(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Arthur Andersen muda de nome e cresce no Brasil

Empresa condenada por fraude fiscal no escândalo Enron está de volta sob nova marca. Com uma diferença: abandonou a área de auditoria para se especializar em consultoria tributária


postado em 12/02/2019 06:00 / atualizado em 12/02/2019 10:24

Sócios da ex-Pricewaterhouse&Coopers, Bernardo Oliveira e Leonardo Mesquita assumiram a tarefa de expandir a marca Andersen Tax no Brasil(foto: Divulgação)
Sócios da ex-Pricewaterhouse&Coopers, Bernardo Oliveira e Leonardo Mesquita assumiram a tarefa de expandir a marca Andersen Tax no Brasil (foto: Divulgação)

São Paulo – Dezoito anos depois do escândalo que abalou sua reputação de forma quase irreversível, a Arthur Andersen, agora com a marca Andersen Tax, lida com o desafio de crescer e ganhar clientes – e restabelecer a credibilidade que tinha até o começo dos anos 2000, quando foi condenada por fraude contábil.

A tarefa de expandir a marca no Brasil está nas mãos de Leonardo Mesquita e Bernardo Oliveira, que nunca trabalharam na antiga Arthur Andersen. Os dois foram sócios de uma concorrente, a PwC (ex-Pricewaterhouse&Coopers). Mesquita atuou por 25 anos na PwC; Oliveira, por 18. “É complicado não ter um histórico na empresa, porque afeta o networking”, diz Mesquita, que é sócio-diretor da Andersen para a América Latina. “Contamos com nossos contatos feitos na época da Price.”

O segundo capítulo da história da Andersen no Brasil começou em 2015. Na época, Mesquita e Oliveira já tinham deixado a PwC e estavam à frente da consultoria tributária Inovv, fundada em 2012. “No começo da crise econômica, buscávamos uma consultoria internacional para nos associar”, conta Mesquita. Numa pesquisa no LinkedIn, eles encontraram a Andersen. “Achamos o site da Andersen, mandamos um e-mail para o Mark Vorsatz (presidente da Andersen), que nos colocou em contato com o sócio responsável pela expansão da marca.”

"Se atuamos numa marca forte, ela, por si só, é uma garantia e uma proteção para o contratante, que se apoia na credibilidade da empresa. É por isso que, assim que nos tornamos Andersen, antigos clientes me ligaram pedindo reuniões"

Leonardo Mesquita, sócio-diretor da Andersen para a América Latina



O momento era propício. “Eles estavam planejando abrir um escritório no Brasil e buscavam parceiros”, diz Mesquita. A reunião foi em 9 de março de 2015. Em julho, o escritório em São Paulo já estava funcionando.

Atuar com a marca Andersen funcionou como uma chancela para o trabalho da antiga Inovv. “Tínhamos 16 clientes com a Inovv. Depois que viramos Andersen, passamos a ter 160”, diz Mesquita, que explica a diferença: “Uma marca poderosa é uma proteção para quem contrata. Quando eu era Inovv e entrava em contato com um antigo cliente dos tempos de PwC, ele me dizia que teria que convencer a matriz para me contratar. E, se houvesse algum problema, a responsabilidade pela contratação seria dele”, conta Mesquita. “Mas, se atuamos numa marca forte, ela, por si só, é uma garantia e uma proteção para o contratante, que se apoia na credibilidade da empresa. É por isso que, assim que nos tornamos Andersen, antigos clientes me ligaram pedindo reuniões.”

Reconstrução


Até o começo dos anos 2000, a Arthur Andersen era uma das firmas de auditoria com maior credibilidade no mercado global, fazendo parte do seleto grupo “big five”, formado pelas maiores do mundo no setor (sendo as outras a Deloitte, EY, KPMG e PwC). Em 2002, a Andersen foi condenada por fraude contábil num dos maiores escândalos empresariais dos últimos tempos – o caso Enron (leia abaixo), que levou milhões de investidores a perder fortunas.

Em 2005, a Suprema Corte Americana inocentou a Arthur Andersen das acusações. A absolvição chegou tarde demais. Em 2002, a marca havia sido dissolvida. Sua área de consultoria tributária havia sido comprada pelo banco HSBC e tinha novo nome: WTAS, da qual faziam parte 23 ex-sócios da antiga firma.

