz. Porém, Rochlin afirma que o Palácio do Planalto ainda tem de se empenhar em medidas para maior liberalização do ambiente de negócios.

A reforma da Previdência é fundamental, mas não garante grandes taxas de crescimento. O país sofre também com profundos problemas de produtividade, além de ter uma complexa carga tributária e juros que atrapalham os negócios. Para atrair investimentos, será preciso uma ampla agenda de medidas para simplificar a vida de empresários do setor produtivo.

Rochlin explica que é difícil dizer quanto o país cresceria após a concretização da reforma da Previdência, mas ressaltou que tudo dependerá da força política do governo em implementar as mudanças necessárias. “Aprovada, haverá a possibilidade de que o Banco Central atue com taxas de juros bem menores, obrigando agentes privados a bancar investimentos no setor produtivo em busca de maior rentabilidade”, diz.

Emprego e renda marcam infelicidade 

Os analistas do mercado financeiro reduzem, há 16 semanas, as projeções para o crescimento do PIB deste ano. Nesse período, as perspectivas de expansão para 2019 recuaram de 2,48% para 0,93%. Roque Pellizzaro Junior, do SPC Brasil, observa que o PIB per capita, que é a divisão de tudo o que é produzido no país pelo total de habitantes, está em nível bastante inferior a 2014, período anterior à recessão, o que mostra que a população está mais pobre.

Estudo da FGV calculou que a “nota média” de felicidade do brasileiro nunca foi tão baixa como atualmente. O índice tem como base dados de renda e bem-estar trabalhista.

“A renda real do brasileiro vem se recuperando de forma bastante lenta. Apenas no final de 2017 ela voltou aos patamares anteriores à recessão de 2014. O desemprego, por sua vez, atinge mais de 13 milhões de brasileiros e a ocupação formal vem mostrando resultados modestos, enquanto o número de subutilizados (a parcela da população que trabalha menos do que poderia) tem batido recordes”, diz o estudo. O Banco Central prepara terreno para  reduzir a taxa Selic, de 6,5% ao ano. (HF)


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