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Estado de Minas ENTREVISTA/SONIA HESS

'As mulheres precisam ser protagonistas das mudanças', diz empresária

Empresária fala da mobilização feminina e dos projetos para transformar a realidade do país


postado em 19/12/2018 06:00 / atualizado em 19/12/2018 08:47

(foto: DIVULGAÇÃO)
(foto: DIVULGAÇÃO)
São Paulo – A empresária catarinense Sonia Hess, de 59 anos, se tornou um ícone do empreendedorismo feminino nas últimas décadas. Como herdeira de uma modesta fábrica de camisas no interior do estado, ela construiu uma das marcas de maior sucesso do setor de moda do Brasil, a Dudalina, que acabou se transformando na maior camisaria da América Latina. Em 2013, Sônia vendeu a companhia para o grupo Restoque, mas manteve uma posição como acionista.

O negócio não significou a aposentadoria. Longe disso.

Irriquieta, Sônia partiu para outros projetos. Como não poderia deixar de ser para uma empresária bem-sucedida, ela mergulhou com afinco nas novas atividades – e que já são muitas. Além de ser vice-presidente do grupo Mulheres do Brasil, que luta para ampliar o protagonismo feminino na sociedade e que conta atualmente com 24 mil integrantes, Sônia é voz ativa em diversas iniciativas. Entre elas, a ONG Amigos do Bem, um dos maiores projetos sociais do Brasil, o Instituto Ayrton Senna, referência nacional em ações ligadas à educação, e a Fundação Dom Cabral, uma das melhores escolas de negócios da América Latina, onde está no conselho curador.

Na entrevista a seguir, Sônia detalha as ações ligadas a esses projetos e fala qual deve ser o papel das mulheres como agentes transformadores. Mas vai além. Ela diz o que espera do futuro governo Jair Bolsonaro e se revela uma otimista. “Vejo que o novo governo está bem-intencionado”, afirma. “Há um ambiente de esperança de que as coisas vão dar certo.” A executiva, porém, acredita que a sociedade civil precisa se mobilizar para ajudar o país a crescer. “Os empresários acordaram para a necessidade de todos fazerem a sua parte, sem depender de governo. A sociedade civil precisa – e deve – cobrar, mas a transformação está em nós mesmos.”

Quais são as perspectivas para o Brasil considerando que a partir de 1º de janeiro o país terá um novo presidente?
Vejo que o novo governo está bem-intencionado. Vamos torcer para que consiga fazer o que precisa ser feito. Acho que o Brasil vai ter um governo mais polêmico, que enxerga os problemas de forma diferente. Mas, seja qual for o ponto de vista, acredito que todos querem o melhor para o Brasil. Então, vamos ser protagonistas disso.

Qual será o papel da mulher no novo governo?
Não haverá nenhuma diferença no papel da mulher em relação a outros governos. O protagonismo da mulher não depende de governos. O Mulheres do Brasil é um movimento que não partiu de políticos A ou B. Somos nós as responsáveis pela mobilização da sociedade civil. Não vamos poder depender de governo para isso. A sociedade civil, principalmente as mulheres, está muito atenta e querendo um Brasil melhor. Queremos que a história seja mais bem contada. O governo tem um papel fundamental para a mulher, mas tem que governar para todos. Não deve haver uma distinção entre gêneros. Se tivermos um governo mais liberal, que governe para todos, sem olhar para qualquer característica diferente, estará de bom tamanho. Precisamos avançar. O que eu estou torcendo, de coração, é para que o próximo governo dê muito certo.
Na campanha, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, fez declarações polêmicas sobre o papel da mulher na sociedade e no mercado de trabalho. Isso representa um problema?
Acredito que todas as polêmicas têm ajudado a construir um Brasil para todos. Acho que este é nosso maior sonho, uma transformação. E essa transformação vai ser feita com o protagonismo da sociedade civil. Se a sociedade civil não se envolver, nós vamos perpetuar o Brasil que temos hoje, cheio de problemas, porque sempre ficaremos à parte. Temos de fazer parte da mudança.

Quais são as suas principais iniciativas para mobilizar a sociedade civil?
A iniciativa mais forte que nós temos é o grupo Mulheres do Brasil, do qual sou vice-presidente. Temos lá a premissa de que, independentemente de quem está no governo, as mulheres precisam ser protagonistas da mudança, com foco em tudo aquilo que o Brasil precisa ter. Olhando todas as causas que começam com educação, saúde, empreendedorismo, políticas públicas, cultura e várias outras frentes de transformação.