Em setembro de 2014, a WTAS anunciou a reconquista dos direitos sobre o nome Andersen e passou a se chamar Andersen Tax. Atualmente, conta com escritórios em 46 países da Europa, Ásia, África, Oriente Médio e Américas.

Para se dissociar da crise com a Enron, a Andersen Tax não atua na área de auditoria e é especializada em consultoria tributária. “Recomeçamos com uma nova marca porque o nome antigo remetia automaticamente à auditoria”, diz Mesquita.

A despeito da absolvição, a ligação com o escândalo é algo com que os sócios da Andersen têm de saber lidar. Mesquita conta que, ao se apresentar a um cliente em potencial como sendo a Andersen, é comum ser questionados obre a ligação com a antiga marca envolvida no escândalo. “Eles perguntam se temos algo a ver com a Arthur Andersen que teve problemas com a Enron”, diz. “Essa ligação é automática. E nós explicamos que houve um processo judicial e a firma foi inocentada.”

Novos escritórios


A nova Andersen passa longe do gigantismo que tinha. Segundo Mesquita, o número de funcionários somados em todos os escritórios, não chega a 5 mil. Em 2002, antes do fim da marca original, eram 85 mil. “Hoje, somos muito menores do que as outras ‘big4’”, diz Mesquita. “Mas estamos trabalhando para nos tornar uma firma de serviços profissionais como elas, sem a auditoria.”

No Brasil, são 80 funcionários, divididos entre a área tributária e legal, em escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. Há planos de abertura de escritórios em outras regiões, como Ribeirão Preto e Pernambuco. “Hoje a tecnologia permite o atendimento à distância”, diz Mesquita. “Mas o cliente quer a nossa presença. Ele gosta de saber que, se pegar o telefone e nos ligar, em 30 minutos ou duas horas estaremos reunidos pessoalmente.”

O plano é ir devagar. “Primeiro, vamos conseguir clientes e, havendo demanda, abrir escritórios”, afirma Mesquita. Por ora, a maior parte do faturamento vem de São Paulo (capital), mas muitos clientes estão no interior de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. “No futuro, seremos uma empresa de prestação de serviços profissionais que vai além da área tributária”, diz o executivo.

Como foi o escândalo  Enron


A americana Enron era uma das maiores empresas do mundo de distribuição de energia até um escândalo de fraude fiscal destruir a sua reputação e comprometer a sua sobrevivência. Em 2000, faturou cerca de US$ 100 bilhões e empregava 21 mil pessoas. Até que, em outubro de 2001, a empresa divulgou um prejuízo líquido de US$ 628 milhões, o que teria sido reflexo de uma despesa excepcional de US$ 1 bilhão.

O prejuízo motivou autoridades do mercado financeiro dos Estados Unidos a investigar a empresa. Logo, descobriu-se que a Enron maquiava os balanços, inflando os lucros e escondendo prejuízos. Pior: havia escondido débitos que chegavam a bilhões de dólares que deveriam aparecer no balancete, numa série de parcerias com empresas de fachada que eram comandadas por executivos do alto escalão da Enron.

A Arthur Andersen fazia a auditoria do balanço da Enron e foi acusada de conivência com o esquema ao aprovar os balanços apresentados pela companhia. A situação para a firma de auditoria se complicou quando ela admitiu ter destruído documentos que serviriam como prova do crime. Em 2005, a Andersen foi inocentada pela Suprema Corte.

Para complicar, o presidente da Enron, Kenneth Lay, era amigo do então presidente dos Estados Unidos George W. Bush, e próximo de integrantes do primeiro escalão do governo americano.

A quebra da Enron provocou enormes prejuízos a investidores. Funcionários viram o fundo de pensão mantido por eles ir à bancarrota com a empresa. Além do prejuízo financeiro, o escândalo provocou questionamentos na solidez e integridade do sistema financeiro dos Estados Unidos (o caso ocorreu antes da crise do subprime de 2008).

Uma das regras de ouro do mercado de ações americano diz respeito à equidade de informações: todos os investidores devem ter acesso aos mesmos dados – e as empresas precisam ser transparentes quanto às suas ações. Na época, o economista Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia, escreveu no The New York Times que o escândalo da Enron, e não o 11 de Setembro, seria visto como o grande divisor de águas na história da sociedade americana.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)