"Acho que o Brasil vai ter um governo mais polêmico, que enxerga os problemas de forma diferente. Mas, seja qual for o ponto de vista, acredito que todos querem o melhor para o país"




Além do Mulheres do Brasil, você participa de muitas outras atividades. Poderia destacar o tipo de trabalho que realiza?
A outra iniciativa da qual participo é o Amigos do Bem, um dos maiores projetos sociais do Brasil e do mundo. Trata-se de um projeto completo de transformação que tem 60 mil pessoas incluídas no sertão do Nordeste, com centros de transformação em Pernambuco, Ceará e Alagoas. Eu estou também na Endeavor Brasil, com foco no trabalho de incentivar o empreendedorismo e nas ações de alto impacto no Brasil. E há também o projeto Verde-Escola, que é uma escola em São Sebastião, no litoral paulista, numa região bastante complexa.

Você está ligada a outros projetos na área de educação?
Estou também no Instituto Ayrton Senna, que tem um modelo de educação do Brasil bem inovador. Acredito que, se a gente olhasse de perto o que o Instituto Ayrton Senna tem pronto como modelo de educação, seria possível mudar o Brasil em pouco tempo. Também estou na Fundação Dom Cabral, participando do conselho curador da melhor escola de negócios da América Latina e uma das melhores do mundo. Essas são algumas causas.

As causas sociais se tornaram sua nova meta de vida?
Sim. Tento devolver para a sociedade aquilo que ela me proporcionou, doar meu tempo para isso. Quando eu estava na Dudalina, já fazia mentorias, estava envolvida com várias causas porque na própria empresa a gente tinha um trabalho muito forte de cuidar das pessoas. Sempre falo que, para ser empresária, tem que gostar de gente, não de dinheiro. Quem não gosta de gente, nem pense em empreender. Então, eu já estava num ciclo de envolvimento. Estava com várias causas.

Você poderia detalhar melhor o que é o movimento Mulheres do Brasil e que tipo de transformação o grupo quer desencadear?
O movimento Mulheres do Brasil começou com 40 pessoas no final de 2011. Hoje em dia, nós já somos quase 24 mil mulheres. Meu sonho é que a gente chegue logo a 100 mil ou mais. Temos enorme representatividade e somos apartidárias. Também é importante dizer que não somos contra os homens. Na verdade, somos a favor das mulheres. Queremos ser protagonistas das mudanças que o Brasil precisa ter em todas as áreas. Acredito que só a sociedade civil unida e apartidária pode transformar o Brasil. Não adianta a gente achar que o governo vai transformar, vai fazer isso ou aquilo. Pode até fazer, mas não é assim que deve funcionar. Acho que ele é um meio e nós somos o caminho para conseguir isso. A gente tem que se unir, sem polemizar, mas temos que ser as protagonistas.


"O movimento Mulheres do Brasil começou com 40 pessoas em 2011. Hoje em dia, somos quase 24 mil mulheres"




Como que o setor privado tem contribuído com o terceiro setor?
As empresas estão acordando para o terceiro setor. É o setor mais importante no Brasil. É o que faz acontecer. Há no terceiro setor quem esteja fazendo um trabalho sério de educação, de luta por igualdade racial, de combate à violência contra a mulher. São bandeiras muito fortes, que devem ser abraçadas por toda a sociedade. As empresas que estiverem olhando para todos esses temas vai se destacar. Não dá mais pra você separar o que é empresa, o que é sociedade e o que é governo. Precisamos ser um ente só para ter um país melhor para todos. As empresas que despertam para isso com certeza alcançam melhores resultados financeiros e causam forte impacto dentro e fora do seu negócio. Quem não quer trabalhar numa empresa assim? Cada vez mais, as empresas estão se envolvendo legitimamente. Hoje vejo os empresários ativos, dispostos a participar, a lutar por um Brasil melhor.

Como está o ambiente de negócios no Brasil?
Há um ambiente de esperança de que as coisas vão dar certo com as novas ideias propostas pelo futuro governo. Mas, com certeza, os empresários também acordaram para a necessidade de todos fazerem a sua parte, sem depender de governo. A sociedade civil precisa – e deve – cobrar, mas a transformação está em nós mesmos. Somos um país democrático, talvez um dos países que têm a melhor condição de crescimento do mundo.


"O governo tem um papel fundamental para a mulher, mas tem que governar para todos. Não deve haver distinção entre gêneros"




Você sente falta do período em que era uma das empresárias mais atuantes e bem-sucedidas do país?
Para falar a verdade, não. São dois mundos diferentes. Foi um tempo maravilhoso, lindo, espetacular, mas agora tenho outro. Saudade do dia a dia não tenho. Hoje, minha rotina é muito diferente. Eu tinha uma empresa para tocar. Agora tenho muitas coisas para participar. Com certeza, são duas épocas diferentes, e as duas foram importantes e continuam sendo inspiradoras, cada uma à sua maneira.

Que estratégias empresariais você adota nos projetos do terceiro setor?
Cada aprendizado de vida é valioso. A gente aprende o tempo todo, a vida é um eterno aprendizado. Então, tudo que aprendi como empresária me conduz e me inspira nas atividades que realizo, e levarei isso comigopara sempre.

 

 


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